O desemprego e as condições desiguais de trabalho entre negros e brancos em cinco regiões metropolitanas Brasil vão ganhar as telas do cinema. Salvador, Recife, Belém, São Paulo e Rio de Janeiro terão esta realidade retratada no longa-metragem Exército de Reserva, projeto do cineasta paulista Rogério Correa, que esteve na Bahia esta semana coletando dados para o documentário. Estudos publicados pela Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), órgão oficial de pesquisa e estatística do Estado, ligado à Secretaria do Planejamento (Seplan), servirão de subsídios à iniciativa.

Em visita à SEI, em Salvador, Rogério Corrêa, que teve pesquisa e roteiro premiados pelo governo de São Paulo, constatou que a Região Metropolitana de Salvador (RMS) apresentava, em 2005, os maiores diferenciais do Brasil de rendimentos (128%) e média de anos de estudo (30%) entre trabalhadores brancos e negros. As informações são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD/2005 – IBGE), que investiga as nove maiores regiões metropolitanas no país.

Para aqueles que estão empregados, enquanto o rendimento médio mensal dos trabalhadores brancos da RMS era de 4,8 salários mínimos, em 2005, entre os negros, o rendimento era de apenas 2,1 salários mínimos. “Vejo duas realidades praticamente descoladas aqui. Isso é muito claro. O negro está numa condição ainda mais desfavorável que o restante da população”, observou o cineasta.

Outra importante constatação é de que a elevação da escolaridade da população negra não é suficiente para reduzir as desigualdades raciais no mercado de trabalho, “uma vez que há uma seletividade em função não apenas de características aquisitivas, mas também de cor, raça e sexo, operando mecanismos de discriminação”. “Diante deste contexto, foi de suma importância a recente criação da Secretaria de Promoção da Igualdade””, destaca o diretor de pesquisas da SEI e presidente do Conselho Estadual de Trabalho e Renda da Bahia, José Ribeiro.

O economista da SEI chama atenção também para o trabalho doméstico na RMS, que paga as piores remunerações do país: R$ 331,50 (2005). “”Este é um traço preocupante na medida em que, além dos serviços domésticos representarem 10,5% do total de ocupados na RMS, esta categoria é composta predominantemente (83,5%) por mulheres negras””.

Rogério Corrêa está percorrendo diversos institutos de pesquisa e estatística brasileiros, a exemplo do Dieese, Seade e IBGE. Depois concluir o trabalho em Salvador, o cineasta, que veio de São Paulo, embarca para Recife, Belém e Rio de Janeiro. “Não me interesso pelos números em si, mas esse é o caminho para entrar no problema e abordar a questão com uma visão humanista”.