A troca do nome do Colégio Emílio Garrastazu Médici, no Stiep, em Salvador, por Colégio Carlos Marighella, foi marcada pela memória da luta em defesa da democracia. Participaram da solenidade realizada, nesta sexta-feira (11), o governador Jaques Wagner, o secretário da Educação, Osvaldo Barreto, e Carlos Augusto Marighella, filho do ex-militante comunista homenageado, e da neta, Maria Marighella.

As fotografias e recortes de jornais com notícias da época da ditadura decorando o pátio relembravam artistas, personagens e momentos históricos de luta. Para a adoção do nome de Carlos Marighella foi realizada uma eleição, em que os alunos puderam votar, após passar por um período de pesquisas e estudos sobre o assunto.

Estudante da 8ª série da escola, Jandiara Aragão, 15 anos, foi uma das que votaram pela troca do nome. “Eu acho que a nossa escola, por ser muito legal, não merecia ter o nome de alguém que não era bom para a sociedade. Então a gente resolveu mudar o nome para Carlos Marighella, uma pessoa que ajudou a reunir muitas coisas boas”.

Carlos Augusto Marighella se disse muito emocionado. “Meu pai virou documentário, livro, músicas de Caetano e de Mano Brown. Depois de morto, teve seu mandato de deputado restituído. De todas as homenagens, esta é a que mais me emociona porque os alunos e professores decidiram, espontaneamente, tirar o nome de um daqueles que difamavam e ofendiam meu pai, adotando para o colégio o nome de Carlos Marighella.

O governador disse que a Bahia tem uma lei estadual, a qual permite que cada comunidade escolar possa rebatizar o colégio. “Os alunos e professores podem escolher o nome de uma pessoa, um educador, ou de quem eles decidirem. Esta aqui chamou muito a atenção porque tirou o nome de um dos governantes do período militar para adotar o de um dos lutadores pela democracia no Brasil. Eu fico feliz porque é uma coisa espontânea e Carlos Marighella merece todas as nossas homenagens”.

Democracia

Para o secretário Oswaldo Barreto, a iniciativa ensina aos jovens a força da democracia. “Este é um momento simbólico neste momento histórico lembrado pela Secretaria da Educação, no projeto Direito à memória – 50 anos da ditadura militar, em parceria com a Secretaria de Cultura [Secult]. Este ato resgata o nome de um combatente do povo brasileiro, que sempre pensou na construção de um novo país”.

Carlos Marighella nasceu em Salvador, onde concluiu os cursos do primário e secundário. Foi preso pela primeira vez em 1932, após escrever um poema contendo críticas ao interventor Juracy Magalhães. Prosseguiu na militância política e, em 1934, abandonou o curso de engenharia civil da Escola Politécnica da Bahia para ingressar no PCB, e fundou a Aliança Libertadora Nacional (ALN).

Atuante na luta contra o golpe militar de 64, ele morreu na noite de 4 de novembro de 1969, ao ser surpreendido numa emboscada na Alameda Casa Branca, na capital paulista. Ele foi morto a tiros por agentes do Dops, numa ação coordenada pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury. A ALN continuou em atividade até 1974.

Publicada às 16h30
Atualizada às 19h