O cinema do japonês Yasujiro Ozu é o presente de final de ano da Sala Walter da Silveira para os cinéfilos baianos e visitantes. Com o apoio do Consulado Geral do Japão (Recife) e da representação consular honorária em Salvador, o ciclo O Encanto de Ozu, reúne no cinema cult dos Barris, de domingo a quinta-feira (16 a 20), as principais obras do cineasta nipônico. A promoção é da Diretoria de Artes Visuais e Multimeios (Dimas) e da Fundação Cultural do Estado, com entrada franca.
O evento se antecipa às comemorações pelos 100 anos da imigração japonesa no Brasil, a ser festejado em 2008, com várias mostras de filmes e homenagens a realizadores como Akira Kurosawa e Eizo Sugawa. Yasujiro Ozu nasceu em Tóquio, no dia 12 de dezembro de 1903. Filho de um comerciante de adubo, foi educado em um colégio interno em Matsusaka. Não foi aluno bem sucedido. Desde cedo se interessou pelo cinema, aproveitando o tempo para ver o máximo de filmes que podia.
Ozu trabalhou por um breve período como professor, antes de voltar para Tóquio, em 1923, onde se juntou à companhia cinematográfica Shochiku. Atuou, inicialmente, como assistente de fotografia e de realização. Três anos depois, dirigiu o seu primeiro filme, Zange no yaiba (A espada da penitência), um filme histórico, em 1927. Os cinéfilos em geral indicam como primeiro filme importante Rakudai wa shita keredo, de 1930. Realizou mais 53 filmes – 26 dos quais nos seus primeiros cinco anos como realizador para os estúdios Shochiku, com exceção de três.

Comédias

Em julho de 1937, período em que os estúdios demonstravam algum descontentamento com o insucesso comercial dos filmes de Ozu, apesar dos louvores e prêmios com que a crítica o celebrava, é recrutado como cabo de infantaria, aos 34 anos, para o exército japonês, na China, durante dois anos. A sua experiência militar leva-o a escrever um extenso diário, em que se inspira, mais tarde, para escrever roteiros cinematográficos.
O primeiro filme realizado por Ozu ao regressar da campanha militar, Toda-ke no Kyodai (Os irmãos da família Toda, 1941), foi um sucesso de bilheteira e de crítica. Em 1943, foi, de novo, alistado no exército para realizar um filme de propaganda, em Burma. Em vez disso, porém, foi enviado para Singapura onde passou grande parte do seu tempo a ver filmes norte-americanos confiscados pelo exército.
Ozu começou por realizar comédias, originais no seu estilo, antes de se dedicar a obras com maiores preocupações sociais na década de 1930, principalmente ao focar dramas familiares (gênero próprio do cinema japonês, chamado “Gendai-Geki”). Outros temas caros ao mestre japonês são a velhice, o conflito entre gerações, a nostalgia, a solidão e inevitabilidade da decadência, como se verifica, de imediato, nos títulos dos seus filmes que evocam o passar do tempo: é comum que os seus filmes terminem num local ou numa situação diretamente ligada com o início da narrativa, acentuando o carácter temporal “circular” (como as estações do ano ou a alternância das marés).
Ozu trabalhou freqüentemente com o roteirista Kogo Noda. Entre outros colaboradores regulares contam-se o diretor de fotografia Yuharu Atsuta e os atores Chishu Ryu e Setsuko Hara. Os seus filmes começaram a ter uma recepção mais favorável a partir do final da década de 1940, com filmes como Banshun (Pai e filha, 1949), Tokyo monogatari (Era uma vez em Tóquio, 1953), considerado a sua obra prima, Ukigusa (Ervas flutuantes, 1959) e Akibiyori (Dia de Outono, 1960). O seu último filme foi Sanma no aji (A rotina tem seu encanto, 1962). O cineasta japonês morreu de câncer aos 60 anos e foi sepultado no templo de Engaku-ji, em Kamakura.