Milhares de fiéis, entre turistas e moradores da cidade, adeptos do catolicismo e do candomblé, a maioria com trajes vermelhos ou brancos, ocuparam o Pelourinho na manhã desta terça-feira (4) para saudar Santa Bárbara, no sincretismo religioso identificada ao orixá Iansã, deusa dos raios e das tempestades.

A parte religiosa da festa foi marcada por uma missa campal, celebrada pelo padre Gabriel dos Santos Filho, pároco da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, e procissão, que percorreu as ruas do Centro Histórico e a Baixa dos Sapateiros, onde está localizado o mercado que leva o nome da santa. A celebração abre o calendário de festas populares e religiosas de Salvador.

A cantora Maria Bethânia, acompanhada da irmã, a escritora Mabel Veloso, participou das comemorações e apareceu na sacada do Museu da Santa Casa de Misericórdia durante a passagem da procissão com o andor de Santa Bárbara. Foi no mesmo momento em que houve uma parada para a saudação feita por intermédio dos sinos da igreja da Misericórdia.

Homenagem dos soldados

Em seguida, o cortejo seguiu até o quartel do Corpo de Bombeiros, na Praça dos Veteranos, onde houve uma chuva de pétalas de rosas brancas e todas as sirenes foram acionadas em homenagem à padroeira dos soldados do fogo e dos mercados.

Alguns momentos marcantes deram o tom da festa, como o espetáculo visual da maioria dos fiéis em trajes na cor vermelha, alguns com rosas vermelhas, santinhos e fitas nas mãos. Também a presença de muitas baianas caracterizadas – Patrimônio Imaterial da Bahia, a exemplo da Festa de Santa Bárbara, tombada em 2008.

Celebração na igreja do Rosário dos Pretos ao som do ritmo ijexá

Destaque para a missa embalada ao som de músicas religiosas católicas em ritmo de ijexá, marcadas por atabaques, agogôs e caxixis, cantadas pelo coral da Irmandade do Rosário de Nossa Senhora às Portas do Carmo (Irmandade dos Homens Pretos), e a entrega de acarajés e cocadas por baianas durante o rito do ofertório.

A turista Márcia dos Santos, de São Paulo, filha do terreiro Ilê Axé Vodum Azanadu, da nação Ketu, trouxe da sua cidade uma imagem de Santa Bárbara de propriedade do terreiro. Segundo ela, 20 pessoas integram o grupo que há sete anos visita Salvador com o objetivo de participar dos festejos. “Trazemos os pedidos e agradecimentos dos irmãos que não podem vir”. Para ela, “é uma festa contagiante”.

Outra turista paulista, a administradora Elaine Ferreira, 33 anos, acompanhada do marido Lúcio Ferreira, 34, embora já tenha visitado Salvador duas vezes, pela primeira vez participava da festa. Segurando firmemente uma pequena imagem, elogiou a beleza da celebração. “É muito bonita, fonte de cultura, onde o candomblé e o catolicismo se encontram. O bonito da Bahia é isso – tudo se mistura sem preconceitos”.

Durante a homilia, padre Gabriel falou sobre a vida da santa católica, destacou sua humildade e disponibilidade para perdoar “os preconceituosos e inconvenientes”.

Alvorada

A festa religiosa, aberta com uma alvorada de fogos de artifício às 5h, começou pontualmente às 9h, quando a pequena procissão levou a imagem de Santa Bárbara da Igreja do Rosário dos Pretos até o altar montado defronte à Casa de Jorge Amado, ambas atrações históricas e culturais do Pelourinho.

Dona Nolair Bonfim, uma das mais antigas integrantes da Irmandade dos Homens Pretos, representou a instituição no rito do ofertório, carregando o pão.

Logo após a missa, andores enfeitados foram levados pela Rua Alfredo de Britto, Terreiro de Jesus, Praça da Sé, Rua da Misericórdia, Praça Municipal, Praça dos veteranos, Rua JJ Seabra, retornando ao Pelourinho.

Após a festa religiosa, a popular prosseguiu no Largo do Pelourinho, ruas do Centro Histórico e no Terreiro de Jesus, onde foram armadas barracas de comidas e bebidas típicas. Também terá shows nos largos e praças do Pelourinho e no Terreiro de Jesus, à noite.