Doença caracterizada pelo aumento anormal do açúcar no sangue, o diabetes é silencioso e, muitas vezes, demora a ser identificado. Este foi o caso de Maria de Lourdes Bispo, que só soube do problema aos 60 anos. “Há quatro anos, soube que tinha a doença e fui parar em uma emergência hospitalar. Meu açúcar estava muito alto e eu não tinha ideia do que fazer. Hoje, faço tratamento no Cedeba, pratico exercícios e tenho uma vida normal”.

Para chamar a atenção da população sobre a doença, o Centro de Diabetes e Endocrinologia (Cedeba) promove a Semana Azul, dentro do Dia Mundial do Diabetes (14 de novembro). O centro faz também um alerta para os casos em crianças, pois os sintomas podem se agravar rapidamente.

Mais de 75 mil pessoas fazem acompanhamento no Cedeba, que realiza cerca de mil atendimentos por dia. Para a diretora do centro, Reine Chaves, quanto antes a doença for identificada, melhor. “Nas crianças, se manifesta de forma rápida. Elas perdem peso e podem ter o pâncreas destruído, quando precisarão usar insulina para normalizar a situação. Nos adultos, o diabetes vai surgindo devagar, e muitas vezes não temos o diagnóstico de forma imediata. Por isso precisamos alertar a população sobre os problemas de ter uma doença mal controlada”. Ainda segundo Reine Chaves, o Ministério da Saúde informou que 5,7% da população baiana tem diabetes.

Os pacientes atendidos no ambulatório infanto-juvenil do Cedeba contaram nesta quarta-feira (14) com atividades lúdicas e recreativas. Também foram realizadas no centro medição da glicemia, distribuição de cartilhas sobre alimentação saudável para portadores e exibição de vídeos. Uma novidade foi o lançamento do cartão para diabéticos, onde podem ser colocadas informações que facilitam a identificação do paciente, em caso de acidente.

Avanço no tratamento

O Dia Mundial do Diabetes na Bahia foi marcado também por importante avanço na assistência aos portadores da patologia: a assinatura, pelo secretário da Saúde, Jorge Solla, da portaria que institui o protocolo técnico para a dispensação dos análogos da insulina de ação basal e ultrarrápida, medicamentos de alto custo indicados para pacientes que têm dificuldade para manter a glicemia sob controle com o uso de insulina comum.

Segundo Solla, o protocolo técnico que deu origem à portaria é muito importante, por possibilitar ao SUS a incorporação de novas tecnologias, além de representar ganho no controle do diabetes. “Mas os análogos da insulina exigem uso racional e por isso terão o controle técnico de profissionais do Cedeba e da Diretoria de Assistência Farmacêutica da Secretaria da Saúde”.

Ainda de acordo com o secretário, a portaria representa mais um avanço no tratamento da doença. Atualmente, quase 50 mil pacientes crônicos recebem medicamentos através do programa Medicamento em Casa (Medcasa) e, deste total, oito mil são diabéticos.

O trabalho do Cedeba, com foco na educação, vem conseguindo respostas positivas de pacientes. Anita Honorata da Rocha Neto, mãe de Gabriel, oito anos, diabético desde os dois anos e meio, demonstra muita consciência sobre o diabetes. “A doença não tem cura, mas tem controle”, definiu. Satisfeita com o atendimento que o filho tem no centro, disse que o Cedeba tem “um trabalho excelente”.

Situação no país

Levantamento divulgado terça-feira (13) pelo Ministério da Saúde aponta para a estabilização das internações decorrentes do diabetes. Foram registradas, em média, 72 mil hospitalizações nos primeiros semestres dos últimos anos (2010 a 2012). O ministro Alexandre Padilha declarou que este avanço se deve às ações desenvolvidas pelo ministério, entre elas, a ampliação do acesso a medicamentos gratuitos.

Uma estatística preocupante é apontada pelo levantamento: a doença mata quatro vezes mais do que a Aids e supera o número de vítimas do trânsito. Em 2010, 54 mil brasileiros morreram em decorrência do diabetes, enquanto 12 mil óbitos foram ocasionados pelo vírus HIV e 42 mil mortes foram registradas por acidentes de trânsito em todo o país.

Este número seria ainda maior, se considerado que o diabetes age como fator de risco para várias outras doenças, como o câncer e as cardiovasculares. O diabetes esteve, em 2010, associado a outras 68.500 mortes, o que totaliza 123 mil pessoas mortas direta ou indiretamente.