Cerca de 80% dos focos de incêndio na Chapada Diamantina já foram extintos. A informação é do coronel do 4º Batalhão de Incêndio Florestal do Distrito Federal, Marco Aurélio Vieira. A sua equipe está na Bahia colaborando com as unidades do Corpo de Bombeiros de diversas regiões do estado, com o Grupamento Aéreo da Polícia Militar e com a Coordenação de Defesa Civil (Cordec), além de brigadas civis e voluntários que enfrentam o fogo.

Já foi decretada situação de emergência em 20 municípios, o que possibilita que façam compras sem licitação e remanejem seu orçamento sem autorização da Câmara de Vereadores. Os focos de incêndio começaram a aparecer em julho e se intensificaram em outubro e novembro. O governo da Bahia está investindo no aluguel de dois aviões com capacidade para 1.500 litros de água, cada um, e no deslocamento de veículos para controlar o fogo, além de alimentação e pousada para os combatentes.

Luís Carlos Farias, 45 anos, morou a vida inteira na Chapada Diamantina e passou 24 dias combatendo o fogo. “A nascente do Riacho do Junco foi o local onde tivemos mais dificuldade – havia chamas de até 20 metros de altura. O prejuízo ambiental foi muito grande. Tivemos casos de colegas que precisaram sacrificar animais queimados, para que não sofressem mais. Há muitos ninhos destruídos pelo fogo, outros com filhotes e muito próximos às queimadas”, afirmou o voluntário.

Maior bacia em volume hídrico


Segundo Ana Paula Soares, coordenadora do Movimento Ambientalista Gavião, a região possui 94 nascentes, “muitas estratégicas para o Rio de Contas, maior bacia em volume hídrico do estado”, além de conter a nascente do Rio Paramirim, um dos principais afluentes da margem direita do São Francisco na Bahia.

“O maior impacto é nas questões hídricas e de fauna e flora. Aqui, temos o macaco-barbado (o bugio), a suçuarana (ou onça-brasileira-do-cerrado), a jaguatirica, o ouriço-caixeiro, o tamanduá-mirim, cobras, sapos e outros animais”, explicou.
Ana Paula disse que a cada ano as queimadas têm aumentado, “porque a pressão sobre o meio ambiente com a expansão agrícola está muito forte, e isso coloca as pessoas em risco”. Outro dia, informou a ambientalista, os brigadistas saíram daqui para combater o fogo às 20h30, para salvar algumas casas que estavam ameaçadas.

Ela afirmou que é necessário um trabalho de prevenção e educação ambiental na zona rural, “junto ao homem do campo”, além de mais equipamentos para ações de combate aos incêndios.

Produção agrícola


O fogo não ameaça somente a fauna e a flora. Orlando Maia, produtor da região, planta laranja, manga e café em sua propriedade de cerca de 116 hectares. “Praticamente 95% das minhas terras estão queimadas. Eu trabalhava com irrigação por microaspersão e gotejamento, num investimento de mais de R$ 3 mil e que foi totalmente destruído pelo fogo”, destacou.

Ele disse que o fogo também secou duas das três nascentes existentes em seu terreno e que a terceira está quase sem água.

O coronel Miguel Filho, comandante do 11º Grupamento da Bahia, lembrou que desde julho os bombeiros vêm combatendo pequenos focos. Ele afirmou que conta com o reforço dos bombeiros de Brasília, encaminhados pela Secretaria Nacional da Defesa Civil, das unidades do Corpo de Bombeiros da Bahia em Jequié, Feira de Santana e Salvador, dos brigadistas locais e do Grupamento Aéreo da Polícia Militar (Graer).

“Eu nunca soube de um caso de incêndio dessa proporção. Ainda estamos fazendo um levantamento para saber o total da área que foi queimada”, declarou. O coronel disse ainda que, na maioria dos casos, os incêndios começam com queimadas provocadas por lavradores para produção de pastos e roças, mas que saem do controle. “Para combater os incêndios causados por essas queimadas, tivemos que montar cinco bases de apoio, cada uma responsável por até 25 focos de incêndio”, informou.

Importância dos aviões

O coronel do 4º Batalhão de Incêndio Florestal do Distrito Federal ressaltou que os aviões utilizados para jogar água sobre os focos de incêndio são muito importantes, pois reduzem as chamas para que os homens possam se aproximar e apagar o fogo.

“Incêndio se apaga com água e precisamos desse apoio aéreo. É uma técnica utilizada em larga escala nos Estados Unidos e na Europa e que vem sendo desenvolvida há cerca de quatro anos aqui no Brasil”, afirmou.

Já o helicóptero, segundo Marco Aurélio Vieira, serve para deslocar rapidamente os militares até o local do incêndio e para fazer o resgate dos homens, além de lançar água em determinados pontos.