Pinturas originais do século XVIII de dois altares da igreja matriz de Bom Jesus de Piatã, cidade da Chapada Diamantina, localizada a 572 quilômetros de Salvador, foram redescobertas por restauradores do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac), autarquia da Secretaria de Cultura do Estado (Secult).

“São duas peças entalhadas em madeira umburana, com 17 metros quadrados, sendo 6,5 centímetros de altura por 2,65 centímetros de largura, que têm mérito excepcional pela originalidade”, explica a coordenadora de Restauro de Elementos Artísticos (Cores) do Ipac, Milena Tavares. Segundo ela, o atual desenho na talha em madeira foi pintado grotescamente, mas a pintura original, de cerca de 250 anos, se revelou graças ao trabalho criterioso da equipe de restauro do órgão.

Os trabalhos em Piatã começaram em abril e devem ser finalizados até o final deste ano. “Ao retirarmos o altar de madeira, descobrimos que existia outro por trás, em alvenaria e com decoração em alto relevo”, conta Tavares. Na prospecção, os restauradores Bruno Visco e João Magalhães descobriram ainda a pintura original com vestígios de douramento, que recebeu várias pinturas ao longo dos anos, recobrindo a criação original. Os técnicos do Ipac fazem agora a remoção das repinturas, emassamento, reposição de partes faltantes e imunização.

A igreja de Piatã está sob tombamento provisório pelo Estado e por isso o Ipac está envolvido na ação em parceria com a paróquia local. “O órgão disponibiliza mão de obra especializada, material artístico, equipamentos de segurança e formação de ateliê, enquanto a paróquia cedeu madeiras e logística local”, comenta a coordenadora do Ipac.

Barroco popular

Segundo a subgerente de Restauro, Káthia Berbert, os altares têm características em estilo barroco popular, bem raro no Brasil. “Os elementos são diferentes dos existentes nas igrejas barrocas do país, a exemplo da Igreja do São Francisco, que tem barroco monumental”, diz Berbert.

Ainda na Chapada, o Ipac desenvolve com o Departamento de Antropologia da Universidade Federal da Bahia o Projeto ‘Circuitos Arqueológicos’ que promove a criação de roteiros para o desenvolvimento sustentável da região a partir dos patrimônios materiais e imateriais, como imóveis seculares e tombados, bens ambientais e paisagísticos, e sítios de pinturas rupestres. Na região, o órgão tombou o Instituto Ponte Nova, o Grace Memorial Hospital e a Igreja Presbiteriana da cidade de Wagner, o centro histórico de Iraporanga e registrou como patrimônio intangível o Ofício dos Vaqueiros.