O médico psiquiatra Sabino Farias Neto depôs, nesta terça-feira (25), na sede da Polícia Civil da Bahia, sobre a morte do lutador de jiu-jitsu Ryan Gracie, ocorrida no dia 15 de dezembro do ano passado, no interior da cela de uma delegacia de São Paulo, onde estava preso depois de se envolver numa briga. Acompanhado do advogado Sérgio Habib, ele foi interrogado pelo delegado Joelson Reis, diretor da Polinter, por meio de carta precatória – instrumento jurídico que permite o depoimento do acusado fora da cidade onde aconteceu o fato.

Ele negou a acusação de que o medicamento ministrado na ocasião tenha provocado a morte de Ryan. Com base no laudo de exame cadavérico do lutador, Sabino Farias, disse que o uso prolongado de substâncias tóxicas contribuiu para deixar o organismo do paciente mais frágil e susceptível a esse tipo de intercorrência.

De acordo com o advogado de defesa Sérgio Habib, a vinda do médico para Salvador não foi uma estratégia para atrasar a apuração do caso, sendo motivada, segundo ele, por problemas de saúde de Farias, que está com depressão devido à situação precária de sua clínica de reabilitação de dependentes químicos, em Atibaia, São Paulo, após a repercussão do caso.

No depoimento que durou mais de três horas, o psiquiatra disse que no dia do fato se encontrava na clínica, quando foi solicitado pela namorada de Ryan para atende-lo numa delegacia de São Paulo, onde estava preso, e apresentava alterações de comportamento.

O médico declarou que, inicialmente, ponderou que seria melhor levar o paciente até a clínica Maxwell, em Atibaia. Diante da impossibilidade de transferi-lo, decidiu ir até a 15ª Circunscrição Policial. Ao chegar à delegacia, percebeu que o paciente estava bastante alterado e nervoso, alegando perseguição e dizendo que não havia feito nada daquilo que estava sendo acusado.

Segundo o psiquiatra, o lutador apresentava um quadro de perturbação mental provocado pelo uso de crack e cocaína (esta última injetável) e afirmava que estava sendo perseguido por ter “estourado uma boca de droga”. Farias decidiu não medicar o paciente no local, sem que antes fosse realizado o exame toxicológico, pois o consumo de entorpecentes poderia influir no resultado.

Medicamentos

Somente depois do exame, feito no Departamento de Polícia Técnica de São Paulo, Sabino Farias ministrou os medicamentos necessários para debelar a crise instalada no lutador. O médico informou ainda que, dentro do padrão que se fazia necessário para aquela situação emergencial, sobretudo diante de um paciente com larga história de uso de drogas, foram ministradas três ampolas de Haldol Deacnoato, duas de Fernergan, dois comprimidos de Topomax, dois de Fernergan, um de Leponex e dois de Dienpax de 10mg.

Explicou ainda que essa medicação é ministrada usualmente em casos semelhantes, e que ao longo dos seus 30 anos de profissão, não há nenhum caso de óbito de paciente. Segundo ele, o laudo do exame toxicológico concluiu que os medicamentos foram ministrados em dosagem terapêutica.

Na sua opinião, o ideal teria sido o encaminhamento do paciente a um hospital onde pudesse receber acompanhamento monitorado. Mas como não tinha poder decisório sobre o preso, advertiu que ele necessitava de cuidados especiais.

Para agravar a situação do lutador, o laudo de exame cadavérico detectou que ele apresentava um quadro anterior de cardiopatia isquêmica crônica, com moderada dilatação do ventrículo esquerdo e lesões vasculares ateroscleróticas. As artérias também apresentavam placas de ateroma, com diminuição em até 50% da luz hipertrófica miocárdica.

De acordo com o médico, o quadro somente poderia ser detectado por meio de exames específicos, realizados em hospitais ou clínicas devidamente equipados para essa finalidade. O delegado Joelson Reis informou que o depoimento será encaminhado para a Polícia paulista, em resposta à carta precatória.