A parcela de trabalhadores com nível superior completo no mercado de trabalho da Região Metropolitana de Salvador (RMS) cresceu entre os anos 2000 e 2010, passando de 8,2% da População Economicamente Ativa (PEA) para 13,2%. Embora a ampliação da escolaridade tenha ocorrido para ambos os sexos, o ritmo de incorporação das mulheres com nível superior completo na força de trabalho foi mais acelerado (de 9,8% para 16,1%) do que o dos homens (de 6,7% para 10,6%). As informações fazem parte de um estudo da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) na RMS, realizado pela Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), autarquia da Secretaria do Planejamento (Seplan), em parceria com o Departamento Intersindical de Estudos e Estatística Socioeconômicos (Dieese), a Fundação Seade e a Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte (Setre).

O estudo observou o impacto da ampliação do nível de escolaridade das mulheres e sua inserção no mercado de trabalho e confirmou que o aumento do nível de escolaridade permite melhores inserções produtivas e maiores rendimentos. Em 2010, 79,3% das mulheres economicamente ativas, com curso superior completo, estavam empregadas, contra apenas 26,4% daquelas que possuíam até o ensino fundamental incompleto.

A posse do diploma universitário também promove maior poder aquisitivo, o rendimento médio das ocupadas com ensino superior completo em 2010 foi de R$ 2.157, enquanto o das mulheres com escolaridade mais baixa ficou em R$ 677. Independentemente do sexo, a obtenção do diploma de nível superior por parte dos trabalhadores diminui sensivelmente as chances de incidência do desemprego.

No ano passado, 9,1% da PEA feminina com ensino superior estava desempregada, enquanto a taxa de desemprego para as trabalhadoras com até o ensino superior incompleto era de 22,7%. Entretanto, mesmo entre os trabalhadores mais escolarizados, persistem os diferenciais entre as taxas, enquanto a taxa de desemprego da população feminina com ensino médio completo foi de 22,7%, a masculina ficou num patamar bem menor – 12,2%.

O economista da SEI, Luiz Chateaubriand, diz que, de uma forma geral, há uma significativa melhora na qualidade do funcionamento do mercado de trabalho na RMS. “Em 2003, um terço da População Economicamente ativa estava desempregada, um contingente de cerca de 400 mil pessoas. Em 2010, batemos o recorde de taxas de desemprego negativas por meses seguidos. A queda da taxa de desemprego decorre de vários fatores, o mais significativo é o aumento da ocupação. Hoje, dois terços da população ocupada da RMS é assalariada”.

Caracterização das mulheres ocupadas com ensino superior completo

Entre 2000 e 2010, o nível ocupacional feminino na RMS cresceu 43,1%, impulsionado, sobretudo, pela absorção das mulheres de escolaridade mais elevada – para aquelas que contavam com o ensino médio concluído e o superior incompleto a ocupação aumentou 102,2% e para as que haviam completado a educação superior 107,8%.

A ocupação também ascendeu para os homens, favorecendo especialmente aos segmentos mais escolarizados. Mas de modo acentuado e concentrado na parcela masculina com ensino médio completo e superior incompleto, o qual o contingente aumentou 123,0%, enquanto a com ensino superior completo se elevou em 94,0%. No seu conjunto, o número de homens ocupados (+41,9%) se elevou aquém do observado para as mulheres (43,1%).

A elevação do nível educacional, em particular o acesso ao diploma de ensino superior, parece contribuir para uma maior concentração da atuação profissional das mulheres da RMS no setor de serviços. Com efeito, os resultados apurados pela PED em 2010 mostram que 88,2% das mulheres com nível superior completo encontravam-se no setor de serviços, em face de 55,4% das ocupadas que não haviam concluído a etapa universitária. Observou-se, no entanto, uma inserção setorialmente mais diversificada entre as mulheres que tinham até o ensino médio completo e o superior incompleto, apesar de também esse grupo estar inserido mais intensamente no setor de serviços.

Trabalho assalariado

A importância do emprego no setor privado com carteira assina cresceu, em proporções muito próximas, para as mulheres e para homens com ensino superior completo, passando de 27,6% para 39,8% e de 27,8% para 39,4%, respectivamente, entre 2000 e 2010. Na última década, com uma conjuntura econômica favorável, houve substancial elevação do trabalho com carteira assinada nos setores público e privado, com destaque para o setor privado. A expansão destas inserções, que garantem os direitos trabalhistas, favoreceu aos dois sexos, mas também de forma diferenciada segundo níveis de escolaridade. Notadamente, o emprego registrado em carteira gerado por empresas privadas foi ampliado para a parcela masculina dos trabalhadores que contavam com a escolarização até o curso universitário incompleto.

