Mãe de 10 filhos legítimos e seis adotivos, a quilombola Juvani Neri Viana, 55 anos, é líder na comunidade de Caonge, em Cachoeira, onde nasceu. Ela alfabetizou todos os filhos até a 4ª série e através da música e ajuda as crianças do Quilombo onde vive a aprender a ler e escrever. Seu canto foi ouvido ontem (8) no auditório da Superintendência de Recursos Hídricos (SRH) e com ele foi realizada a primeira homenagem da autarquia às mulheres no Dia Internacional da Mulher.

Ao abrir o evento, a quilombola saudou a todos e resumiu o objetivo do evento de mostrar que homens e mulheres se complementam apesar de suas diferenças. “As mulheres estão conseguindo vivenciar o mundo que elas têm. Antigamente, era fogão e senhor de engenho; os homens que me desculpem. Falo sempre para as minhas filhas e filhos que se não sentar para conversar, a casa não fica em pé. Um tem de entender o outro para conviver bem”, sorriu.

As palavras e o canto da quilombola emocionaram a platéia. O diretor-geral da SRH, Julio Rocha, aproveitou e anunciou mais uma surpresa reservada para a data: a nomeação da engenheira Elizabeth Barbalho como diretora de engenharia do órgão.

“Eu queria agradecer às mulheres pelo seu dia, todo dia é feminino. E essa casa é bastante feminina, é liderada por várias mulheres. Quero anunciar aqui que a SRH vai ter a primeira diretora de engenharia nos seus 12 anos de existência. Sua nomeação será publicada amanhã no Diário Oficial e Beth, como ninguém, vai saber traçar as obras e o acesso à água que a gente precisa para os baianos e baianas”, destacou.

Pesquisa

Outro ponto alto das homenagens da SRH ao Dia Internacional da Mulher foi a participação da consultora da Secretaria de Recursos Hídricos do Ministério do Meio Ambiente (SRH/MMA), Maria Manuela Martins. Ela ministrou palestra sobre A Mulher no Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos. Em síntese, a geógrafa mostrou o resultado de uma pesquisa quantitativa que revela a participação das mulheres nas instâncias do Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH). Dos 59 membros do CNRH, oito são mulheres.

Segundo Manuela, a participação das mulheres é praticamente inexistente na plenária, mas bastante significativa nas câmaras técnicas.“Isso ocorre porque na plenária estão as direções, ou seja, secretários e diretores dos órgãos. Nas câmaras técnicas, a presença feminina é maior porque tem os técnicos”, afirmou.

Maria Manuela disse que como a presença dos homens é maior no nível gerencial e como as decisões são tomadas nesse âmbito, a mulher está sendo destaque na mão-de-obra. “É a mulher que trabalha e não decide”, exclamou. Isso, segundo a consultora, não significa necessariamente discriminação. “Pode haver discriminação, mas não posso afirmar. A gente tem de saber se a mulher está querendo assumir um cargo assim. O que é certo é que as mulheres estão se especializando cada vez mais e não têm pressa de ascender ao poder”.

A geógrafa destacou que há espaço para os dois e em todos os lugares. “Não pode haver uma competição; tem de haver espaços complementares. Não é obrigatório que a parte gerencial seja ocupada mais por homens do que por mulheres; tem de ser uma mescla. É preciso que a mulher também se decida. É muito fácil dizer que o homem tem preconceito”, salientou.

Para reforçar suas palavras, Maria Manuela apresentou um trecho da Declaração Ministerial sobre Água Doce, realizada em Bonn (2001). “A gestão de Recursos Hídricos deve basear-se em uma abordagem participativa. Ambos, homens e mulheres, devem ser envolvidos e ter o mesmo direito de expressão no gerenciamento do uso sustentável dos Recursos Hídricos e na distribuição de seus benefícios”.

No auditório repleto de homens e mulheres, eles reservaram mais uma surpresa para o dia entregando rosas vermelhas para elas. Além de servidores e servidoras da SRH, também participaram do evento o superintendente do Ibama de Brasília, Francisco Palhares e a secretária executiva do Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco, Yvonilde Medeiros.