“Ela é uma das maiores e mais bonitas baías do mundo, com espaço para mais de dois mil navios”. Com essas palavras, o engenheiro francês François Froger (1676-1715) tentou definir – no relato Relation d’un Voyage Fait en Brésil – a beleza, amplitude e importância da Baía de Todos-os-Santos, quando chegou a Salvador, em 1698.

Mais de 300 anos depois, as águas da baía continuam deslumbrando visitantes e até mudando a vida de pessoas que habitam ou trabalham nas suas margens. É o que está acontecendo com moradores da Comunidade do Unhão, surgida com pescadores que moravam vizinhos ao Forte de São Paulo e o Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA), no Solar do Unhão.

“Esta é a primeira vez, em toda a minha vida, que visito uma exposição neste museu, vizinho da minha casa”, diz a moradora Ana Lúcia de Jesus, 72 anos. A ideia de aproximar as comunidades das redondezas e o museu é do projeto ‘Linha do Abraço’, do Núcleo de Arte Educação do MAM.

“Visamos comunidades previamente contatadas para aproximar o museu delas, recebê-los e realizar visitas guiadas para quem nunca frequentou uma exposição”, explica a coordenadora do núcleo, Roseli Amado. O projeto busca parcerias entre o museu, outras instituições privadas e públicas, além de organizações não-governamentais com fins de responsabilidade social.

Especialmente neste ano, segundo Roseli, aconteceu mais do que o previsto. “As representantes da comunidade, que vieram visitar o museu, são igualmente parte integrante da exposição ‘Estranhamente Possível’, em cartaz, gratuitamente, até 22 de julho”.

Artistas e lavadeiras

Os videoartistas Mauricio Dias (carioca) e Walter Riedweg (suíço) que estão com trabalhos expostos no museu, decidiram durante a residência artística realizada em janeiro deste ano, em Salvador, filmar e gravar depoimentos de lavadeiras dessa comunidade, integrando-as a um trabalho inédito ao qual deram o nome de ‘Água de chuva no mar’.

Um das atrações da exposição, o núcleo educativo convidou as lavadeiras para visitar a mostra e realizar palestra voltada para crianças e adolescentes. No primeiro encontro, na quinta-feira (14), compareceram 15 crianças, entre 5 a 16 anos. Além disso, foram promovidas oficinas educativas para 40 adolescentes. Os encontros acontecem no Pátio das Mangueiras e Galpão das Oficinas.

As lavadeiras contaram das suas experiências de vida pessoal e profissional. “Fiquei muito feliz de fazer parte desse trabalho. Hoje, olhando o mar de perto, daqui do museu, vi o movimento da água, com a qual trabalho todos os dias, e como ela é cristalina, bonita e nos dá vida”, diz a lavadeira da comunidade Unhão, Ana Lúcia de Jesus.

Ela afirma que a experiência com os artistas Dias&Riedweg foi um momento único na vida dela, proporcionando “uma lembrança maravilhosa e da qual estou falando agora para essas crianças”. Para Claudia Rodrigues, 30 anos, mãe de Fabrício, 9, e Juliana, 7, as oficinas foram muito proveitosas. “É maravilhoso poder contar com o MAM-BA para complementar a educação dos meus filhos, sem contar que eu também aprendi muito”.