Para a população masculina ocupada deste segmento, o percentual de assalariados com carteira assinada cresceu de 40,8%, em 2000, para 51,9%, em 2010. Dentre as mulheres ocupadas deste grupo, a absorção nesta modalidade ocupacional aumentou de 24,9% para 36,5%, no período analisado. Com isto, a presença masculina no assalariamento privado legalizado, embora amplamente majoritária, diminuiu de 67,1% para 64,5%, entre 2000 e 2010, enquanto, no mesmo período, a presença feminina passou de 32,9% para 35,5%.

Examinada sob a ótica dos grupos ocupacionais que expressam diferentes níveis hierárquicos a inserção das mulheres com ensino superior completo preponderantemente se dava, em 2010, em postos de direção, gerência e planejamento (44,8%). Secundariamente, elas desenvolviam tarefas de execução (33,2%), e, em sequência, atividades de apoio (18,6%). No confronto com o observado para os homens que haviam concluído o ensino universitário, ressalta-se a maior proporção de mulheres nas tarefas de execução (67,9%) e apoio (63,4%).

Rendimentos e jornada 

A posse do diploma universitário, que, inegavelmente, promove maior poder aquisitivo da população feminina, não garante equidade entre as remunerações de homens e mulheres. No último ano, o rendimento das ocupadas de menor escolaridade equivalia a 66,3% dos valores auferidos pelos homens de mesmo nível de instrução, enquanto dentre o segmento de ensino superior, os ganhos das mulheres, em média, alcançaram 69,4% dos masculinos.

Em dez anos, a elevação do rendimento médio das mulheres que tinham até o ensino superior incompleto, entre outras razões, impulsionado pela política de valorização do salário mínimo, associada ao declínio dos ganhos dos ocupados e ocupadas de ensino superior, provocou a redução dos diferenciais de remuneração na RMS, entre os diferentes níveis de escolaridade.

De acordo com os dados da PED, em regra, as mulheres auferem rendimentos inferiores aos dos homens, ainda que possuam o mesmo nível de escolaridade e a mesma forma de inserção ocupacional. No mercado de trabalho assalariado com carteira assinada, por exemplo, as mulheres e os homens com nível superior percebiam por hora trabalhada, em 2010, R$ 13,26 e 18,15, respectivamente.

Em relação a 2000, de modo geral, os rendimentos de mulheres e homens com nível superior completo sofreram reduções, inclusive, entre aqueles que ocupam posições mais elevadas, como posto direção, gerência e planejamento. No entanto, decréscimo proporcionalmente maior observado no rendimento por hora dos homens, fez com a relação existente entre a remuneração feminina e masculina, nesse grupo ocupacional, tenha apresentado pequena alteração, entre 2000 e 2010

Inserção feminina no mercado de trabalho

A inserção das mulheres no mercado de trabalho da RMS apresentou melhorias no ano de 2010, em relação a 2009, traduzidas em elevações do nível de ocupação e de rendimento e redução na taxa de desemprego. Para a população feminina foram gerados 35 mil postos de trabalho, volume suficiente para absorver a incorporação 14 mil mulheres à força de trabalho local e ainda reduzir o contingente de desempregadas em 21 mil pessoas.

O crescimento mais acentuado dos rendimentos da população feminina provocou redução da desigualdade da remuneração do trabalho entre os sexos na RMS, fazendo com que proporção dos rendimentos médios auferidos pelas mulheres em relação aos dos homens passasse de 82,4%, em 2009, para 85,2%, em 2010.

A taxa de desemprego total feminina diminuiu, pelo sétimo ano consecutivo, de 23,2% para 20,5%, entre 2009 e 2010. Em maior proporção, também se reduziu a taxa masculina, de 15,9% para 12,9%. A expansão do nível ocupacional (5,1%) ocorreu, especificamente, em dois setores econômicos em que se observa elevada presença feminina – os serviços (+25 mil postos de trabalho) e o comércio (+9 mil ocupações).

O reduzido contingente feminino na indústria diminuiu (-2 mil), a exemplo dos serviços domésticos (-1 mil), área em que a maioria feminina é esmagadora. Para os homens, a expansão no número de ocupados se deu em volume maior (+52 mil) e de modo disseminado por todos os setores, com destaques para o setor de serviços (23 mil) e o da construção civil (16 mil), setor em que a presença feminina é residual.

As novas ocupações, tanto para as mulheres quanto para os homens, foram geradas, sobretudo, no setor privado com carteira de trabalho assinada, no setor público e, destacando-se em termos relativos, entre os empregadores. Os tipos de ocupações criadas entre 2009 e 2010 certamente influenciou o aumento do rendimento médio real por hora, que para as mulheres passou de R$ 5,19 para R$ 5,54 (+6,8%) e para os homens se elevou de R$ 6,29 para R$ 6,50 (+3,4%).