Antes mesmo dos fogos na alvorada, na Lapinha, o aposentado Edísio Gomes, 74 anos, já se enfeitava, desde às 4da manhã, com os ornamentos do Caboclo, para participar das festividades dos 184 anos da Independência da Bahia, neste 2 de julho. Há 48 anos, ele imita o símbolo maior da participação popular nas batalhas ocorridas em 1823. "É uma honra", afirmou.

A mesma honra reuniu, logo cedo, centenas de baianos no local, interessados em acompanhar desde o início a saída dos carros alegóricos do Caboclo e da Cabocla, no Pavilhão 2 de Julho, que foi restaurado especialmente para o evento. Uma solenidade com hasteamento das bandeiras do Brasil, da Bahia e de Salvador, além do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHBA), deu início, tradicionalmente, às comemorações em Salvador na data magna do estado.

Mesmo antes de se eleger governador da Bahia, Jaques Wagner sempre acompanhou as atividades cívicas do 2 de Julho. Esta foi a primeira vez que participou da solenidade de hasteamento da bandeira do Brasil. "É um momento em que a Bahia celebra sua força numa luta histórica pela independência para ter um estado livre do domínio português, permeando esse espírito de conquista de liberdade nessa terra hoje de todos nós", afirmou Wagner, destacando também o novo perfil do governo, traduzido no slogan: "Bahia Terra de Todos Nós".

Ao lado do ministro da Defesa Civil, Waldir Pires, do prefeito João Henrique Carneiro, e do comandante da Polícia Militar, coronel Jorge Santana, entre outras autoridades civis e militares, Wagner colocou flores no monumento ao general Labatut. Foi o general que, no passado, liderou as tropas nas batalhas travadas contra o exército português, liberado por outro general, Madeira de Melo. O momento foi relembrado pela historiadora Consuelo Pondé de Sena, presidente do IGHBA.

O estado só conquistou a independência no ano seguinte à proclamação feita por D. Pedro I, em 7 de setembro de 1822 – numa resistência ao domínio que já se revelava 17 meses antes nas regiões do Recôncavo baiano, culminando com a entrada das tropas vitoriosas em Salvador no dia 2 de julho de 1823. "Foi o grande marco e exemplo da heróica resistência, hoje também comum na luta diária pela sobrevivência dos excluídos da ordem social", disse Consuelo.

Homenagens

"Vamos louvar aos nossos heróis e caminhemos juntos por um justiça social para a nossa cidade, nosso estado e para toda a sociedade", declarou o prefeito João Henrique Carneiro. "Viva, viva!", encerrou o discurso, autorizando o início do desfile dos carros da Cabocla e do Caboclo.

Às 9h30, do largo da Lapinha, partiu o desfile, ato comemorado pelo "caboclo" Edésio. Assim como ele, outros baianos, muitos também fantasiados, seguiram os carros alegóricos e o cortejo das autoridades, numa celebração sem limites de idade. As meninas Samilly e Daiane, de 10 e 11 anos, respectivamente, também estavam lá, vestidas de índia. A mãe, a artesã Olívia Brito, as enfeita para o 2 de Julho desde quando elas tinham 1 ano de idade."É a festa da Bahia que eu mais gosto pela valorização que se dá a união das raças que formam o povo brasileiro e o espírito de luta e alegria do povo baiano".

Quem estava eufórica por estar na Bahia foi a aposentava Edite Souza, 68 anos. A baiana estava morando em São Paulo, onde lembrava do 2 de Julho, inconformada por não poder participar do desfile. Enfeitada de verde e amarelo, ela caprichou no retorno às comemorações. "A participação da mulher deve ser destacada", disse a aposentada, que se considera fã da heroína Maria Quitéria, que se vestiu de soldado para participar das lutas pela liberdade da Bahia.

Fachadas enfeitadas, bandeirolas e faixas com mensagens de celebração – e também de manifestação contra a injustiça social histórica no país – decoravam o Largo da Lapinha. Na concentração para o desfile, o historiador americano Dale Graden observava tudo, atento, já em sua segunda visita ao estado para ver as festividades do 2 de Julho. "É impressionante", disse Graden, que ensina História da América Latina na Universidade de Idaho, nos Estados Unidos.