Uma tarde regada a música, dança, capoeira e grafitagem. Foi neste clima que moradores em situação de rua participaram, nesta segunda-feira (22), do encontro realizado pelo projeto ‘Corra pro Abraço’, da Secretaria de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos (SJCDH), por meio da Superintendência de Prevenção e Acolhimento aos Usuários de Drogas e Apoio Familiar (Suprad).

Com o tema ‘Cuidando da Rua, Cuidamos de Nós’, o local do encontro foi a Praça Tiradentes, mais conhecida como Praça das Mãos, no bairro do Comércio, em Salvador, onde também funciona o Ponto de Cidadania, outra ação da secretaria. Nesta terça (23), as atividades acontecem, das 14 às 19h, na Praça Aquidabã.

A iniciativa é voltada para usuários de substâncias psicoativas em situação de rua. Durante todo o ano, profissionais que participam do projeto vão a espaços públicos em busca de homens e mulheres com esse perfil. A ação é executada pelo Centro de Referência Integral de Adolescentes (Cria), instituição conveniada com a SJDH.

Segundo a coordenadora geral do projeto, Eleonora Rabello, o ‘Corra pro Abraço’ é realizado desde junho de 2013. “Além das atividades, identificamos a demanda e fazemos encaminhamento para que as pessoas acessem os serviços de arte, educação e cultura”.

Ainda, conforme Eleonora, mais de 300 pessoas já participaram das atividades oferecidas pelo projeto desde a implantação. “Quando as pessoas mais vulneráveis não conseguem acessar os serviços é feito um acompanhamento até que este direito seja garantido. Em média, 35 pessoas participam das oficinas aqui na Praça das Mãos e no Aquidabã”.

Talentos artísticos

Durante o encontro no Comércio, dezenas de pessoas tiveram a possibilidade de exercitar seus talentos artísticos em oficinas como a de grafite, coordenada pelo arte-educador Marcos Costa, formado em artes visuais pela Universidade Federal da Bahia (Ufba), e de capoeira conduzida por Adailson Paixão. Já a trilha sonora com muito hip hop e reggae ficou a cargo do DJ Osório Mendes.

Vindo de Alagoas com destino a Minas Gerais e, até então sem emprego nem dinheiro, o mineiro Fábio Firmino, 35 anos, chegou a Salvador há quatro meses e só não dormiu na rua porque encontrou abrigos públicos. Porém, durante o dia, ele confessa ter vivido o drama de parte dos moradores de rua e também fez uso de drogas, realidade que garante fazer parte do passado.

“Estou em processo de redução de danos e o acompanhamento do pessoal do projeto [Corra pro Abraço] tem me ajudado e a outras pessoas também. Depois que conheci o projeto passei a me interessar mais pela cultura”, contou Fábio.

Atualmente ele trabalha como restaurador e paga o aluguel da casa onde vive com o salário. “Eu causava muitos danos pra mim mesmo com o álcool e as drogas. Além de prejudicar a minha saúde, gastava muito dinheiro”.

Jamile Carvalho atua no projeto como supervisora de campo. Ela explica que, uma das atividades desenvolvidas pelo ‘Corra pro Abraço’ é o acesso aos serviços oferecidos pela Defensoria Pública.

“Nosso papel também é garantir o acesso das pessoas à Justiça. Não trabalhamos na perspectiva da abstinência nem tiramos as pessoas da rua à força. Trabalhamos com a redução de danos. Intermediamos a relação para que o sujeito reduza ou extinga o uso. Sabemos que o uso de drogas não para de uma hora para outra”, explica.

Ponto de Cidadania

Criado para ser um local onde as pessoas em situação de rua podem fazer a higiene pessoal – mas sobretudo serem ouvidas e encaminhadas aos serviços públicos considerados essenciais como saúde, educação, intermediação de mão de obra e moradia -, o Ponto de Cidadania, na Praça das Mãos, completou seis meses de funcionamento no domingo (21).

Para o supervisor e coordenador técnico da unidade, Gabriel Pamponet, o trabalho, em sua essência, tem alcançado êxito. “Um dos objetivos do Ponto de Cidadania é atuar na comunidade a ponto de fazê-la compreender que os usuários ou as pessoas em situação de rua, fazem parte dela e, neste sentido, acolhê-las enquanto tal”.

Outro ponto de Cidadania funciona na localidade conhecida como Pela Porco, próximo da Avenida J.J. Seabra (Sete Portas). Segundo Gabriel, são atendidas, em média, 600 a 700 pessoas em cada uma das unidades.

A diretora de gestão da Suprad, Emanuelle Silva, ressaltou que novos avanços serão registrados em 2015 com a elaboração do Plano Estadual de Políticas sobre Drogas.