A Coordenação de Educação Indígena da Secretaria da Educação (SEC) reuniu ontem e hoje (16), no Instituto Anísio Teixeira (IAT), 20 formadores e monitores para discutir e planejar o Curso de Magistério Indígena, que será ministrado no mês de setembro para formação de 115 professores indígenas, em nível médio. As discussões visam operacionalizar os módulos V e VI do curso – quatro módulos foram realizados ano passado. Esses professores darão aulas em Paulo Afonso, Itabuna e Eunápolis.

A reunião serviu também para a discussão da ementa do curso, cujos assuntos devem considerar a realidade das comunidades indígenas, as especificidades culturais, de caracterização da língua, dos modos de trabalho e da responsabilidade de preservação territorial. A coordenadora de Educação Indígena, Rosilene Cruz Tuxá, falou da importância de trabalhar os instrumentos de avaliação desses professores e definir as melhores formas de lhes prestar monitoria.

“O currículo desses cursos deve estar voltado para a cultura indígena. Eles precisam subsidiar uma escola que ensine a partir do local onde está, para que também a aldeia como um todo participe da gestão dessa escola”, explica Tuxá. Ela entende que o investimento em educação indígena será agente fortalecedor das comunidades e de suas culturas e tradições.

Pesquisa

O trabalho dos professores formados no curso vai além da reprodução de conteúdos em sala de aula. “Todo o processo de formação leva em conta a pesquisa. Ao invés de serem meros reprodutores de conteúdo, os professores indígenas serão também produtores de conhecimento”, ressaltou o formador do curso de magistério e professor da Uneb, Francisco Guimarães. Tudo isso, como explica, é necessário para uma formação escolar específica e diferenciada. Os alunos aprendem metodologia de pesquisa e farão oficinas de produção de material didático para os alunos de ensino médio e fundamental indígenas.

A pesquisa é importante também para recuperar fragmentos das línguas indígenas. O processo de colonização mais violento que ocorreu nos estados do Nordeste, forçou milhares de indígenas ao abandono de suas línguas e práticas culturais. “Não há tribos na Bahia que falem suas línguas originais. Todos falam português. Podemos verificar expressões de “português tuxá” ou de “português pataxó, mas não encontramos línguas intactas”, lembra o professor Francisco Guimarães.

O formador Ademário Pataxó informou que há um processo de reescrita e ressignificado da língua das tribos Pataxó. “Nós já conseguimos reunir três mil palavras da língua patxohã que são trabalhadas em sala de aula. Isso é um incentivo para que os alunos busquem falar a sua língua”, enfatizou Ademário. Ele se refere a esse estudo como grande conquista para o povo Pataxó, que desde 1880 vem lutando por reconhecimento e apoio à sua cultura.

Todo o trabalho de pesquisa visa ainda à produção de monografias pelos educadores indígenas que façam referência às comunidades indígenas pesquisadas no estado. É um processo de afirmação de identidades que a SEC incentivará junto aos 12 povos indígenas da Bahia.