Representantes do governo  e da sociedade iniciam, na próxima quarta-feira (17), às 18h, o debate sobre novos rumos para o Centro Histórico da capital baiana, durante o lançamento do livro Centro da Cultura de Salvador, publicação realizada em parceria entre a Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), autarquia da Secretaria de Planejamento (Seplan), e o Centro de Estudos da Arquitetura, da  Faculdade de Arquitetura da Ufba.

A publicação – a ser lançada, no Teatro do Senac, no Pelourinho – apresenta estudo inédito sobre a área e deverá subsidiar as discussões da qual participam representantes da comunidade, artistas, pesquisadores e o  secretário da cultura, Márcio Meirelles. O evento é aberto a todos os interessados.

A iniciativa das coordenadoras do livro Carlota Gottschall (SEI) e Mariely Santana (Ufba) nasceu da percepção das transformações que vêm ocorrendo no Pelourinho e entorno. Nas últimas décadas, o Centro Histórico foi objeto de uma política que o transformou em lugar de consumo, lazer e comércio, pautado no conceito de “shopping a céu aberto”. Esta época foi marcada por altos investimentos por parte do Estado, retirada de moradores, movimentação musical e divulgação na mídia. Quase duas décadas depois, o esgotamento do modelo gerencial e do conceito de espaço voltado ao consumo, somado à descontinuidade de um movimento criativo popular, requerem uma nova concepção de desenvolvimento para a região.

O debate é urgente diante do esgotamento das políticas governamentais de sustento de um modelo que não atingiu autonomia e tornou-se inviável aos cofres públicos. É iminente também por se tratar do mais significativo conjunto arquitetônico brasileiro tombado e o segundo pólo mais dinâmico da economia de Salvador – com destaque para o comércio formal e informal e o turismo, tendo a cultura como eixo mobilizador das atividades.

O estudo insere o Pelourinho no contexto do Centro Histórico, área que vai do São Bento ao Santo Antônio Além do Carmo – sem ignorar a população de mais de 13 mil pessoas que residem nessa área. Coloca, ainda, a região em diálogo com o antigo centro de Salvador – da Vitória ao Barbalho.

Economia da cultura

O estudo apresenta o retrato da nova fase pela qual vem passando o Centro Histórico, suas carências e  oportunidades de criação de políticas sócio-culturais e econômicas. Entre os assuntos, chama atenção a subutilização da maior concentração de equipamentos culturais do Estado, tendo em vista que lá estão 18 igrejas, 15 museus, cinco cinemas e teatros, dez espaços de cultura, cinco bibliotecas e 14 espaços diversos. A sondagem revela ainda forte presença de jovens (40% dos moradores têm até 24 anos), o surgimento e a atuação espontânea de ONGs,  e a tendência do centro como local de moradia.

Na década de 1970, os bairros mais populosos de Salvador ficavam na região do Centro Histórico e entorno e concentravam 12% dos habitantes. Trinta anos depois, a área  reúne apenas 2,8% da população (IBGE, 2000). “Hoje, a fase mais crítica de saída dos moradores e de recusa dos empresários em investir no centro  parece ter passado. A tendência atual, no Brasil e em outros países, é de reanimação dos antigos centros”, diz a pesquisadora Carlota Gottschall.

Apesar da situação precária de alguns imóveis e da vulnerabilidade social, sobretudo nas áreas do Pelourinho-Sé e Misericórdia-Castro Alves, há aspectos que indicam uma perspectiva otimista: a elevada presença de jovens; relativa estabilidade dos empreendimentos de pequeno e médio porte; parcela significativa de imóveis próprios; execução de programas públicos de habitação popular (governos federal e estadual e CEF); reativação do Plano Inclinado Pilar; hotéis internacionais (Convento do Carmo e Palace Hotel); empreendimentos sofisticados (restaurantes e marina, na Av. Contorno e restaurantes no Pelourinho e no Carmo); faculdades e instituições da administração federal no Comércio.

“A fase anterior foi de ressurgimento. Imóveis foram recuperados e foi impulsionada a vocação cultural da área, tendo o Pelourinho se afirmado como referência do movimento étnico brasileiro, favorecendo o exercício de diversas práticas culturais. Especialmente a movimentação musical integrou Salvador ao circuito mundial de produção e consumo de cultura”, lembrou Carlota Gottschall.