A tradicional manifestação dos Penitentes de Juazeiro, transcorrida até domingo (8), na Semana Santa, completou 112 anos. Foram realizadas demonstrações públicas de lamentação na intenção de legitimar o ato religioso como o mais tradicional e importante do Vale do São Francisco, no qual a entrega e a disciplina em manter viva a fé na salvação das almas é passada de geração a geração.

Os três ‘cordões’ de procissões dos Penitentes foram formados por idosos, adultos e crianças. A procissão acontece durante a escuridão noturna e percorre as ruas da cidade. O branco dos lençóis encobriu o corpo dos participantes e o guia – conhecido como madeiro – carregou a cruz. Juazeiro fica a 500 km de Salvador e está no nordeste baiano, em frente à cidade pernambucana de Petrolina, ambas às margens do Rio São Francisco.

A programação aconteceu todos os dias da semana. Na sexta-feira, as procissões se encontraram no cemitério para cumprimento do ritual com cordões de São Francisco à cintura, levando velas ou incensários a mão. As sete paradas do percurso da Via Sacra foram marcadas por matracas, que são peças de madeira com uma plaqueta ou argola que se agitam em torno de um eixo fazendo muito barulho.

A procissão seguiu para a casa dos fiéis cumprindo suas promessas e o cortejo foi até a madrugada. A força da crença foi demonstrada pelos participantes através da dedicação e fé. Os fiéis cantaram e rezaram ladainhas, benditos e pagaram suas penitências com sacrifícios, jejuns e orações.

A celebração acontece anualmente desde a quarta-feira de cinzas até a sexta-feira santa católica. Ocorre ainda nas quartas e sextas-feiras da Quaresma, cumprindo 40 dias e 40 noites. Na semana da Páscoa realizam todos os dias. Participam dois grupos de fiéis diferenciados, as ‘alimentadeiras’ e os ‘disciplinadores’ ou ‘penitentes’. Eles reproduzem a Via Sacra, acendem velas e queimam incenso em favor das almas que sofreram mortes súbitas e permaneceram penando no purgatório.

"O Penitentes é uma manifestação religiosa muito reclusa, na qual os participantes usam indumentárias cobrindo o rosto e participam de rituais nos quais apenas eles podem presenciar, a exemplo dos disciplinadores que ferem o próprio corpo como penitência", informa Luiz Hélio, assessor da secretaria municipal de Cultura. Para o prefeito de Juazeiro, Isaac Cavalcante, existe maior dinamismo do comércio de produtos religiosos durante a quaresma. ‘Os ‘Penitentes’ é a maior e mais tradicional manifestação da região, promovendo a cidade, afirma Cavalcante.

Em abril de 2011, técnicos do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (IPAC), da Secretaria de Cultura do Estado (Secult), acompanharam o cortejo gravando vídeo-documentário totalizando 25 horas, com entrevistas que depois compõem dossiê a ser encaminhado para a análise do Conselho Estadual de Cultura (CEC). A expectativa da comunidade local é que a manifestação, iniciada em 1901, se torne um Patrimônio Imaterial. "O registro dos Penitentes como bem intangível contribuirá para manter a tradição", diz o prefeito Cavalcante.

Outras informações sobre os Penitentes e o dossiê são fornecidas pela Gerência de Patrimônio Imaterial (Geima) do IPAC através do telefones (71) 3116-6741 e 3116-6828, ou via internet.