Pesquisadores do Hospital Roberto Santos são responsáveis por 77% dos estudos científicos produzidos na unidade
Foto: Leonardo Rattes/Saúde GOVBA

A Bahia realizou, pela primeira vez por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), uma cirurgia para tratamento de hamartoma hipotalâmico – malformação congênita rara que pode se manifestar através de crises epilépticas. A paciente, de 17 anos, sofria com convulsões e ataques repentinos de riso intenso (manifestações gelásticas, como define a literatura médica) há 11 anos.

Séfora Coelho Reis, que mora em Maiquinique – cidade a 633 km de Salvador –, estava prestes a viajar para São Paulo para se submeter ao procedimento, que custaria mais de R$ 450 mil. Mas, após avaliação da equipe de neurocirurgia do Hospital Geral Roberto Santos (HGRS), ela foi operada na unidade da capital baiana, em abril.

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Cinco dias após a cirurgia, a jovem teve alta médica e apresentou exames pós-cirúrgicos que mostram evolução positiva, conforme avaliam os profissionais. “A imagem do controle pós-operatório está muito boa. Apesar de se tratar de um procedimento raro, não havia nada que nos impedisse de realizá-lo. Por isso, quando chegou a solicitação de transferência para São Paulo, decidimos que ela seria operada, sim, no Hospital Roberto Santos, que é uma referência em neurocirurgia para a Bahia e com a produtividade similar a dos principais centros de saúde do país”, afirma o neurocirurgião Leonardo Avellar, chefe do serviço e da residência de neurocirurgia do HGRS.

Séfora e a mãe/Foto: Divulgação

Cleivia Reis, a mãe de Séfora, lembra do longo caminho até a cirurgia: “estamos vindo de uma história de 11 anos de busca pela melhora de Séfora com relação às crises epiléticas, que são chamadas crises epiléticas refratárias. O diagnóstico dela veio de uma clínica de São Paulo. Então, foi uma surpresa quando soube que conseguiria fazer o procedimento aqui, na Bahia, com total segurança. E, graças a Deus, após a alta [hospitalar], eu estou saindo de Salvador, indo para minha casa e acreditando que nossa vida passa a ter um novo direcionamento. Doutor Leonardo e sua equipe foram instrumentos nas mãos de Deus pra que realizasse a cirurgia da minha filha com tanto sucesso. Eu estou muito confiante que nós vamos ter uma qualidade de vida melhor, livre de tantas crises epiléticas que ela tinha no decorrer dos meses, ela tinha crises até dormindo”.

O médico residente de neurocirurgia Thiago Vinícius de Oliveira Lima acompanhou, de perto, todo o processo de Séfora, da primeira consulta no ambulatório até a avaliação pós-cirúrgica. “A gente ficou procurando bastante na literatura os relatos do procedimento e, apesar da dificuldade, nós vimos que teríamos segurança, com uma resposta muito boa e uma taxa de complicação baixa”, conta.

Séfora e a equipe do HGRS/ Foto: Divulgação

Thiago detalha que, para o sucesso do procedimento, a equipe lançou mão do recurso de unir os exames de tomografia e ressonância magnética. Outro fato importante é que a cirurgia foi feita com a paciente acordada: “escolhemos os parâmetros guiados pelo software, junto com o aparelho de estereotaxia. E a paciente estava, inicialmente, sedada. Quando nós colocamos o eletrodo no alvo, acordamos a paciente e fizemos alguns testes neurológicos com relação à motricidade dos membros e à visão. A lesão era muito próxima de uma área visual, então um dos nossos receios era o risco de afetar a visão. Por isso que era importante fazer essa cirurgia acordada. O resultado foi ótimo, ela não apresentou nenhuma complicação neurológica, tanto na parte da estimulação, quanto na pré-ablação e na ablação. Já saiu para UTI [unidade de terapia intensiva] desentubada e segue com uma boa evolução. Realizamos uma tomografia de crânio que mostrou que o procedimento foi bem-sucedido, nós conseguimos chegar bem no alvo. Ou seja, conseguimos chegar ao resultado que nós queríamos”.

O próximo passo é a publicação de artigo científico relatando o caso de Séfora. O serviço de neurocirurgia do Hospital Roberto Santos já soma mais de vinte estudos aceitos em veículos de renome nacionais e internacionais. “É um tipo de cirurgia funcional que tem poucos relatos no Brasil, principalmente pela parte do SUS”, completa o residente.