A cabeleireira Maria Helena Silva Santos, 47 anos, mora desde 1970 na Baixinha de Santo Antônio, no bairro de São Gonçalo do Retiro, em Salvador. Quando criança, ela vivia em uma casa rodeada por árvores e precisava andar até o Imbuí e a Boca do Rio para entregar as roupas lavadas pela mãe.

Nos últimos anos, a cabeleireira viu a ocupação desordenada elevar para 2.320 o número de residências da localidade. “Tudo isso aqui era só mato. Eu vi esse bairro crescer. Não tinha água, não tinha luz. Hoje eu e todos os moradores queremos mais”.

Maria Helena faz parte dos 7,7 mil habitantes da localidade que aguardam a implantação do programa Bairro da Gente, projeto urbanístico a ser escolhido por meio do Concurso Público Nacional de Ideias de Arquitetura e Urbanismo para Assentamentos Subnormais (Favelas).

“É um sonho que eu quero ver ser realizado. Esse projeto caiu como uma luva para a gente. Estamos esperançosos. Que o escritório que ganhe faça um bom trabalho e a comunidade também ajude”, afirma Maria Helena.

Concurso

Lançado em junho deste ano pelo Governo da Bahia, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Urbano (Sedur), o concurso é realizado pelo Instituto de Arquitetos do Brasil – Departamento da Bahia (IAB-BA).

Profissionais de todo país podem elaborar propostas para atender às necessidades da população da Baixinha de Santo Antônio, articulando ações de infraestrutura básica, mobilidade e acessibilidade. As inscrições estão abertas até o dia 20 do próximo mês de agosto.

Segundo o coordenador da seleção, Neilton Dórea, o objetivo é selecionar um projeto que se torne referência para outros bairros de Salvador e do interior do estado. “Essa é uma proposta da Sedur de replicar a experiência de intervenções nos bairros carentes. O projeto piloto é esse da Baixinha de Santo Antônio”.

Contrato 

De acordo com os moradores, os principais problemas da localidade são a falta de saneamento básico, de opções de lazer e transporte, além do risco de deslizamento de encostas. “Quando chove é ainda mais complicado. O barranco fica desmoronando e não tem como ninguém subir, porque a água desce como uma cachoeira”, afirma o hidráulico Misael Souza Conceição, 19.

Após a assinatura do contrato com a Sedur, o primeiro classificado realizará reuniões com os moradores antes de executar o projeto. “Quem ganhar o concurso tem uma obrigação de ouvir a comunidade. O mais importante do urbanismo é a população”, diz Dórea. O edital e o cronograma podem ser acessados no site do concurso.