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Criatividade e o prestígio postos à disposição de uma grande mobilização governamental e social para o combate à fome na Bahia. O programa Bahia Sem Fome, iniciativa do governo estadual, está recebendo um reforço de peso internacional para dar ainda mais projeção e solidez à sua marca. A corrente de solidariedade chegou até o publicitário, empresário e filantropo baiano Nizan Guanaes, que respondeu ao chamado criando o jingle para ser a trilha sonora da iniciativa que pretender combater o cenário de quase 2 milhões de pessoas em situação de vulnerabilidade alimentar no estado.

Quando surgiu a ideia de participar da campanha Bahia Sem Fome?

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Nizan Guanaes – Eu estava em Trancoso, sem fazer nada, e me liga o André Curvello, que é o secretário de Comunicação do Governo da Bahia. E ele me disse “Nizan, queria te pedir um negócio. Queria muito fazer uma música tipo We Are The World, que você fez aqui para Irmã Dulce, porque nós estamos fazendo uma mobilização contra a fome. No outro dia tava pronto. Me veio a emoção daquilo, de pensar… E fiz com arranjo da minha cabeça. Eu pensei: ‘Olha, quero fazer uma coisa pra Bahia, mas não quero aquela coisa folclórica. Vou fazer uma música, mas que ao mesmo tempo tenha um cunho sinfônico. Como eu apoio na Bahia uma orquestra chamada Neojibá, eu fui atrás do meu amigo, o maestro que mora na Suíça, Ricardo Castro, que foi meu colega de escola. E ele pegou a melodia, levou pra orquestra e fez o arranjo.

E porque um jingle?

NG – Um jingle porque é uma mensagem publicitária. É uma campanha publicitária. Ele tinha que ser um jingle. Tanto que foi feita a música, em dois três minutos, e depois foi reduzida pra um minuto, pra trinta… É uma campanha que vai virar filme. Tem um propósito publicitário mesmo. É a campanha do Governo da Bahia contra a fome.

O ato de escrever, na maioria das vezes, é ilustrado por imagens que inundam a nossa mente. Como você poderia descrever as cenas que passaram em sua cabeça no momento de compor?

NG – A cena é muito clara. Como que na terra do acarajé, da moqueca, do abará, mugunzá, de tudo que tem… As pessoas passam fome? Então a primeira frase da música diz: ‘barriga vazia não combina com a gente não… A Bahia é comida, não é fome não’… Quando você pensa na Bahia, você pensa em comida. Então, é um acinte que na terra de todas aquelas coisas maravilhosas, uma pessoa esteja passando fome… Sobretudo porque, se o Brasil não jogasse fora comida, não teria gente com fome, seria suprimida pelo que nós desperdiçamos. Seja na Bahia, seja no Brasil inteiro.

E quem foi mais inspirado e teve maior influência na letra: o publicitário reconhecido internacionalmente ou o baiano raiz Nizan Guanaes?

NG – O baiano raiz Nizan Guanaes

O jingle vem com cara de axé, samba, forró ou depende de quem vai interpretar?

NG – Isso. A Ivete Sangalo gravou, o Carlinhos Brown gravou e alguns outros vão gravar. Além disso, foi feito um arranjo publicitário, que eu acho que ele ficou tão bom ou melhor do que nós fizemos, o que mostra como a Bahia é craque em fazer essas coisas. E isso foi uma alegria muito grande.

O jingle, certamente, será o carro-chefe do Bahia Sem Fome. A assinatura Nizan Guanaes é uma espécie de convite ou convocação para que outros formadores de opinião, principalmente baianos, façam parte dessa ação de solidariedade?

NG – Eu espero. Porque você só resolve um problema desses, a solução tem que ser do tamanho do problema. E a solução só é do tamanho do problema se a gente, todo mundo embarcado a lutar contra esta coisa, que é um acinte.

A sua nobre iniciativa fala muito sobre o publicitário e filantropo, que também é embaixador da UNESCO. Explique um pouco sobre este lado humanista do baiano Nizan.

NG – O baiano já tem uma natureza humanista. Uma vez um cara chato para caramba falou pra mim: se a Bahia é tão boa porque você não mora lá? Eu falei: porque lá somos todos iguais. Tem uma coisa da Bahia que é generosa. Tanto que ela é dita de ‘a Boa Terra’. Uma vez eu estava indo com Zé Maurício Machline pra um show de Margareth Menezes e estava longe. Estava eu, Donata, Zé Maurício e a mulher dele. Parou uma senhora, a gente pediu informação de onde era, uma senhora que estava num Fiat falou: ‘entra aí que eu lhe levo lá’. Nós entramos, quatro pessoas num Fiat. Ela levou a gente e ainda falou o seguinte: vocês não querem ir lá em casa tomar uma cerveja??? Isso é Bahia. (risos)

Quais características do homem Nizan que mais o identificam como baiano?

NG – É que eu sou mais um. Adoro ser mais um. A Bahia tem este poder de baixar sua bola. Eu emprestei minha casa de Trancoso para Gisele Bündchen. E ela, num determinado momento, me pediu pra levar o namorado, que por acaso era o Leonardo Di Caprio. E o povo de Trancoso descreveu assim: a Gisele teve aqui com um gordinho… (risos)

Qual segmento será decisivo no combate à fome? O povo, os grandes empresários, o governo e suas políticas públicas, cooperativas, instituições…?

NG – Todo mundo junto. A Geise Diniz está comandando esse movimento nacionalmente. E eu fui, recentemente, no evento de lançamento do Pacto Contra a Fome e estava todo mundo lá. É um problema de todo mundo, todo mundo tem que resolver… 20, 30 milhões de brasileiros, sei lá quanto é… Um absurdo. A gente não pode aceitar isso.

E por último, que mensagem você deixaria para quem está dos dois lados da moeda? Os que infelizmente passam fome e os que reúnem condições de contribuir para acabar, ou pelo menos minimizar esse flagelo.

NG – Eu te falo o seguinte: Não vai ter um mundo, uma vida normal, se milhões de pessoas do lado de fora da festa ficam vendo… 55 famílias têm mais dinheiro que o resto da humanidade, isso não tem cabimento! Isso não é possível. Esse desequilíbrio ele é a serpente e o veneno de tudo que está acontecendo no mundo. O mundo está polarizado por causa disso. Antigamente o sujeito não via o Rei Salomão ser imensamente rico. Hoje não. Hoje a vitrine está não mão da gente. Então, não é possível ser feliz com tanta gente sendo infeliz. A gente vai ter que orquestrar e equilibrar um pouco disto, para o bem de todos nós.