Foto: Divulgação/GOVBA

O Carnaval da Bahia retornou com força total. Foram seis dias oficiais de folia em Salvador e em Maragogipe. Pelo Programa Carnaval Ouro Negro 2023, 63 entidades de matriz africana desfilaram nos três circuitos da folia (Osmar, Dodô e Batatinha). Elas tiveram apoio do programa de fomento gerido pelas secretarias de Cultura (Secult-BA) e de Promoção da Igualdade Racial e dos Povos e Comunidades Tradicionais (Sepromi), uma iniciativa do Governo do Estado, que, desde o Carnaval de 2008, vem investindo, valorizando e enriquecendo a festa momesca.

Neste ano, o Ouro Negro investiu mais de R$ 7,6 milhões como subsídios para o apoio de agremiações de matriz africana, o dobro da última edição, em 2020. “O Ouro Negro se firma como uma política de valorização e inclusão cultural indispensável. A Bahia entendeu, antes de qualquer outro estado, que o que faz a sua grandeza é a inclusão da diversidade, sobretudo a diversidade afro-brasileira. Se fazemos aqui a
maior festividade de rua do mundo, foi porque reconhecemos e incluímos a nossa ancestralidade cultural afro”, ressalta Bruno Monteiro, secretário de Cultura do Estado da Bahia.

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Como sempre, os blocos de samba que dominam os primeiros dias de desfile no Circuito Osmar (Campo Grande), a partir da sexta, com o Alerta Geral, Pagode Total, Alvorada, Amor e Paixão, A Mulherada, Bloco da Capoeira, Proibido Proibir, Reduto do Samba e o Samba Popular. Também no Batatinha, os blocos de samba, reggae, afro e afoxé iniciaram seus desfiles na sexta-feira e seguiram até a terça. Na Barra, só a partir de domingo, os blocos do Ouro Negro começaram a pintar no Circuito Dodô.

Os desfiles deste programa têm por função a preservação e a valorização da presença dessas agremiações que trazem para o carnaval seus desfiles com alas culturais, roupas tradicionais e a participação das comunidades onde estão inseridas, transmitindo, assim, o legado para as novas gerações, com a participação da juventude nessas atividades.

Samba

Responsáveis por abrir os desfiles no Carnaval, os blocos de samba, na quinta e sexta-feira, já se tornaram uma tradição. Seja com atrações do samba de roda do recôncavo, samba junino de Salvador, ou o pagode de São Paulo e o partido alto do Rio de Janeiro, os blocos vêm pra avenida sempre com muitos componentes e mostrando a diversidade do gênero musical no Carnaval Ouro Negro.

Neste ano, um homenageado completou 80 anos de idade, o cantor e compositor Nelson Rufino, que, emocionado e agradecido, disse que é uma imensa alegria continuar a fazer parte desta festa. “Eu, que acompanhei as escolas de samba de Salvador e os primeiros blocos de samba, como o Alerta Geral, agora posso continuar esta história no Amor e Paixão. Estou muito feliz”, explicou, contente, o poeta.

Para além dos blocos já citados, há uma gama de blocos que traz o samba pro Carnaval e desfilam no Circuito Batatinha e no Contra Fluxo do Circuito Osmar. Dentre eles, o Jaké, Sambetão, Quero Ver o Momo, Afinidade, Filhos da Feira de São Joaquim, o bloco infantil Vamos Nessa e o Bloco da Saudade.

Dentro do Circuito Batatinha, o bloco Sambetão desfilou, na segunda-feira de Carnaval, pelas ruas do Pelourinho, no Terreiro de Jesus, Praça da Sé, Rua Chile, retorno da Rua da Ajuda e finalizou no viaduto da Sé. Alberto Barreto, que está à frente do bloco, se diz contente com a revitalização do circuito do Centro Histórico. “Feliz de ver que o Governo do Estado vem revitalizando o Carnaval do Pelourinho, sobretudo, o Batatinha. E, assim, vamos saudar Iemanjá. Odoyá!”, saudou o representante do bloco.

Afro

Uma verdadeira aula de história preta tomou conta das ruas dos circuitos Osmar (Campo Grande), Batatinha (Pelourinho) e Contra Fluxo (Rua Carlos Gomes) com a presença dos blocos afros, que trouxeram temas cheios de identidade, representatividade e ancestralidade negra.

