João Gomes Barroso Neto, baiano de 71 anos que participou da Revolta dos Marinheiros, em 25 de março de 1964, no Rio de Janeiro, prestou depoimento na manhã desta segunda-feira (22) à Comissão Estadual da Verdade – Bahia, quando disse que a manifestação defendia as reformas de base e melhores condições para a categoria.

Vice-presidente do Núcleo de Apoio aos Militares Anistiados Políticos Sediados na Bahia (Namaps), João Barroso, que foi excluído da Marinha em dezembro de 1964, contou detalhes da assembleia dos marinheiros na sede do Sindicato dos Metalúrgicos no Rio de Janeiro, dias antes do golpe militar.

João Barroso disse que a assembleia de 25 de março, que acentuou a polarização política no país, teve a presença maciça de marinheiros e foi realizada para comemorar o aniversário da Associação dos Marinheiros e Fuzileiros Navais do Brasil e manifestar apoio ao presidente João Goulart.

Prisão dos diretores

Segundo ele, agentes do Centro de Informações da Marinha (Cenimar) prenderam diretores da entidade. Os marinheiros, então, decidiram permanecer em assembleia permanente até que os presos fossem libertados. Os fuzileiros navais enviados para prender os manifestantes, ao chegarem ao Sindicato dos Metalúrgicos, depuseram as armas e se integraram à assembleia.

A assembleia permanente ficou até o dia 27 de março de 64, quando os presos foram libertados e o ministro da Marinha, almirante Silvio Mota, renunciou. Depois do golpe militar, foram efetuadas cerca de 1.300 prisões na Marinha, segundo ele, que foi excluído da corporação em dezembro de 64 e hoje é anistiado.

Revolta da Chibata

João Barroso contou que "naquele tempo, marinheiro não era gente, não podia estudar, não podia casar e recebia maus-tratos e uma alimentação da pior qualidade".

Traçou ainda um paralelo entre a Revolta dos Marinheiros de 64 e a Revolta da Chibata, em novembro de 1910, quando marinheiros amotinados tomaram quatro navios de guerra fundeados na Baía da Guanabara, revindicando melhores condições de trabalho na Marinha de Guerra. Qualquer falta disciplinar era punida com prisão a ferros, chibatadas e palmatória.

Segundo ele, o líder da Revolta da Chibata, João Cândido, foi à assembleia de março de 64 prestar solidariedade aos marinheiros, quando disse: "Meus filhos, não tenham medo, lutem que a vitória é nossa".

Criada em dezembro de 2012, por meio do decreto estadual 14.227, a Comissão Estadual da Verdade já ouviu 53 pessoas vítimas do regime militar em Salvador e Feira de Santana, e recebeu cerca de 600 documentos que comprovam violações aos direitos humanos.