Milhares de baianos e turistas se reúnem diariamente, desde o último domingo (4), nas ruas da cidade de Cachoeira, no Recôncavo baiano, para participar dos festejos de Nossa Senhora D’Ajuda, um dos mais tradicionais, que prosseguem até a próxima terça-feira (20).

Nos últimos anos, a festa em homenagem à santa, que era padroeira dos senhores de engenho no município e região, tem atraído a atenção das pessoas, deixando o turismo étnico em alta. “Eu recebo na minha pousada gente do mundo todo querendo conhecer mais sobre o candomblé, as mães de santo. O estabelecimento fica cheio. Até o fim da semana não há vagas”, disse o gerente geral da Pousada D’Ajuda, Juracy Rocha.

A festa tem um forte apelo popular. Além das comemorações religiosas, há desfile de mascarados e mandus, tradicional personagem do Recôncavo. Na tarde desta terça (13), foi a vez do Terno do Acarajé, comandado por Dona Dalva, criadora do Samba de Roda Suerdieck.

“É com prazer que desfilamos com esse terno, uma homenagem a todas as baianas que existem. Espero, um dia, poder reunir todas aqui em Cachoeira, para fazer uma festa ainda maio”, disse Dona Dalva. Nesta quarta (14) é a vez do Terno das Cozinheiras, às 16h. Na quinta (15), às 10h, o Terno das Crianças, e na sexta, às 16h, o Malandrinhas.

Missa e procissão

Sábado (17), a partir das 19h30, será celebrada a missa solene, seguida de procissão religiosa pelo centro histórico. No domingo (18), a cidade será acordada pelo Terno da Madrugada, que desfila a partir das 5h. O encerramento da festa acontecerá na terça (20), a partir das 16h, com o desfile do Terno da Saudade. Durante os ternos são entoados cânticos que animam os devotos e chamam a atenção por onde passam. “Eu gosto de ver manifestações como essa, com banda de sopro e percussão. Têm tudo a ver com esta cidade, lembra antigos carnavais. Quando cheguei a Cachoeira soube da festa e resolvi prestigiar”, afirmou o turista soteropolitano Julien Karl.

De acordo com o pesquisador Cacau Nascimento, a presença da afroreligiosidade merece destaque. Durante o desfile tem a presença dos exus, dos mascarados, dos mandus que remontam religiosidade africana. Afinal, segundo ele, a festa na sua essência está ligada aos movimentos sociais abolicionistas que ocorreram por volta de 1870. ´”É uma sobrevivência do africano, que ainda faz referência as comemorações da abolição da escravatura”.

Comunidade quer registro da comemoração como bem imaterial

A capela de Nossa Senhora D’Ajuda foi construída pelos portugueses durante a colonização do Brasil. A irmandade que leva o nome da padroeira existe há cerca de 400 anos e a festa pelo menos 190. Para preservar os festejos estudos estão sendo realizados, com o objetivo de torná-los um bem imaterial da Bahia.

A comemoração faz parte do calendário turístico da Bahia, movimenta a economia, promove integração e a participação dos moradores do Recôncavo. “Estamos tentando reunir documentos junto com o Ipac [Instituto do Patrimônio Artístico e Cultura do Estado da Bahia] há dois anos para tornar esse patrimônio imaterial. Não queremos deixar que a festa perca suas características originais, e com o tombamento isso fica mais fácil”, explicou o presidente da Irmandade Nossa Senhora D’Ajuda, Aldo Santos Figueiredo.