Os efeitos do aquecimento global tornam a diminuição das emissões de gases poluentes na atmosfera uma responsabilidade de todo planeta. Como algumas mudanças climáticas, contudo, já se tornaram inevitáveis, a única resposta adequada da sociedade e do poder público é se preparar e buscar se adaptar a essas mudanças. A sinalização é do doutor em meteorologia Carlos Nobre, pesquisador titular do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em palestra proferida hoje (3) durante o início da série de debates Diálogos das Águas, que ocorreu paralelamente ao Fórum Baiano de Mudanças Climáticas, no auditório da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb).

“Nós estamos muito atrasados em determinar e definir essas políticas de adaptação”, sentenciou o especialista durante o evento, que contou com a participação do governador Jaques Wagner. Segundo Nobre, a Bahia tem um importante papel a cumprir no sentido de minimizar os malefícios decorrentes do efeito estufa, já que o estado abriga os três biomas mais avançados do Brasil: a mata atlântica, o cerrado e a caatinga. Sem falar na extensa zona costeira baiana, que é riquíssima do ponto de vista ambiental e conta com um importante parque de biodiversidade marinha – Abrolhos.

Nobre afirmou que, ao mesmo tempo em que o Brasil sofre os efeitos das mudanças climáticas, ele contribui para que elas ocorram. “O desmatamento da Amazônia, por exemplo, representa emissões de gases em grande quantidade”, citou. Por ter uma economia fortemente baseada em recursos naturais, o país mostra-se bastante vulnerável, com efeitos diversos em todo o seu território. “Se a temperatura continuar a subir na região semi-árida do Nordeste, poderemos esperar, daqui a algumas décadas, uma diminuição da disponibilidade hídrica. Ou seja, haverá menos água numa região onde ela já é muito escassa”, explicou.

Já na Amazônia e nos demais biomas brasileiros, sobretudo a floresta tropical e o cerrado, há uma grande probabilidade de desaparecimento de espécies, de acordo com o pesquisador do Inpe. “No sudeste, os fenômenos extremos, que hoje já causam desastres naturais, como inundações, chuvas intensas e deslizamento de encostas, vão se tornar mais comuns e mais graves no futuro”, informou. Enquanto isso, as previsões indicam que o aumento do nível do mar, comum em todo o mundo, pode chegar até 60 centímetros neste século. “Isso é uma ameaça muito grande a todas as atividades da zona costeira e aos ecossistemas típicos da região”, completou Nobre.

O secretário de Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Juliano Matos, explicou que o papel do Fórum Baiano de Mudanças Climáticas é pensar soluções que a Bahia pode adotar para tentar mitigar o aquecimento global e as mudanças climáticas. Segundo ele, é preciso que a sociedade se antecipe aos efeitos das mudanças e seja a grande aliada do poder público nessa meta.

Sustentabilidade

Promovidos pela Superintendência de Recursos Hídricos (SRH), os debates Diálogos das Águas têm como finalidade difundir informações sobre temas ambientais atuais, seus efeitos e como a sociedade pode contribuir para a sustentabilidade ambiental e a gestão racional da água. Já o fórum, coordenado pela Secretaria de Meio Ambiente e recursos Hídricos (Semarh), é um espaço amplo para o diálogo entre poder público, entidades civis e setor privado, com o objetivo de chamar a atenção da sociedade para a conscientização sobre os efeitos do aquecimento global e para a necessidade da criação de mecanismos para o desenvolvimento sustentável.

A programação do fórum e da série de debates prossegue durante todo o ano. O governador Jaques Wagner, que preside o Fórum Baiano de Mudanças Climáticas, também assinou um decreto simples nomeando e dando posse aos 39 novos membros do fórum. “Não há desenvolvimento possível sem inclusão social e sem considerar a preservação ambiental como valor fundamental”, falou Wagner. No evento, foram discutidos ainda os principais pontos do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU (IPCC), divulgado em fevereiro deste ano.