A Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA), vinculada à Secretaria da Agricultura (Seagri), reconhece a importância da cultura da araruta, e por isso, desde 2008, promove a revitalização do seu cultivo, com produção de mudas, dias de campo, palestras e cursos para manutenção da lavoura no recôncavo baiano. O objetivo da empresa é resgatar a cultura dessa planta, originária das regiões tropicais da América do Sul, que está em via de extinção. Só em 2012, foram capacitados mais de 150 agricultores familiares de Cruz das Almas, e distribuídas aproximadamente 2.500 mudas de araruta, produzidas pela EBDA.

Segundo o engenheiro agrônomo da EBDA, Jorge Silveira, a empresa ensina aos agricultores familiares, técnicas de cultivo da planta, preparação do solo, processamento, uso medicinal e comercialização, além de incentivar a organização de produtores em cooperativas e associações.

“A araruta é uma cultura milenar, genuinamente brasileira, que se encontra em vias de extinção. O nosso empenho é para que ela volte a ser conhecida pela população e produzida em grande escala; atualmente é consumida por chefes de cozinha, amantes da culinária e pessoas com intolerância ao glúten”, diz Silveira.

Histórias como a do agricultor Raimundo da Cruz Santos, apelidado de Braço Preto, do município de São Felipe, não são raras. Ele começou a ter orientação no cultivo da araruta, em 2009, quando recebeu 22 mudas da planta, e, na atualidade, é um dos maiores produtores, com uma área plantada de 10 tarefas, já comercializando a fécula.

“Antes eu não produzia a araruta. Só depois, quando recebemos a orientação técnica da EBDA. Com toda informação de como plantar, adubar, colher, processar e comercializar é que me convenci a cultivar e não me arrependo; só tenho a agradecer”, explica Raimundo.

Para se ter uma ideia, cada 100 quilos de araruta são suficientes para a produção de cerca de 20 quilos de fécula. Hoje, além de ser difícil encontrar o verdadeiro polvilho de araruta, é raro até mesmo quem cultive a planta. Por isso, se torna um bom negócio para quem está produzindo. O preço de mercado do produto varia entre R$ 15 a R$ 20 o quilo, justamente por não haver uma produção em larga escala.

Pediatra recomenda para quem tem intolerância ao glúten

A fécula da araruta é considerada um alimento de fácil digestão e utilizada no preparo de mingaus, bolos e biscoitos. Também é usada na recuperação de idosos, crianças ou adultos com debilidade física, no combate a problemas pulmonares, queimaduras de sol, dores e picadas de cobras e mosquitos.

Aos quatro meses de vida, Daniel, filho da subchefe do Serviço de Laboratórios e Classificação de Produtos de Origem Vegetal da EBDA, Graciele Siering, apresentou diagnóstico de refluxo e teve que tomar remédios. Após instruções do pediatra, Antônio Sturaro, a Graciele passou a inserir o mingau de araruta na complementação alimentar do bebê, e com três dias de tratamento a criança não apresentava mais os sintomas de refluxo – passou a ganhar peso e foi suspenso o uso dos remédios.

O médico Antônio Sturaro, pediatra que trabalha em Salvador, é profundo conhecedor da araruta. “A fécula da araruta é fina e delicada, por isso, receito minha clientela com problemas digestivos e restrições alimentares ao glúten”, afirma o pediatra.

O diferencial, em comparação com o trigo e a mandioca, é que a araruta é um produto natural, leve e sem glúten, uma coisa boa para pessoas que possuem intolerância ou reações alérgicas a essa proteína. O processo de produção é o mesmo da mandioca, que tem sua fécula ou goma retirada com 12 meses de plantada.