A banda formada por pacientes do Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (Caps-AD) Gregório de Mattos e seus familiares celebraram o 25 de setembro – Dia Estadual de Prevenção e Enfrentamento ao Crack na Bahia – com muita música. O grupo, que participa de oficinas musicais coordenadas por integrantes da Universidade Federal da Bahia (Ufba), realizou um ensaio na sede da unidade, no Terreiro de Jesus, no Centro Histórico de Salvador.

O propósito das atividades lúdicas é reduzir o dano do dependente químico, tendo o paciente como voluntário. Sob os cuidados do Caps, o usuário é submetido a um plano terapêutico, que inclui oficinas de música, desenhos, pinturas e modelagem. Cada usuário tem acompanhamento individual e em grupo.

O suporte do Centro foi a salvação para o percussionista José Pereira de Brito, que durante anos ficou refém do vício. “Me envolvi com drogas na tentativa de me livrar da tristeza. Passei a viver na rua e a ser chamado de mendigo. Usava cocaína e bebia cachaça, e, por vezes, usei crack. Tive uma vida desregrada até perceber que tudo aquilo estava me fazendo muito mal”.

Quando chegou a essa situação, José disse que procurou ajuda no Caps e passou a fazer parte das oficinas musicais. “Já era músico de ouvido e foi aqui que comecei a aprender as partituras. Há um ano estou limpo. Foi muito difícil largar o vício, mas a música me libertou”.

Para o artista plástico Hans Peter, coordenador das oficinas de artes do Caps Gregório de Mattos, a arte é uma ferramenta fundamental para a libertação do vício ou redução dos anos causados por ele. “É muito importante o elemento que a arte tem – de você trabalhar com o lúdico e mexer com a criatividade”.

Além disso, segundo ele, “todo o paciente que abusa do uso de substâncias psicoativas perde memória e concentração, e a arte é rica nisso. O principal é o prazer. Quando você deseja parar de usar drogas, vai precisar substituir o prazer que ela te proporcionava. Não dá para tirar e o usuário se sentir vazio”.

Centro 

Fundado há mais de dois anos, o Caps-AD Gregório de Mattos fica localizado no prédio da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia (Ufba). A unidade é resultado de uma parceria firmada entre o Governo do Estado, por meio da Secretaria da Saúde do Estado (Sesab), e a Ufba, com o objetivo de oferecer suporte a usuários de drogas e familiares, além de capacitação a profissionais de saúde vinculados ao Caps.

“De 2013 até este ano, mais de 200 trabalhadores participaram das atividades de preparação oferecidas pelo centro. A quantidade deve aumentar nos próximos anos, já que o modelo docente assistencial do Caps tem interessado muitas cidades do interior do estado”, afirmou a sub-coordenadora de Políticas Transversais da Sesab, Keila Fernandes.

Seminário

“O meu filho estava perdendo peso e eu não imaginava o que poderia estar fazendo aquilo com ele. Recorri a medicamentos ricos em vitaminas, mas não adiantava. Cheguei a pensar que ele era soropositivo. Só fiquei sabendo que o meu menino usava crack quando uma vizinha me falou. Ela soube primeiro, pois na noite anterior meu filho havia pedido dinheiro de madrugada muito agitado e demonstrando irritação”.

O depoimento é da dona de casa Fátima Melo, que participou do I Seminário PET Redes de Atenção Psicossocial, iniciado na manhã desta quinta-feira (25), na Faculdade de Medicina da Ufba. Ela é mãe de Máximo Santos, 35 anos, ex-usuário de drogas, fato que a levou a depressão nos últimos anos.

A família, como disse Fátima, “já havía perdido tudo. Não tínhamos mais casa, carro. Acabamos por morar de favor, na casa de minha cunhada. Todos participavam do problema do Máximo, direta ou indiretamente. Sofri muito e não tinha forças para superar aquela situação”.

Os problemas vividos por mãe e filho, que aparentemente não tinham solução, acabaram há pouco mais de um ano. Contando com os serviços do Caps-AD Gregório de Mattos, Máximo deixou o vício e Fátima superou a depressão.

Emoção

O gaúcho Eduardo Brignol, 23 anos, também é um exemplo de superação. Viciado em drogas desde os 17, o estudante chegou a ser internado em clínicas de reabilitação no Rio Grande de Sul, mas ao recorrer aos serviços do Caps, que incluem atividades lúdicas e terapia, deu a volta por cima. “Antes eu não conseguia perceber o mal que a droga fazia a mim e aos mais próximos. Cheguei a ficar sem ninguém. Meus familiares começaram a se afastar de mim”.

Para fugir da situação, ele deixou Porto Alegre, vindo para Salvador, “onde encontrei o Caps. Aqui, tive todo apoio e orientação necessária para me afastar do vício. Mesmo sem usar nenhum tipo de drogas há quase dois anos, continuo contando com o suporte do Centro”.

Os relatos são os mais diversos. Eles emocionam pelo teor dramático e despertam curiosidade. Pela relevância dos inúmeros casos de envolvimento com drogas, o I Seminário PET Redes de Atenção Psicossocial, organizado pela Escola de Enfermagem da Ufba, discute até esta sexta-feira (26) temas relacionados a saúde mental e o atendimento a dependentes químicos