O Grupo de Trabalho criado pelo Ministério da Agricultura para definir um Plano de Aceleração do Desenvolvimento e Diversificação do Agronegócio da Região Cacaueira da Bahia iniciou as atividades nesta segunda-feira (12) num encontro que está sendo realizado em Brasília. O grupo tem um prazo de 60 dias para apontar propostas concretas para o reaquecimento da economia do sul da Bahia.

O GT é composto por representantes dos ministérios da Agricultura, Fazenda e Planejamento, secretarias estaduais de Agricultura, Fazenda e Planejamento da Bahia,  Ceplac, Câmara Setorial do Cacau, Comissão Nacional do Cacau, Federação da Agricultura do Estado da Bahia, Associação Brasileira das Indústrias de Cacau, instituições financeiras BNDES, Banco do Brasil e Banco do Nordeste, reunidos até a próxima sexta-feira. O grupo atua na identificação dos problemas, visão  de futuro, objetivos prioritários, definição das atividades implementadas para o alcance dos objetivos e avaliação das propostas.

O secretário de Agricultura da Bahia, Geraldo Simões, destacou que “durante décadas, o cacau garantiu a implantação da estrutura regional, que incluiu a construção de um porto, rodovias, hospitais e uma universidade”. “Hoje, estamos vivendo uma crise que precisa ser superada, a partir de ações integradas entre os governos federal e estadual, que passa pela solução para a questão do endividamento dos produtores, o fortalecimento e modernização da Ceplac e  investimentos em diversificação, através de culturas viáveis como o dendê e a seringueira, estimulando a produção de biocombustíveis e a produção de matéria-prima para o setor automobilístico na Bahia”.

Simões disse que “o presidente Lula e o governador Jaques Wagner estão empenhados em resolver os problemas do Sul da Bahia. É preciso que apresentemos uma proposta viável, que possa ser atendida, já que existe uma grande expectativa  no sentido de que sejam produzidos resultados satisfatórios a partir da união de todos os segmentos  da Região Cacaueira”. Para o secretário Executivo do Ministério da Agricultura, Luiz Gomes de Souza, “a preservação ambiental, o desenvolvimento sustentável e a agregação de valor ao cacau e outros produtos são alternativas viáveis”. Segundo ele, “o grande desafio é definir um modelo que traga benefícios para toda a região, gerando emprego e renda e melhorando as condições de vida da população”. “Existe uma sensibilidade muito grande do governo federal em relação às questões sulbaianas e acredito que vamos encontrar soluções que serão implementadas a curto e médio prazos”, garantiu.

Soluções

O diretor-geral da Ceplac, Gustavo Moura, ressaltou que “até agora só tivemos medidas paliativas, com a prorrogação das dívidas dos produtores, mas hoje podemos acreditar na adoção de medidas que vão resolver a questão do endividamento e permitir novos investimentos para a retomada da produção e de projetos de diversificação”.

“Nos anos 30, em meio a uma grande crise, surgiu o Instituto de Cacau da Bahia, nos anos 50, nova crise e desta vez foi criada a Ceplac”, lembrou o diretor da Secretaria de Agricultura da Bahia, Itazil Benício dos Santos. Neste momento, temos aquela que pode ser a derradeira chance de implantar um modelo que não torne a região tão frágil e isso se dará com a adoção de novas culturas, a melhoria da infra-estrutura como o Porto de Ilhéus e a rede rodo-ferroviária, a difusão de novas tecnologias e o fortalecimento do cooperativismo e do associativismo”.

O presidente da Comissão Nacional do Cacau e  vice-presidente da Faeb, José Mendes Filho, se diz “otimista em relação aos resultados da discussão das propostas, já que estamos em busca de um objetivo comum”. O presidente da Câmara Setorial do Cacau, Fausto Pinheiro, disse que há condições de fazer um diagnóstico real das necessidades regionais, tendo como princípio a solução para o endividamento, que é um entrave para qualquer outro projeto para reaquecer a economia. Pinheiro vai propor ao governo federal um novo tratamento às dívidas oriundas do Plano de Recuperação da Lavoura Cacaueira.

“Não podemos nos concentrar apenas no problema do endividamento”, afirma o pesquisador da Unicamp, Gonçalo Pereira. Segundo ele, “a partir do equacionamento da dívida, devemos partir para a diversificação e a adoção de um novo modelo para o cacau, que tem que deixar de ser apenas matéria-prima e agregar valor, através da industrialização, além de alterar o modelo de comercialização, hoje concentrado em poucas empresas”.

Gonçalo entende que “o cacau ainda é um forte componente na economia sulbaiana, mas precisamos ter uma visão mais ampla, que abrange a verticalização da produção, turismo rural, energias alternativas e utilização de novas tecnologias”.

O pesquisador aponta alguns tópicos que irão nortear as discussões do Grupo de Trabalho como as questões financeiras, agronômica, negocial, combustíveis alternativos, turismo e ecoturismo, criação de um pólo de eventos e feiras no eixo Ilhéus-Itabuna e o fortalecimento da Uesc e da Ceplac, que passarão atuar de forma mais efetiva nas áreas de educação, pesquisa e extensão rural. “O Sul da Bahia tem plenas condições de superar a crise e podemos, a partir desde Grupo de Trabalho, definir metas e ações que vão consolidar esse processo de aceleração do desenvolvimento”, finaliza Gonçalo Pereira.