Desenvolver variedades de cebola adaptadas às condições climáticas do Vale do São Francisco, que possibilitem ao agricultor familiar plantar e obter uma maior produtividade e assim aumentar a renda de sua família. Este é o propósito dos campos de avaliação de cebola, implantados naquela região, dentro do projeto de desenvolvimento de populações, cultivares e híbridos de cebola de cor roxa, amarela e cascuda para o Nordeste brasileiro.
Executados pela Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA), vinculada à Secretaria da Agricultura (Seagri), em parceria com Embrapa Semi-Árido, os campos já foram instalados em Sento Sé e Sobradinho e estão em fase de implantação em Curaçá e Juazeiro, todos em áreas de produtores de cebola.
O comportamento de dois cultivares disponibilizados pela Embrapa e Instituto Pernambucano de Pesquisa Agropecuária (IPA), Alfa São Francisco e Brisa IPA – 12, respectivamente, foi avaliado pela EBDA, durante todo o ano de 2006, na Unidade Estadual de Pesquisa, em Juazeiro, comparando-os com a IPA – 11, variedade tradicionalmente cultivada pelos produtores do Vale.
Nessas avaliações, a Alfa apresenta maior quantidade de bulbos comerciais (formação de cabeças arredondadas propícias para comercialização). Entretanto, não foram observadas diferenciações, no que se refere à produtividade, entre a IPA 11 e a Alfa São Francisco, que ficaram em torno de 23 toneladas por hectare.
De acordo com o técnico da empresa, George Bandeira, a IPA 11, uma cebola tradicionalmente plantada na região e conhecida pela maioria dos agricultores familiares, é recomendada principalmente para o primeiro semestre, pois tem problemas de bulbificação (cebolas com formatos irregulares), em decorrência das altas temperaturas que ocorrem no segundo semestre.
Já a Alfa São Francisco mostrou-se mais adaptada e com boa produtividade para o período quente. “O nosso objetivo é mostrar ao agricultor mais uma alternativa de variedade de cebola, principalmente para o segundo semestre, para que tenha boa produtividade durante todo o ano”.
A 6 quilômetros de Sobradinho, na propriedade de João Games da Silva, 39 anos, as variedades Alfa São Francisco e IPA 11, com 20 dias de plantadas, estão em fase inicial de germinação e vão ser comparadas quanto ao tamanho, bulbo e produtividade. “Estamos precisando mesmo de novas variedades para o segundo semestre, quando o clima é mais quente e costumamos perder muita cebola. Vamos nos adaptar a plantar cada variedade em seu tempo, para podermos aumentar a nossa renda”, disse João.

Regiões produtoras

Na Bahia, são três regiões produtoras de cebola: a do Vale do São Francisco, que se estende de Xique-Xique até Curaçá; a de Irecê, que embora faça parte do Vale tem uma característica isolada, a cebola é plantada no sistema direto mecanizado, irrigado por aspersão, principalmente por pivô central e a água é de poços tubulares.
A região de Irecê planta atualmente 500 hectares de cebola, tendo longa tradição de cultivo. Mucugê é o outro município produtor. Localizado na Chapada Diamantina, produz cebolas híbridas, com alta produtividade e alto nível tecnológico. No município, o plantio é feito em duas grandes fazendas com uma área total de 500 hectares de exploração.
Os municípios de Santo Sé e Casa Nova são os maiores produtores de cebola da Bahia com 1,5 mil hectares e 1,3 mil hectares, respectivamente. O Vale São Francisco chega a plantar cinco mil hectares de cebola, beneficiando diretamente 6 mil agricultores.

Comercialização
(Boxe)

A comercialização de cebola no Vale do São Francisco, de acordo com o técnico George Bandeira, é uma preocupação, mas a empresa orienta os agricultores quanto ao tempo de plantar e colher, para que se obtenha uma venda com sucesso. Ele também ressalta que é durante o Seminário Nacional de Cebola, que acontece anualmente entre março e abril, que se tem uma previsão de safra para todo o período.
Assim que os técnicos retornam do seminário, realizam reuniões nas unidades de produtores para passarem as informações sobre as perspectivas da oferta do produto durante todo o ano. No segundo semestre, a maior oferta de cebola no mercado é do estado de São Paulo, que consome quase 50% de toda a cebola produzida no Brasil. Se, no Vale, o produtor optar por produzir cebola no segundo semestre, a orientação dos técnicos é que o agricultor diminua a área plantada, evitando assim o choque de produção com os estados do Sudeste.
“O ideal é que a colheita seja programada aqui, na região do semi-árido, para acontecer até o mês de julho. Nos meses seguintes diminuímos a oferta, para que os agricultores tenham uma comercialização de sucesso”, explicou George.
Ultimamente, alguns produtores, em decorrência desse processo de conscientização sobre oferta de cebola, já estão retraindo mais o plantio do segundo semestre. “Pelas orientações dos técnicos, percebo que se me adequar a esta mudança tenho a área reduzida, mas, em compensação, uma produtividade e remuneração adequadas à oferta, e atendendo ao mercado” afirmou João Silva, agricultor de Sobradinho.
Histórico da cultura

A cebola começou a ser produzida no Vale do São Francisco na década de 50. Com solo e clima favoráveis, a cultura se expandiu por todo o vale, atraindo pesquisadores e melhoristas genéticos de outros países, como os Estados Unidos. Com o desenvolvimento da região e a chegada da Codevasf e da Embrapa, novas variedades foram sendo desenvolvidas.
O IPA também contribui para essa expansão, tanto que, no Nordeste, 95% das variedades cultivadas hoje são originárias do Instituto. A EBDA, enquanto empresa de pesquisa e extensão, contribui no desenvolvimento da cultura na região, através de trabalhos de pesquisa, isoladamente ou em conjunto com as diversas entidades parceiras, capacitando e assistindo os cebolicultores nos diversos municípios produtores.