O Grupo de Trabalho da Comissão Estadual da Verdade da Bahia (CEV-BA) ouviu em Feira de Santana, no centro norte da Bahia, duas vítimas da ditadura militar – Valdeis Daltro Ribeiro e Alaíde de Jesus Santos. Ao todo, já foram colhidos 19 depoimentos no município.

Valdeis era presidente da Associação Comunitária do Bairro da Galiléia, em Feira de Santana, e contou ter sofrido muita perseguição do ‘Capelão’, como era conhecido o padre Edmundo Juskevics, oficial da Polícia Militar a serviço da repressão em 1964. "Ele dizia que ia mandar prender os membros da associação, que ia mandar matar, e fazia todo tipo de ameaça”. Segundo Valdeis, "as pessoas ficaram tão assustadas que a associação deixou de funcionar". O trabalho da entidade foi reconhecido apenas na administração do prefeito Chico Pinto, quando o bairro recebeu calçamento e água, entre outros benefícios.

A segunda pessoa a depor, na última quarta-feira (30), foi Alaíde, filha de José Pereira, operário que militava no Partido Comunista Brasileiro (PCB) e precisou fugir para Senhor do Bonfim para não ser preso. De acordo com Alaíde, a casa da família em Feira de Santana foi invadida diversas vezes durante a ditadura. O ‘Capelão’ chegou a colocar o revólver na boca de um de seus sete irmãos e gritar: "Diga onde está escondido o seu pai".

Alaíde afirmou que José ainda fugiu para Teófilo Otoni, em Minas Gerais, onde foi preso. Durante uma visita, Maria de Jesus, mulher do operário, o encontrou em uma cela em pé, com água até os joelhos, se apoiando numa barra de ferro. Por meio de um advogado, Maria conseguiu trazer José para a Penitenciária Lemos Brito, em Salvador. Ele morreu pouco tempo depois de sair da prisão, onde contraiu pneumonia.

Alaíde contou também que os filhos sofreram muito com a ausência do pai. Ela lembrou que Maria de Jesus, para sobreviver, teve que vender uns porcos e uma produção de mamona. Ao invadir a casa mais uma vez, o ‘Capelão’ encontrou o cheque da venda, rasgou e disse: "Comunista não precisa de comida".

Vinculada ao gabinete do governador, a Comissão Estadual da Verdade da Bahia tem o objetivo de apurar e esclarecer violações aos direitos humanos cometidas por agentes públicos entre os anos de 1946 e 1988, principalmente as violações ocorridas durante a ditadura militar, de 1964 a 1985.