Com 80% das obras já concluídas, a Enseada Indústria Naval é considerado o maior projeto privado da Bahia dos últimos dez anos. Localizado às margens do Rio Paraguaçu, na Baía do Iguape, em Maragogipe, o empreendimento tem movimentado a economia e ampliado as perspectivas de desenvolvimento na região do Recôncavo, desde o início das obras, em março de 2012.

Atualmente cerca de cinco mil trabalhadores – 70% dos quais da região – fazem parte do quadro de funcionários. Parte trabalha na linha de produção da Enseada e, a outra, no Consórcio Estaleiro Paraguaçu, responsável pelas obras. Seis dos 29 navios-sondas que serão utilizadas pela Petrobras para exploração do pré-sal serão construídas em Maragogipe.

No dia 10 de outubro, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) concedeu a Licença de Operação (LO) à Enseada. Desde então, o empreendimento, que é formado por três grupos nacionais e um japonês, tem autorização para iniciar a produção. Entre os equipamentos que estão sendo montados na Enseada se destaca o maior guindaste do Brasil, com 150 metros de altura, equivalente a um prédio de 50 andares.

Moradora da localidade de São Roque, Marize Matos, 41 anos, é um dos exemplos de profissional que, em pouco tempo, cresceu na empresa. “Entrei aqui como copeira, fiz o curso para operadora de pórtico e trabalhei seis meses na função. Hoje estou como operadora de ponte rolante”, contou e se emocionou ao dizer que sua casa foi construída e mobiliada depois após ser contratada pelo consórcio. Ainda segundo Marize, há poucos dias ela se sentiu anda mais “realizada” por ter trabalhado na obra juntamente com o filho.

Primeira encomenda

De acordo com o gerente de obras, Marcus Holanda, a primeira encomenda está prevista para ser entregue à Petrobras em julho de 2016. O navio-sonda Ondina é o primeiro a ser construído. Os outros cinco navios – Pituba, Boipeba, Interlagos, Itapema e Comandatuba – estão programados para a entrega gradativa no decorrer dos próximos cinco anos. “Temos investido no treinamento e qualificação da mão de obra local para que a gente consiga garantir o compromisso que temos com o governo com a Bahia. A vinda para cá foi bastante estimulada”.

Segundo o secretário da Indústria, Comércio e Mineração, James Correia, o estaleiro, a exemplo da Ferrovia de Integração Oeste Leste (Fiol) e o Porto Sul – os dois em andamento na Bahia – integram o conjunto de projetos estratégicos delineados pelo governador Jaques Wagner. “Este estaleiro deve se tornar um dos maiores do Brasil. É a redenção para a região do Recôncavo.

Cursos para qualificação

Capacitar a mão de obra faz parte da rotina diária na Enseada. Muitos profissionais baianos tiveram a oportunidade de participar de cursos em estados como Minas Gerais e Rio de Janeiro, além de países, a exemplo da China, Japão, Romênia e Inglaterra. A expectativa é que boa parte dos trabalhadores da construção civil que atuam no local seja aproveitada também na área industrial.

Aos 36 anos, Paulo César Castro se vê no melhor momento profissional. Contratado há dois anos, ele participou de cursos práticos e teóricos, e atualmente desempenha a função de rigger (movimentação de cargas e içamento de peças). De tão satisfeito, ele não esconde os planos de crescer e fazer carreira na empresa. “Quero me aposentar aqui. Eles investem na gente”.

Além de gerar emprego para milhares de pessoas que vivem em diversas cidades como Salvador, Itaparica, Saubara, Salinas, Maragogipe e Santo Antônio de Jesus, diferentes atividades comerciais nestas e em outras cidades da região têm usufruído dos reflexos positivos do empreendimento desde o início das obras, que já teve o ‘pico’ de sete mil empregados diretos.

Após viver a experiência de ser um dos colaboradores da Enseada Indústria Naval, o quilombola Gildázio dos Santos decidiu, juntamente com a esposa, montar um pequeno restaurante na localidade de Enseada, que dá nome ao empreendimento. Os negócios prosperaram tanto para Gildázio que, após ter adquirido um carro, está prestes a inaugurar a ampliação do restaurante feita na cobertura.

“Todo mundo tem que aproveitar esta oportunidade. Os jovens principalmente. A indústria naval vai ficar aqui. A gente tem que segurar com as duas mãos”, disse o pequeno empresário, que atualmente emprega quatro das cerca de 800 pessoas que vivem na comunidade.

Povoado muda de realidade

Nas ruas do povoado de Enseada é visível o impacto causado com a chegada do estaleiro. Dezenas obras de casas residenciais estão em andamento na localidade. O poder aquisitivo da comunidade aumentou porque boa parte dos moradores trabalha nas obras da Enseada Indústria Naval.

Com a chegada do empreendimento, no mesmo povoado foi implantado um centro de referência, onde a comunidade tem a possibilidade de participar de iniciativas de estímulo à leitura e inclusão digital, além da atividade pesqueira, típica da região, por meio de cursos como o de condutor de embarcação.