O semi-árido baiano, onde vivem cerca de 6,5 milhões de pessoas – o equivalente a dois terços da população do estado – é alvo de 34 pesquisas científicas que começarão a ser desenvolvidas no início de 2008. Os estudos serão realizados com recursos no valor de R$ 3 milhões do Edital Temático do Semi-árido, desenvolvido pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb). O apoio aos cientistas foi formalizado numa solenidade realizada hoje (18) na sede da Fundação.
De acordo com o secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação, Ildes Ferreira, o Edital Temático do Semi-árido vai permitir que as potencialidades da região sejam reconhecidas e estudadas. “Estão no semi-árido o bioma da caatinga, reservas minerais, solos ricos, grandes mananciais aqüíferos subterrâneos e o sisal. Portanto, apoiando pesquisas que desenvolvam de forma sustentável essas riquezas, estaremos prestando um grande serviço à população do estado”, afirma.


Biodiesel na região sisaleira

Entre as iniciativas apoiadas está a pesquisa coordenada pela economista Gisele Tiryaki, que vai fazer uma análise socioeconômica e ambiental da inserção do biodiesel na cadeia produtiva da região sisaleira. “Acredito que será possível conciliar a tradicional produção do sisal à do biocombustível”, afirma a pesquisadora. Para que as duas atividades possam conviver, Gisele aposta na inserção de mais oleaginosas na região, além da mamona e do algodão, que já são plantadas. “Queremos avaliar o grau de produtividade que pode ser alcançado pelo oricori, o amendoim e o pinhão-manso”, diz.
Um sinal de que há espaço para a convivência harmoniosa entre as duas culturas está no próprio equipamento utilizado para o desfibramento do sisal, que utiliza o diesel como combustível. “Por que não substituir pelo biodiesel produzido na própria região?”, aponta.
Outro trabalho científico que também será desenvolvido com recursos do Edital tem a coordenação da geóloga Marjorie Nolasco, que vai estudar, em diversas frentes, o município de Xique-Xique de Igatu, localizado na região da Chapada Diamantina. O uso de plantas locais com fins medicinais feito pela comunidade de ex-garimpeiros será registrado num livro. “Vamos identificar e catalogar essas plantas para garantirmos que essa sabedoria não se perca na tradição oral”, explica Marjorie, que acredita ser possível que alguns desses usos medicinais possam gerar patentes intelectuais.
Juntamente com o centro cultural do município, o projeto da geóloga vai oferecer também oficinas para condutores de trilhas, para a fabricação de jóias com pedras brutas (cristais) e para a confecção de renda de bilro. Outra frente de estudos inclui uma análise qualitativa da água.
Os recursos no valor de R$ 3 milhões são frutos de uma parceria entre a Fapesb, que participa com R$ 2,6 milhões, a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado da Bahia (Secti) e o Fundo Estadual de Combate e Erradicação da Pobreza (Funcep), órgão vinculado à Casa Civil, que disponibilizaram R$ 200 mil cada para o financiamento das pesquisas.