A chuva do último final de semana em Irecê não foi suficiente para melhorar a vegetação e boa parte da paisagem permanece seca em virtude da longa estiagem. Para quem trafega pelas estradas da região, não é difícil se deparar com plantações inteiras perdidas e animais mortos. Vivos, apenas os cactos resistentes à extrema falta d’água e os urubus que se aproveitam de animais debilitados sem condição de sair em busca de alimento.

Apesar do estado de desolação em decorrência da seca em muitas áreas da região, um pequeno pedaço de chão, no Território de Identidade Irecê, parece estar longe de sofrer os efeitos econômicos e sociais da estiagem. No Assentamento Morro do Higino, no município de Jussara, 24 pequenos produtores, entre eles, Antônio Gonçalves de Araújo Neto, se organizaram, criaram uma associação e utilizam a irrigação para produzir alimentos de boa qualidade e fácil comercialização, como milho, melancia, feijão de corda, pinha, girassol e hortaliças.

“Temos aqui uma área muito produtiva, mas como não choveu, procuramos uma forma de sobreviver. Estamos tirando a sobrevivência do poço que abastece as nossas casas, dar água para os animais e fazer a irrigação”, disse Antônio, que vive com a esposa e dois filhos na localidade.

Kits irrigação

O Assentamento do Higino é uma das 25 comunidades da zona rural de Jussara contempladas com kits de irrigação fornecidos, em regime de comodato, pela Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA). Os produtores receberam 600 metros de tubo, cinco mil metros de mangueira santeno (achatada) e três mil metros de mangueira de gotejamento.

A montagem do equipamento foi realizada em fevereiro e, além do material, a EBDA disponibiliza dois técnicos em agropecuária e um veterinário para acompanhamento das atividades. Conforme o técnico da empresa, Aurino Barbosa de Oliveira, as orientações vão desde a forma correta de adubação, plantio, até o gotejamento (irrigação) dos três hectares de área plantada.

“Geralmente, vimos ao assentamento a cada oito ou 15 dias ou quando surge alguma demanda, a exemplo de mudança de tubulação, eles entram em contato e a gente vem dar a assistência”, afirma Aurino. Atualmente, os membros da associação utilizam água de dois poços que têm capacidade para fornecer 62 mil litros por hora.

Antônio Gonçalves observou que, por não haver previsão de chuva para os próximos meses na região, a associação faz o uso consciente da água. “Pensamos no amanhã. Não adianta a gente ter tudo hoje, jogar a água toda pra fora e amanhã sentir falta. A gente não sabe quando vai chover. Procuramos fazer uma cultura com mais dignidade e preservação do poço, pois sem a água que sai dele, não somos ninguém”. Toda a produção obtida com o processo, é consumida pelas famílias do assentamento ou comercializada na feira de Jussara.