Olodum. Foto: Antônio Queirós/GOVBA

Um dos mais esperados, com o retorno do Carnaval, foi o bloco Olodum, que teve saída no Pelourinho, em frente à sede, com sua apresentação histórica na sexta-feira (17) de Carnaval. Com o tema Tambores: A Batida do Coração – Caminhos da Eternidade, o bloco buscou resgatar a história da utilização dos instrumentos percussivos, mais especificamente os tambores, com foco nos tambores de Ghana e cultura dos povos Ashanti, do continente africano.

O bloco desfilou no Circuito Osmar na mesma noite e, também, no domingo (19), arrastando uma multidão e cantando seus maiores sucessos. João Jorge, um dos fundadores do Olodum, destacou a importância dessas políticas públicas. “O Ouro Negro é viabilidade que o Olodum, Ilê Ayê, Muzenza, entre outras entidades, possam sair no carnaval”, ressaltou.

Outro bloco afro esperado foi o Ilê Ayê que retomou com sua tradicional saída no bairro da Liberdade, no Circuito Mãe Hilda, no sábado (18) de Carnaval. O homenageado do bloco foi o escritor e político angolano Agostinho Neto, presidente do Movimento Popular de Libertação de Angola, que faleceu em 1979.

Ilê Aiyê. Foto: Mateus Pereira/GOVBA

O tradicional rufar dos tambores da banda Aiyê, além de banho de milho branco e pipoca e a soltura de pombas brancas, fizeram parte do ritual. O bloco desfilou no Circuito Osmar (Campo Grande), a raiar do sol no domingo (19) e repetiu a passagem na segunda-feira (20), à noite.

O sofisticado Cortejo Afro desfilou na sexta-feira (17), no Circuito do Campo Grande, com a beleza e a doçura do orixá Logunedé, tema do ano. Nas fantasias dos foliões, dos músicos da banda, da ala de canto e das baianas, o requinte dos figurinos cheios de referências à cultura e à religiosidade de matriz africana.

“Após dois anos sem desfile, nada melhor que trazer como tema um orixá menino, que pede respeito para revigorar o Carnaval”, enfatizou o artista plástico Alberto Pitta, presidente do Cortejo Afro. Na mitologia iorubana, cultuada nos terreiros de candomblé de nação Ketu, Logunedé é um orixá criança, filho de Oxum e Oxóssi.

Blocos femininos

As mulheres também estiveram em cena na avenida. Os blocos femininos A Mulherada e Didá estrearam na quinta-feira (16) e domingo (19) de carnaval, respectivamente. O bloco Didá trouxe as mulheres para a avenida com o tema Afrofuturismo, o Algoritmo dos Búzios, promovendo um lindo desfile através uma perspectiva de um movimento que é um dos mais renovadores da expressão e presença da cultura negra nas artes, na ciência e na filosofia. A Mulherada, que desfilou também no Circuito Dodô (Barrra/Ondina), é um bloco que da voz à luta em defesa dos direitos das mulheres negras e homenageou Legbara, entidade de candomblé que se assemelha com orixás.

Circuito Batatinha

No circuito que tomou conta das ruas do Pelourinho, vários blocos que surgiram de comunidades populares de Salvador retomaram com suas indumentárias, promovendo grandes desfiles, com o desenvolvimento dos temas em cada ala. Como foi com o bloco Ginga de Negro, que abordou a diversidade dos países africanos com o tema Panos afros, que buscou representar países africanos através de cada tecido.

E também teve a riqueza do bloco Afro Mangangá, conhecido por Bloco da Capoeira, que desfilou no Circuito Batatinha na segunda-feira (20), com o tema Capoeira é Ouro. Ele foi criado pelo artista e capoeirista Tonho Matéria, teve sua grande estreia no Campo Grande, na quinta-feira (16), fazendo um grande desfile, cheio de representatividade.

Muitas entidades dependem, em sua maioria, de iniciativas públicas para colocarem seus blocos no Carnaval de rua, e o Ouro Negro proporcionou que elas estivessem no retorno da festa momesca. “É muito caro colocar o bloco na rua, são pouquíssimos incentivos e, se não existisse o Ouro Negro, não estaríamos aqui, afinal, a iniciativa privada não prioriza blocos populares”, criticou Paulo Augusto, presidente do Blocão da Liberdade.

