Caminhar pelas ruas de Fazenda Coutos, no subúrbio de Salvador, era um hábito que a dona de casa Cremilda Martinha havia abandonado, por causa do tráfico de drogas. A tranquilidade de circular no bairro, onde vive há mais de 20 anos, voltou em janeiro, com a chegada da Base Comunitária de Segurança, equipamento fundamental para o sucesso do Programa Pacto Pela Vida.

Desde então, 120 policiais trabalham para garantir a segurança da população. O policiamento ostensivo é associado a ações sociais junto à comunidade. Dona Martinha, por exemplo, participa das aulas de educação física e, três vezes por semana, atravessa algumas quadras andando para ir até um centro comunitário fazer ginástica.

“Não imaginava que a polícia fosse chegar aqui, resolver o problema da segurança e ainda ajudar desse jeito, com essas atividades. É maravilhoso para mim, que ficava em casa, nem saía. Agora, tenho uma ocupação, uma hora pra encontrar com as amigas, fazer ginástica. Cada vez que venho aqui, ganho um dia de vida”, disse a dona de casa.

Karatê

Em outro ponto do bairro de Fazenda Coutos, os jovens têm aulas de karatê. O curso é gratuito e oferecido pela base comunitária de segurança, em parceria com uma associação de moradores, que cede o espaço. As aulas são ministradas por dois soldados que idealizaram o projeto e, hoje, além da farda, usam kimono e atendem mais de cem alunos.

“A gente viu a necessidade de uma ação social que ajudasse a aproximar a base da comunidade e eu tinha vontade de colaborar com mais do que a ação ostensiva”, afirmou um dos professores, Alisson Guimarães. Ele conta que fez o projeto, que foi aprovado pelo comando. “Nós estamos aqui dando nossa contribuição para melhorar a vida dessas crianças. Elas trocaram a rua pela academia e também o risco de contato com um marginal, por uma aula de karatê com um policial”, comemora.

Equipamentos reduzem índices de violência

A redução da violência alcançada pelas bases comunitárias de segurança varia de bairro para bairro, mas a média é uma diminuição de mais de 50%. Locais onde a criminalidade tinha grande influência, hoje são controlados pela polícia e voltaram a ser frequentados pela população.

“As pessoas saíram de suas casas, ganharam confiança para andar em qualquer lugar e a qualquer hora. Melhorou até a relação dos moradores com os vizinhos”, afirma a cozinheira Eliane Brasil, moradora de Rio Sena, uma das comunidades que recebeu uma base comunitária de segurança em Salvador. “Antes, quando a polícia chegava, todo mundo corria. Hoje, a nossa relação com eles é outra”.

De acordo com o coronel Zeliomar Volta, além da parceria com as comunidades, o Programa Pacto Pela Vida conta com o apoio de todas as secretarias do Estado. “Temos um conceito de gestão integrada, onde todos os órgãos do governo se voltam para melhorar as condições de vida do cidadão”, destaca. Segundo o coronel, a base entra justamente na união ente ações de segurança, ações sociais e políticas públicas. “Por isso estamos tendo esses resultados, o que aumenta a sensação de segurança, incrementa o comércio e melhora a qualidade de vida da população”.

Segurança na capital e municípios do interior

O Governo do Estado, por meio da Secretaria de Segurança Pública (SSP), já instalou dez bases comunitárias de segurança, sete em Salvador, uma em Lauro de Freitas, na região metropolitana, e duas no interior, em Feira de Santana e Itabuna. Nas comunidades atendidas, a parceria com a população e organizações não governamentais é essencial para reduzir a violência e proporcionar inclusão social.

Além de atividades físicas, são oferecidas programações recreativas em datas especiais, como o dia das crianças, cursos de informática e de profissionalização em diversas áreas. Cada unidade conta, por exemplo, com um Centro Digital de Cidadania, composto por no mínimo dez computadores ligados a internet e com banda larga, onde os moradores podem fazer curso de informática básica, acessar a rede e fazer trabalhos escolares. Só no bairro de Fazenda Coutos, o trabalho de inclusão digital já atendeu cerca de 700 moradores.