Colégio estadual recebe prêmio nacional por trabalho com estudantes autistas

O Colégio Estadual Raphael Serravalle recebeu em Brasília o Prêmio Orgulho Autista 2011/2012 nas categorias diretor e escola destaque. A instituição de ensino regular, localizada no bairro da Pituba, em Salvador, têm, atualmente, incluídos em classes regulares, além de dois estudantes autistas, 68 estudantes surdos e outros com baixa visão, Transtorno Global do Desenvolvimento e déficit de atenção. A solenidade de entrega aconteceu na quarta-feira (20), no auditório da Rádio Nacional.

Os resultados positivos estimulam a equipe gestora, professores, estudantes e pais a ajudarem no fortalecimento da Educação Inclusiva, oferecendo a essas pessoas a oportunidade de frequentar a escola que, por excelência, é o espaço primordial para desenvolver e exercitar a cidadania.

“A escola é um espaço de socialização, onde aprendemos a ser gente. É o ambiente que primeiro nos proporciona lidar com o desconhecido”, explica o diretor da Associação dos Familiares e Amigos da Gente Autista (Afaga), o geólogo Argemiro Garcia. Ele e sua esposa já enfrentaram dificuldades para matricular, na rede particular, o filho Gabriel, que é autista e, hoje, aos 19 anos, cursa a 6ª série do ensino fundamental no Serravalle.

“Passamos cinco anos tentando. As escolas particulares negaram a matrícula do Gabriel ou mesmo, depois de um ano, alegaram que não tinham condições de permanecer com ele”, diz Argemiro. A falta de sucesso com as escolas regulares levou os pais a matricular o garoto em uma escola especial, mas o resultado não foi satisfatório.

“Quando você põe uma criança na escola é para que ela desenvolva habilidades de ser humano, de cidadão. A escola especial não tinha programa de progressão e nós só desenvolvemos quando somos apresentados aos conflitos. A criança não podia passar anos pintando o mesmo desenho”, enfatiza Argemiro Garcia.

Unidade é referência para Educação Especial no estado

Em meio à busca por uma escola que proporcionasse a Gabriel avanços no processo de socialização e comunicação, que, caracteristicamente, tornam-se mais difíceis para o autista, os pais conheceram o diretor do colégio, Ramilton Cordeiro, que convidou a família a conhecer a escola. Isso foi há quatro anos e, até então, o colégio não havia trabalhado com estudantes autistas, apesar de ser uma referência para a Educação Especial no estado.

Segundo ainda Garcia, a proposta animou muito o casal. “Matriculamos o Gabriel e juntos estamos revendo e construindo conceitos. Está sendo fantástico. O Serravalle olhou para o Gabriel, para as suas diferenças, e o acolheu. Ele está sendo entendido de uma forma melhor, tendo suas condições respeitadas e desenvolvendo seus valores como cidadão”. Ele diz que o filho está se preparando para tirar o título de eleitor e votar nas próximas eleições.

Prêmio Diretor Destaque

Foram justamente a dedicação e os resultados do trabalho desempenhado pela equipe de profissionais do colégio que levou o pai de Gabriel a indicar o diretor Ramilton Cordeiro e o Serravalle para concorrer ao prêmio. A indicação foi uma surpresa para o diretor, mas ele admite que o sucesso do trabalho é gratificante. “O prêmio vem reconhecer o nosso empenho para receber bem a todos os que procuram a escola. Nós não podemos e nem queremos negar atendimento. Gabriel é uma conquista e mostra que a escola pública conta com profissionais qualificados e pode desenvolver bem um trabalho diferenciado”.

Sobre o comportamento de Gabriel, Cordeiro avalia que “ele demonstra se sentir melhor dentro da sala de aula do que quando chegou. É menos inquieto, aprende e interage mais”. O Raphael Serravalle também matriculou, este ano, Pedro, o segundo estudante autista da instituição. As expectativas continuam sendo as melhores.

Dia Mundial

O Prêmio Orgulho Autista, que celebra o Dia Mundial do Orgulho Autista, comemorado em 18 de junho, é concedido pelo Movimento Orgulho Autista Brasil (MOAB), desde 2005. O evento destaca pessoas, órgãos e entidades que trabalharam pela melhoria da qualidade de vida das pessoas autistas. Durante a realização dos encontros, pais, familiares, amigos, especialistas, professores e outras pessoas interessadas no tema autismo trocam experiências, apresentam novas informações e, principalmente, relatam e debatem sobre suas vivências com filhos, conhecidos ou familiares autistas.