O deslocamento de bairros periféricos de Salvador é comparado a uma “via crucis” para quem estuda ou trabalha na Orla Atlântica da capital baiana. Se o único meio para chegar ao local for utilizar o transporte público, o trajeto pode demorar mais de duas horas. Esta é a realidade vivida por milhares de baianos atualmente.

O web designer Ivan Matos, 27, morador de Periperi, por exemplo, precisa se deslocar com frequência até a região da Pituba. Para chegar ao seu destino, ele percorre a Avenida Suburbana, estrada do Derba, BR-324, Retiro, Rótula do Abacaxi, Iguatemi, Imbuí e Costa Azul para, finalmente, chegar à Avenida Manoel Dias, na Pituba.

Após a conclusão dos corredores transversais, obras autorizadas pelo governador Jaques Wagner nesta quinta-feira (27), a vida de baianos como Ivan vai ganhar um novo capítulo, com a integração de vias importantes da cidade a partir das ações do Mobilidade Salvador. As vias vão ligar a Orla Atlântica a áreas periféricas da cidade, e encurtar o tempo gasto no deslocamento para cerca de 30 minutos.

O Corredor Transversal I já está com a primeira etapa da obra em andamento, a duplicação da Avenida Pinto de Aguiar, em Pituaçu, e vai ligar a orla à Avenida Luís Viana Filho (Paralela). O trecho segue pela Avenida Gal Costa, que também será ampliada, e se estende até o bairro Capelinha. Em seguida o trecho entre Pirajá até a Avenida Suburbana, no bairro Lobato, será requalificado, completando a vida que tem aproximadamente 13 quilômetros.

A estudante de enfermagem, Edjouse Barbosa, 31, já vislumbra ganhar mais tempo no seu dia a dia após a conclusão da obra. Entre o trabalho, a faculdade e sua residência no bairro de São Caetano, ela gasta hoje aproximadamente cinco horas e meia diárias e precisa trocar de ônibus várias vezes. “Já imaginou o que dá pra fazer em cinco horas e meia todos os dias? Eu estagio em Lauro de Freitas e estudo na Paralela, tenho de sair de casa muito mais cedo para não correr o risco de me atrasar. Mas, como não havia uma ligação direta entre Pirajá e a Paralela, precisamos sempre passar pelo Iguatemi, ou Imbuí, pegando longos congestionamentos. Quando as obras forem concluídas, possivelmente reduzirei drasticamente o tempo gasto nesta maratona, e poderei ficar mais com a minha família, me exercitar ou passear”, destaca.

Já o Corredor Transversal II, da qual fará parte a Avenida 29 de Março, vai abranger um canal de tráfego de 12 quilômetros, a partir da Avenida Orlando Gomes, em Piatã, passando pelo Parque Tecnológico da Bahia e Alphaville 2 e prosseguindo pelo Vale do Rio Jaguaribe e Via Regional até a região de Águas Claras. Será uma ligação da BR-324 com a Avenida Paralela e a orla marítima, contribuindo diretamente para a vida de Ivan, que prevê mais qualidade de vida. Para ele, os novos corredores vão facilitar o transporte entre o Subúrbio e a Orla Atlântica. “Quem vai para essas localidades da Orla, assim como eu, vai economizar dinheiro com transporte e uns 40 minutos todo dia. Vai ficar lindo”.

A nova via vai facilitar o acesso ao Porto de Aratu, Base Naval e zona suburbana, um corredor praticamente expresso entre a BR-324 e a Paralela, evitando trechos como Iguatemi e Estação Rodoviária, áreas diariamente congestionadas da cidade. Evitar este trecho é o desejo também do autônomo Jadson Estácio, 35, autônomo, morador de Periperi. “Mesmo de carro eu levo em média 40 minutos da minha casa para a orla, e tenho expectativa nestas novas vias. Porque se elas forem como a Via Expressa, que hoje gasto em média cinco minutos do Comércio para a BR 324, em comparação com 20 de antigamente, vai ser show de bola, facilitar muito nossa vida”.

Além de permitir a melhoria do tráfego de veículos e interligar a zona suburbana e a orla atlântica, os corredores facilitarão o acesso daqueles que utilizam o transporte público para se locomover incluindo o sistema de metrô. Esta rede integrada, com criação de meios alternativos de transporte, como ciclovias e ciclofaixas, é apontada pela doutora em Engenharia de transporte e trânsito, professora da Universidade Federal da Bahia, Ilce Marília Dantas, como necessária para dar mais dignidade aos moradores da cidade. “Por muito tempo Salvador só ganhou vias longitudinais como a Orla, a Paralela, a BR e a suburbana, sempre deslocando a população nestes sentidos, mas, ao longo dos anos, o miolo da cidade cresceu bastante, e tornou necessária a criação destas vias transversais para integrar áreas que não estavam sendo conectadas. Estas novas ligações vêm para melhorar a configuração desta rede de transporte, integrando a população que antes ficavam muito afastadas”.

Ela ainda destaca a necessidade de priorização do sistema viário para o transporte público. “Estes corredores de ônibus são necessários para o deslocamento das pessoas, principalmente com integração do metrô, favorecendo os transportes de massa, além de possibilitar alternativas de transporte, com o uso de bicicletas e motos em espaços e condições adequados”, conclui.

O bairro de Cajazeiras também se beneficiará com a obra graças a outros serviços que facilitarão o fluxo de tráfego em toda sua área de influência, notadamente com intervenções na Avenida Artêmio Valente (Barradão). Somadas à Via Expressa e ao funcionamento do metrô, em junho, a expectativa é de que os serviços em andamento melhorem o trânsito em diversas áreas da cidade, ampliando as possibilidades de negócio e a qualidade de vida dos baianos.