Afoxé

O ritmo do ijexá e o cheiro de perfume de alfazema exalaram, mais uma vez, no Carnaval com a passagem do maior afoxé da Bahia, os Filhos de Gandhy, no centro de Salvador e na orla da cidade. Os cerca de seis mil homens repetiram um ritual iniciado em 1949, quando um grupo de estivadores do Porto de Salvador resolveram criar uma agremiação para participar do Carnaval.

Domingo, segunda e terça, os circuitos Batatinha, Osmar e Dodô presenciaram o espetáculo que é o desfile do afoxé, que carrega história e religiosidade em nome da paz. “O Afoxé Filhos de Gandhy é a reafirmação da presença negra nesta cidade, fincada no trabalho, já que nasce dos estivadores, e na identidade afro-religiosa. Como disse Mestre Didi, o afoxé é o Candomblé na rua, e o Gandhy congrega festa e religiosidade, e apresenta de forma pública, lúdica e esteticamente bonita. É tudo muito lindo”, afirmou Paulo de Jesus, doutor em História e professor da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). Ele conta que desfila no afoxé desde 2007, com algumas ausências, mas sempre reconhecendo a importância do afoxé para a população negra, especialmente para a afirmação e valorização estética do homem negro em meio ao racismo.

O tema do Gandhy, neste ano, foi ‘Caboclos de Penas e Encourados’, e os desfiles contaram com representantes de povos indígenas, homenageados, inclusive, pelo governador do Estado, Jerônimo Rodrigues, descendente indígena, que subiu no trio do afoxé, utilizando
um cocar na cabeça.

Governador Jerônimo Rodrigues participa da Lavagem de Itapuã, em Salvador
Foto: Fernando Vivas/GOVBA

Na fantasia, formada por uma espécie de mortalha e um turbante de estilo indiano, predominantemente branca, com detalhes azuis e amarelos, estão ilustradas folhas, lanças, flechas, animais como a cobra, relacionada com a cura, além de caboclos de índios de pena e de couro.

Assim como os Filhos de Gandhy, outros afoxés desfilaram com apoio do Ouro Negro, levando a religiosidade e a resistência do povo negro para as ruas do Carnaval. É o caso do afoxé Filhos do Congo, que desfilou domingo e terça, no circuito Osmar, com o tema Nzinga Mbandi: resistência, memória e realeza africana, exaltando uma das mais importantes mulheres da África colonial, que reinou por quatro décadas em Angola.

“Uma mulher guerreira, batalhadora, que lutou pelos seus e pelos avanços do povo negro. Por isso, nós precisamos conhecer e divulgar essa história de orgulho e bravura”, explicou Nadinho do Congo, presidente do bloco.

Outros afoxés que abrilhantaram os circuitos do centro de Salvador foram Amigos do Babá, Templo dos Orixás, Laroyê Arriba e Jogo do Ifá. Todos homenagearam, em seus temas, os orixás das religiões de matriz africana.

O Afoxé Amigos do Babá homenageou o orixá Logunedé, com fantasias nas cores azul e amarelo. Já o Laroyê Arriba trouxe o tema Iyá-Mi Osorongá – as senhoras dos pássaros da noite, entidades das religiões de matriz africana que representam ancestrais femininas.

Foliões Mirins

Os foliões mirins também participaram do Carnaval Ouro Negro no desfile do bloco Afoxé Filhos Korin Efan, que homenageou os Ibejis, orixás que representam as crianças nas religiões de matriz africana. Com lindas indumentárias, trazendo cores e brinquedos, o bloco representou a infância dos antigos tempos, com mais brincadeiras e menos celulares. O bloco tem mais de 20 anos e foi um legado deixado de pai para filha.

Elisangela Silva, diretora do bloco, falou que o tema é uma celebração ao retorno do Carnaval. “Nosso projeto buscou fazer um resgate da cultura infantil dos tempos antigos. Afinal, hoje as crianças estão muito viciadas em aparelhos digitais e esquecendo das brincadeiras clássicas”, criticou.

Índio e Reggae

Na diversidade de ritmos do Carnaval da Bahia, dois importantes segmentos marcaram presença na Folia 2023. Foram os blocos de Reggae, que levaram o ritmo jamaicano para a avenida, e de Índio, que faz história ao homenagear os povos originários.

