Apontado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como a terceira causa de longos afastamentos do trabalho, o transtorno mental ainda é visto por muitos profissionais de saúde como algo segmentado, restrito às unidades especializadas nesse tipo de cuidado. Mas o portador de transtorno mental e/ou usuário de substâncias psicoativas sofre outros tipos de adoecimento e recorre aos hospitais gerais, onde deve ser acolhido e atendido por profissionais das mais diversas áreas, que nem sempre sabem como abordá-lo.

O despreparo para lidar com esse tipo de paciente motivou o Serviço de Psicologia do Hospital Geral Roberto Santos a promover o seminário ‘O paciente com transtorno mental no hospital geral’, iniciado nesta quinta-feira (8) e que continua sexta (9), pela manhã e à tarde.

Profissionais de várias áreas do HGRS e de outros hospitais e unidades de atendimento especializado lotaram o auditório central onde, nesta sexta, segundo e último dia do evento, o psiquiatra da Unicamp, Neury Botega, faz conferência às 8h30, mediada pelo chefe de gabinete da Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab) e ex-diretor do HGRS, Paulo Barbosa.

A conferência inicial ‘Políticas públicas em saúde mental no contexto do hospital geral’ foi conduzida pela diretora de Gestão do Cuidado da Sesab, Liliane Mascarenhas Silveira, que apresentou a legislação e as ações do Sistema Único de Saúde (SUS) referentes à assistência em saúde mental. “Na Bahia, são 28 regiões de saúde distribuídas em nove macrorregiões, e essa temática, da atenção psicossocial, tem que estar nas 28 regiões de saúde. Precisamos garantir a integralidade do cuidado ao portador de transtorno mental nas redes de atenção, na assistência ambulatorial especializada e de emergência”.

Escuta qualificada

Mediadora da conferência, a diretora-geral do HGRS, Delvone Almeida, destacou a importância da atenção e da escuta qualificadas no trato com o paciente portador de transtorno mental. “Ele exige um olhar mais cuidadoso e abrangente, que extrapola a assistência convencional e envolve aspectos psicológicos, de relação social e familiar, no seu processo de adoecimento. Estamos implantando algumas novas ferramentas no cuidado, como a gestão da clínica, e esperamos que o grande interesse por essas questões, demonstrado hoje, se traduza no melhor atendimento a esse paciente não só no HGRS, mas nos outros hospitais”.

“O paciente de transtorno mental precisa ter um olhar diferenciado e multiprofissional. Que venham outros eventos assim, para abrir a cabeça e o coração da gente”, referendou a diretora-técnica Materno-Infantil do HGRS, Alcione Bastos, observando que todas as pessoas são suscetíveis a sofrer  transtorno mental.

A diretora de Enfermagem, Aldacy Ribeiro, destacou a coragem dos profissionais que promoveram o evento por trazerem à discussão um assunto que não é restrito à psicologia. De acordo com ela, enfermeiros, técnicos e assistentes de enfermagem estão envolvidos no atendimento direto a esses pacientes.

A coordenadora do Serviço de Psicologia do HGRS, Alice Leal, afirmou que o portador de transtorno mental é vítima de exclusão, afastado do convívio social, e isso se reflete na postura de muitos profissionais dos hospitais gerais que, diante dele, se veem com dificuldades. “É como se esse paciente fosse um enigma e não dissesse respeito a eles. Por isso, trazer esse tema para ser debatido era um anseio das equipes, e convidamos pessoas que estão mergulhadas nessa questão para debater conosco”. Ela propôs que o evento dê origem a um fórum permanente para oferecer assistência de qualidade baseada na integralidade do cuidado.