A grande bienal dos oceanos. Nenhuma definição modesta poderia caber para a Regata Jacques Vabre, que saiu fortalecida depois da prova realizada de Le Havre, na França, a Salvador.

No início da manhã de hoje (3), os velejadores dos dois últimos barcos anunciaram o abandono, encerrando a festa náutica franco-baiana, que atraiu centenas de europeus a Salvador e Recôncavo.

O último a chegar foi o barco Gonser Group, de David Lefebvre e Florian Gonser, que atracou na manhã de ontem (2), às 7h, depois de 28 dias atravessando o Atlântico.

Não há números oficiais, mas estimativas preliminares dão conta de que cerca de 700 visitantes, entre velejadores, familiares, patrocinadores e convidados, deixaram cerca de R$ 2 milhões na Bahia.

Da partida, dias 3 e 4 de novembro, até a chegada em Salvador, foram 4.300 milhas náuticas a bordo de barcos monocascos e multicascos, que têm diferenças na estabilidade e no conforto interno.

Enquanto os monocascos são mais seguros, embora tenham área mínima de proteção para os velejadores, os multicascos oferecem travessia confortável, com a contrapartida da instabilidade dos barcos.

Os pares de velejadores são formados a partir de aspectos considerados banais da vida cotidiana, como encontros fortuitos nos píers, onde se constroem sólidas amizades marinhas.

A boa surpresa desta prova, segundo os organizadores, foi a classe monocascos 40 pés, que vem atraindo um maior número de participantes na Jacques Vabre.

O café e o Brasil

A marca de café patrocinadora da prova explora a imagem do Brasil na condição de um dos principais produtores e promove a regata como atividade cultural de resgate da rota de importação.

O porto de Le Havre é o maior importador de café do mundo e realiza a cada dois anos a regata, com a participação de cerca de 150 mil pessoas em 10 dias de festa, antes da largada.

A organização da regata, que se realiza desde 1993, foi um dos destaques deste ano, segundo o velejador Franck Cammas, vencedor entre os velozes trimarãs, com o barco Groupama.

Cammas estava impressionado com o desempenho do Groupama, que é um aprimoramento a outro barco do mesmo tipo, vencedor de outras regatas: “Interessante perceber como a tecnologia tem se acelerado”.

O pentacampeão da Jacques Vabre, um dos principais campeonatos náuticos do mundo, veio em velocidade média entre 16 e 21 nós e só desacelerou em momentos de instabilidade no clima.

Já Steve Ravussin, parceiro de Cammas, pediu cautela no entusiasmo, porque, segundo ele, o veleiro está exigindo menos do skipper, como é chamado o velejador no jargão do esporte náutico.

Para Ravussin, a categoria dos trimarãs – os mais rápidos barcos do mundo – está para a náutica assim como a Fórmula 1 está para o automobilismo. “A cada competição, os barcos ficam melhores”, disse.

Essa evolução rápida, no entanto, provoca um problema econômico, pois o patrocinador pode perder dinheiro com a desvalorização de um barco de 2 milhões de euros que é superado na regata seguinte.

Pela ordem, os vencedores


Entre os veleiros de 40 pés, da classe Imoca, os vencedores foram Michel Desjoyeaux e Emmanuel Lê Borgne, a bordo do Foncia, que saiu para disputar a Regata Bahia/Bretanha na quinta-feira (29).

Desjoyeaux elogiou as condições de navegação na Baía de Todos os Santos e saiu para passear logo depois de descansar dos dias que passou em alto-mar.

Na categoria dos monocascos 40 pés, a vitória ficou com o Telecom Itália, de Giovanni Soldini, que curtiu com familiares e amigos a felicidade de terminar em primeiro lugar.

A chegada da última flotilha de monocascos 40 pés foi um dos momentos mais emocionantes da regata: os barcos Sidaction, Mistral e Deep Blue cruzaram a linha de Salvador em menos de um minuto de diferença um para o outro.