A Bahia foi destaque na doação de órgãos em 2014, com aumento de 12% registrado em relação a 2013. Ao todo, foram 109 doações que possibilitaram a realização de 563 transplantes, sendo 332 de córnea, 52 de fígado, 63 de rim, 48 de medula óssea, 46 de esclera e 22 transplantes ósseos. Também foram realizados dois transplantes de pele e 19 transplantes de rim com doador vivo. Resultado de uma parceria entre o Ministério da Saúde e o Governo da Bahia, sete grupos de apoio à doação, distribuídos em Salvador e nos municípios de Feira de Santana, Vitória da Conquista, Itabuna e Teixeira de Freitas, coordenam as atividades de doação e transplante no estado. Além deles, 30 Comissões Intra Hospitalares de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante (CIHDOTT) participam do programa.

O aposentado Nilson do Rosário Teixeira, de 55 anos, foi um dos beneficiados. Apesar de ter identificado que os dois rins não funcionavam há quatro anos, só procurou ajuda médica no ano passado. “Quando eles [os rins] pararam de funcionar, meu corpo deu indícios: começou a inchar, a comida começou a ficar enjoada e passei a urinar pouco. Sentia dores pela pressão interna. Mas fiquei resistente em pedir ajuda. Só depois de muito tempo me sentindo mal que passei a buscar resolver meu problema. Entrei em contato com o Hospital Ana Nery e tudo foi rápido. Passei por exames e em dois meses fiquei bom. Recebi um rim novinho funcionando bem. Para mim, foi a renovação da vida”, conta o paciente, que ainda faz tratamentos complementares antes de receber alta hospitalar.

Segundo o coordenador do Sistema Estadual de Serviço de Transplante da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab), Eraldo Moura, a Bahia é pioneira na busca ativa de potenciais doadores para transplante de órgãos. “Às vezes, os doadores que nos procuram não têm compatibilidade com um paciente que está em situação grave. Baseado nessa circunstância, botamos em prática a estratégica de localizar doadores que atendam de imediato a lista de espera. É um trabalho que exige cada vez mais envolvimento dos profissionais da saúde, das instituições hospitalares, e o entendimento da população.”, revelou.

A dona de casa, Maria Aparecida Souza Maciel, de 47, já está apta para doar um rim para o filho Paulo Vinícius, de 24 anos, que perdeu os dois rins. A cirurgia será realizada nesta quarta-feira (21), no Hospital Ana Nery. “Para uma mãe é difícil ver o filho nessa situação. É preciso ter força. Quando soube que podia contribuir para recuperar a saúde de meu filho, não pensei duas vezes. Passamos por muitos exames, eu e ele, até ter a certeza de que éramos compatíveis. Amanhã vai ser um grande dia, estou ansiosa”, contou dona Maria.

Paulo Vinícius, que trabalhava em Irecê como classificador de soja, não vê a hora de retomar as atividades diárias. “Desde o ano passado estou no hospital. Passei por alguns tratamentos durante esse período, inclusive a hemodiálise, três dias por semana. Amanhã vou dar mais um passo para a minha recuperação. Espero que tudo dê certo. Quero retomar as minhas atividades, meu trabalho e minhas partidas de futebol com os amigos”, afirmou.

Critérios

Os transplantes podem ser financiados pelo Sistema Único de Saúde (Sus) ou por convênios particulares. Independente da fonte pagadora, todos os pacientes são iguais. Cada grupo tem seus critérios estabelecidos para a realização do serviço. O transplante de córnea leva em conta o tempo de lista de espera, quem se inscreveu primeiro transplanta primeiro; o transplante cardíaco, assim como o de fígado, leva em consideração o tempo de lista e gravidade do paciente. Já os transplante de rins e de medula são por compatibilidade genética. O paciente que tem o organismo mais semelhante ao doador passa a ser prioridade.

“O transplante é a última fase do tratamento das doenças. Quando você não tem nenhuma outra possibilidade terapêutica, você tem o transplante para tratar o indivíduo. A substituição de um órgão gravemente doente por um órgão saudável”, explica Eraldo Moura.

O paciente que necessita de um transplante que o Estado não disponibiliza não será desamparado. Por meio do Programa Tratamento Fora do Domicílio (TFD), que conta com recursos públicos para custear passagem aérea para paciente e acompanhante, além de diárias para se manterem no local durante o tratamento, o indivíduo é direcionado para outro estado, onde passará pelo procedimento.