O racismo praticado no Brasil não precisou de instrumentos legais para exclusão dos afrodescendentes. Ele instituiu um processo que beneficia “naturalmente” os brancos, colocando-os como donos das riquezas e das cadeiras das universidades. A afirmação é do secretário de Promoção da Igualdade da Bahia, Luiz Alberto dos Santos, que proferiu a aula magna ontem (29) à noite, na abertura do semestre 2007.1 da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs).
O secretário possui vida pública voltada a movimentos sindicais e sociais, de igualdade em gênero, raça e etnia, com representação em entidades de classe e associações. Ele classificou o racismo praticado no Brasil como “o mais cruel do planeta”.

Luiz Alberto fez referências às lutas travadas por entidades ligadas a movimentos negros de todo o país para a concretização das políticas afirmativas. Como deputado federal, cargo do qual está licenciado para exercer o comando de secretaria de governo, ele afirma ter enfrentado “intensas e incisivas” resistências de grupos que, mesmo minoritários, “detêm o poder econômico, inclusive com forte influência na imprensa”.

Neste embate, afirma, “os detentores do poder utilizam de manobras semelhantes às praticadas por ocasião da libertação dos escravos, no fim do século XIX, que excluíram os negros da sociedade”. O secretário fez menção a divulgações, através da imprensa, contrárias às políticas afirmativas, “nas quais foram colocadas, estrategicamente, a opinião de pessoas negras contrárias a estas políticas, numa tentativa de influenciar, subliminarmente, a opinião pública”.

Luiz Alberto dos Santos citou, ainda, ações praticadas pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), que congrega reitores de 58 universidades federais. “Quando deputado, chegaram a impedir que participássemos de audiência junto a representações do Governo Federal para tratar de assuntos referentes às políticas afirmativas, em especial ao sistema de cotas”, contou.

Contratação de professores

Garantindo que a comunidade universitária tem no Governo do Estado um aliado e não um adversário, o reitor José Carlos Barreto de Santana revelou que tem constantemente conversado para adoção de medidas que contemplem os pleitos da comunidade da Uefs. Será realizada, ainda este ano, seleção pública para contratação de 51 professores, com possibilidade de ampliação desse número para 87.

O reitor também falou sobre a convocação de 94 aprovados em concurso público para seleção de servidores, realizado em 2004, e a possibilidade de realização de novo concurso, em 2008. A Uefs, ressaltou o reitor, também adota medidas para a permanência de estudantes aprovados no vestibular através das políticas afirmativas, muitos deles oriundos da famílias carentes. Ele fez referência à reabertura do restaurante universitário, com almoço a R$ 1,00 ou gratuito, para alunos da residência universitária.