A restauração da Estação Ferroviária São Francisco, em Alagoinhas, começa a ser discutida pelos governos federal, estadual e municipal. Em visita ao município na sexta-feira (26), o secretário estadual de Cultura, Márcio Meirelles, o diretor-geral do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (Ipac), Frederico Mendonça, e o prefeito de Alagoinhas Joseildo Ribeiro Ramos, decidiram unir esforços neste sentido.

A intenção é buscar a participação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e do empresariado para viabilizar a reforma, antiga reivindicação dos moradores. Tombado em 2002 pelo Ipac, mas sem nenhum projeto de intervenção, o prédio da estação já sofreu vários desabamentos em grande parte da sua estrutura, o que coloca em risco não só o patrimônio, como a vida das pessoas

Para fazer o diagnóstico e desenvolver o projeto de intervenção emergencial visando evitar novos desabamentos, ficou acertada a visita ao local, ainda esta semana, de uma equipe de técnicos do Ipac, do Iphan e da Conder, acompanhados por uma das maiores autoridades em restauração de estruturas metálicas, o estruturalista Emílio Strauss, professor da Universidade Federal da Bahia (Ufba).

A estrutura da Estação Ferroviária São Francisco é única no Brasil. Construído em 1863, o monumento histórico possui influência neoclássica e é constituído por duas alas interligadas por uma estrutura metálica em forma de abóbada, revestida por chapas de zinco e marquises metálicas.

“A recuperação desse monumento é de um valor inestimável para a população de Alagoinhas, já que seu desenvolvimento econômico, social e cultural aconteceu em torno da estação”, afirmou o prefeito de Alagoinhas, Joseildo Ribeiro Ramos, ressaltando que “agora, em sinergia com o Governo Jaques Wagner, acredito que vamos conseguir viabilizar a tão sonhada reforma”.

Reconhecendo que a Estação São Francisco “é um patrimônio que precisa ser preservado”, o secretário estadual de Cultura, Márcio Meirelles, disse que vai buscar a aliança entre os poderes públicos, o setor privado e as representações da sociedade não só para a restauração do monumento, mas também para desenvolver um projeto de uso sustentável do espaço. “A melhor maneira de preservar a memória é tornar a estação um equipamento cultural sustentável, para que os moradores e visitantes de Alagoinhas possam usufruir dele”, disse.

A professora Iraci Gama, líder da ONG Figam, que luta pela preservação do patrimônio cultural de Alagoinhas, disse estar “confiante no novo Governo da Bahia que, em apenas 25 dias de posse, atendeu às solicitações do povo de Alagoinhas”. “A vinda do secretário de Cultura ao município demonstra que há interesse do governo em nos ajudar a resolver esse problema, afinal, mais do que o valor do patrimônio, temos que cuidar da Estação São Francisco porque os desabamentos que vêm ocorrendo colocam em risco a vida das pessoas”.

Além da visita técnica à Estação Ferroviária, o secretário da Cultura visitou ainda a igreja inacabada, outro marco simbólico da cidade, cuja construção não chegou a se completar em função de sua base estar em um terreno arenoso. Participaram também da visita aos monumentos o presidente da Câmara de Vereadores de Alagoinhas, João Rabelo, os secretários municipais Elionaldo Faro Teles (Governo) e Aislam Rocha (Cultura, Esporte e Lazer), o diretor do Patrimônio Artístico e Cultural do Ipac, José Carlos Matta, o estruturalista da Conder, Enoch Ferreira, e o representante da Uneb, professor Antonio Márcio Baleeiro de Sousa.

Abandono

A estação ferroviária pertence à Rede Ferroviária Federal e, há dez anos, foi arrendada à Ferrovia Centro Atlântica, ligada à Vale do Rio Doce. De acordo com informações da prefeitura, no contrato de arrendamento assinado em 1996, “cabe à arrendatária manter as condições de segurança operacional e se responsabilizar pela conservação e manutenção dos bens”.

Em 2004, a Ferrovia Centro Atlântica devolveu o prédio da Estação à Rede Ferroviária Federal, argumentando que a ela não era operacional. Desde então, o prédio foi abandonado, seu estado físico vem se deteriorando, embora a rede férrea continue operando.

Com uma população de 150 mil habitantes, o município de Alagoinhas se desenvolveu em torno da Estação São Francisco, cujas linhas transportaram pessoas e cargas em locomotivas que cruzavam a região, interligando vários municípios. Atualmente, a ferrovia é utilizada somente como transporte de cargas.