No Carnaval Ouro Negro, o segmento indígena teve como representante, neste ano, o Commanche do Pelô, que completou 48 anos de fundação no Circuito Osmar (Campo Grande), resistindo ao manter elementos marcantes como o samba, as alas de dança e as fantasias e adereços com referência aos povos indígenas. Os comancheiros, como são chamados os integrantes do bloco, se esbaldaram ao som de sucessos do samba carioca.

Na animação, os cantores Leandro de Menor, O Pretinho, Val Aquino e Jorginho Commancheiro, que, além de músico, é diretor-presidente do bloco. “Commanche é resistência, são 48 anos de contribuição cultural ao Carnaval e, mesmo assim, continuamos na luta por mais apoios como esse que recebemos do Governo do Estado. Só assim foi possível realizar esse desfile, depois anos difíceis, desde 2017, e mais os dois últimos anos sem carnaval”, agradeceu Jorginho.

O bloco desfilou com o tema Os Filhos da Terra, em homenagem ao caboclo Boiadeiro, entidade da religiosidade afro-brasileira. Além das alas das baianas, dos caciques commancheiros e das alas que representam as danças afro-indígenas, o bloco contou com a presença de indígenas do povo Kiriri-Xokó, de Alagoas, convidados a participar do Carnaval da Bahia.

Ritmo que influenciou fortemente a música da Bahia, o reggae também esteve presente no Carnaval 2023. Entre as entidades que desfilaram trazendo o ritmo jamaicano para a avenida, estão o Reggae, O bloco; Aspiral do Reggae; Banana Reggae e Ska Reggae.

Para o folião Antônio Cosme, que desfilou nos dois circuitos, Osmar e Dodô, com o Banana Reggae, que teve como atração Thomé Viana e banda Ragga, ter o ritmo no Carnaval é fundamental para a diversidade. “Gosto de desfilar nos blocos de reggae porque é um ritmo tranquilo, dá para ouvir as músicas, dançar, encontrar os amigos. É ideal para quem não está no clima ‘mete o cotovelo e vai abrindo caminho’ da música de Caetano”, explicou Cosme, que é professor.

Também apaixonado pelo reggae, Reinaldo de Jesus se divertiu no Aspiral do Reggae. Ele sai no bloco há cerca de cinco anos e destacou a importância de ter o ritmo no Carnaval. “É muito importante a valorização da nossa cultura e, neste momento de pós-pandemia, estamos aqui para curtir o reggae na avenida na cidade de Salvador”, contou Reinaldo.

Um dos cantores a puxar o trio foi Kamaphew Tawá, que entregou um show com os clássicos do reggaeman jamaicano Jimmy Cliff, homenageado, neste ano, pelo Aspiral, que já morou em Salvador e fez parcerias com a banda Olodum e o cantor Lazzo Matumbi, na década de 1990.

Muzenza do Reggae

Além desses blocos citados, o reggae é a base rítmica de diversas entidades do segmento afro, como o bloco Muzenza, que integra o Carnaval Ouro Negro e, mais uma vez, animou o público com sucessos do ritmo popularizado no mundo por Bob Marley. O Muzenza foi criado justamente em 1981, ano de morte do ídolo.

O lamento pela perda do artista inspirou os versos: “O negro segura a cabeça com a mão e chora, sentindo a falta do rei”, da canção Brilho de Beleza, cantada pelo bloco na passagem pelo Campo Grande, na noite de sábado. Este ano, o desfile do bloco, com as cores características da cultura reggae (vermelho, amarelo e verde) teve como tema o Afrofuturismo.

Carnaval da Cultura

É o carnaval dos blocos afro, de samba, de reggae e dos afoxés, apoiados por meio do Edital Ouro Negro para desfilar nos três principais circuitos da folia: Batatinha, Dodô e Osmar.

É a folia animada, diversa e democrática do Carnaval do Pelô, que abraça o carnaval de rua, microtrios e nanotrios, além de promover, nos palcos, grandes encontros musicais e variados ritmos numa ampla programação. Tem afro, reggae, arrocha, axé, antigos carnavais, samba, hip-hop e guitarra baiana, além de orquestras e bailes infantis.

E é também a preservação do patrimônio cultural, com o apoio ao carnaval tradicional dos mascarados de Maragogipe. O Carnaval da Cultura é promovido pelo Governo do Estado, Carnaval 2023 – “Um Carnaval em Cada Esquina”.

Fonte: Ascom/Secult-BA