Uma unidade de produção de mudas implantada na comunidade indígena de Payaya, no município de Utinga, Território da Chapada Diamantina, vem se consolidando efetivamente como atividade geradora de emprego e renda para dezenas de famílias que antes, sem perspectiva econômica, eram obrigadas a sair de sua região em busca de alternativas de trabalho em outros municípios e estados do país.

O projeto, que está mudando a realidade dos índios Payaya, é executado pela Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR), empresa da Secretaria de Desenvolvimento e Integração Regional (Sedir), no âmbito do Programa de Combate à Pobreza Rural (PCPR/Produzir). A atividade, desenvolvida com empenho pela comunidade, inclui desde a coleta de sementes de árvores nativas e espécies em processo de extinção até o reflorestamento da Chapada Diamantina.

De acordo com o cacique Juvenal Payaya, o projeto “já está criando raízes e transformando a realidade do povo Payaya de Utinga”. Segundo ele, a comunidade que viu, por séculos, os filhos e irmãos partirem dessa região, para sobreviver, vive um momento de esperança. “Quem partiu e esperava um dia voltar já tem a possibilidade de ver esse sonho virar realidade”.

O líder indígena diz ainda que, com a chegada da água, do viveiro e de toda a estrutura, quatro famílias já passaram a morar mais próximo à unidade. “Agora já é possível fixar as famílias nessa região, que sempre pertenceu a nossos ancestrais. Esse projeto nos permite programar um futuro para nossos filhos”, destaca.

O responsável pela Unidade de Produção de Mudas, Oto Payaya, recorda que durante muito tempo o povo Payaya saía da comunidade em busca de emprego para conseguir sobreviver, produzindo e comercializando artesanato ou atuando com outras profissões. “Com a chegada do projeto vai ser possível voltar a viver na região, trabalhar e construir uma nova vida”.

Consolidação

Para que a Unidade de Produção de Mudas pudesse ser consolidada, foram incluídos no projeto a implantação de um sistema de abastecimento de água, um viveiro coberto por tela, com capacidade de produção anual de 100 mil mudas, um viveiro a céu aberto para rustificação das mudas, a construção de sanitários masculino e feminino, um sistema de irrigação automatizado para a área dos viveiros e a aquisição de 100 mil sacos para mudas.

Com a conclusão do projeto, que foi pensado para atender as necessidades da comunidade, visando o melhor custo benefício, a água, elemento indispensável para o sucesso da iniciativa, passou a ser captada no Rio Utinga, bombeada para o reservatório com capacidade de 100m³ e distribuída por gravidade para a aldeia, alimentando os sistemas de irrigação do viveiro e as demais instalações da unidade.

Destacam-se, entre os benefícios trazidos pela implantação da Unidade de Produção de Mudas, o reflorestamento, o cultivo de ervas medicinais, tradicionalmente usadas pelos povos indígenas, o uso, em potencial, para paisagismo e jardinagem e para a agricultura familiar, visando a subsistência e comercialização da produção excedente.

Produção

Valnira Payaya, moradora da comunidade, fala da importância de trabalhar com as ervas medicinais e do aumento gradativo da produção de plantas para esse fim. “Estamos cultivando plantas como alho japonês (nirá), cebolinha, pata de vaca, hortelã, alecrim, babosa, hisbisco e tansagem, que, usadas com o devido cuidado, podem tratar de problemas de saúde, a exemplo do diabetes, processos inflamatórios e gripe, entre outros”.

A Unidade de Produção de Mudas já possui sementes como as de açoita cavalo, pau ferro, barbatimão, umbaúba, umburana de cambão, tamboril, jenipapo, mutamba, jatobá do serrado, murta, olho de cabra, canafístula, saboneteira, sucupira de caatinga, maniçoba, mulungu, aroeira, jabuticaba, tento, flamboyant ou acácia, moringa, jambo branco e arruda.