O ator Diego Alcântara, 19 anos, descobriu sua profissão no Grupo Ginga e Malícia, do Engenho Velho da Federação. Nos últimos dois anos, desde que se tornou ponto de cultura, a entidade já atendeu a quase duas mil pessoas, de jovens a idosos, em atividades que variam desde exames de saúde até oficinas de dança, teatro e capoeira. “O Ponto de Cultura é muito representativo na minha vida, porque acabou desencadeando a minha profissão”, afirmou Diego. Além disso, o local adquiriu computadores e se tornou um centro de inclusão digital.

Agora, a Bahia vai contar com mais de 260 pontos de cultura, como o Ginga e Malícia. É que estão abertas as inscrições para o edital público de seleção de mais 150 unidades por meio, pela primeira vez, de um convênio firmado entre os interessados e o Estado. Os 61 pontos de cultura existentes hoje foram assinados diretamente entre os interessados e o Ministério da Cultura (Minc).

Diego acha tão importante a multiplicação dos pontos de cultura que agora quer se tornar multiplicador para crianças e adolescentes do que aprendeu dentro do projeto. “A gente vê que está difícil a situação e as pessoas precisam de projetos como esse. Gostei de saber da criação de novos pontos”, disse.

Para Mestre Marinheiro, diretor do Ginga e Malícia, a existência desses pontos de cultura significa opção de atividades recreativas, culturais e profissionalizantes. “A ocupação para jovens que estão expostos a tantos problemas tem evitado que eles sejam recrutados por ações negativas. Quando tem um projeto desse tamanho, dessa qualidade, a possibilidade da força do mal é menor”, destacou.

Segundo o capoeirista, o Ginga e Malícia já formou profissionais em teatro e capoeira e tem ex-alunos viajando pela Europa, participando de companhias de dança. Mas, para ele, o ponto forte é a inclusão digital, que atendeu a mais de 1,2 mil jovens nos últimos dois anos, dos quais 30 são técnicos em informática. “Nunca houve um apoio desse por parte do governo. “Por isso é de grande importância fortalecer esses grupos que já existem e não tiveram qualquer apoio”, opinou.

Edital

O edital lançado em 26 de março, durante o II Encontro de Dirigentes Municipais, em Vitória da Conquista, será encerrado em 12 de maio. Com a medida, a Secretaria Estadual de Cultura (Secult) pretende descentralizar a iniciativa para o interior. Atualmente, 65% dos pontos de cultura estão na Região Metropolitana de Salvador (RMS) e em apenas 20 dos 417 municípios baianos. A meta é que cada um dos 26 territórios de identidade tenha, pelo menos, dois pontos de cultura.

“Isso faz parte de todo o nosso projeto, que é territorializar as ações de governo. Os pontos de cultura vão ajudar a estabelecer essa política que queremos construir”, afirmou o secretário de Cultura, Márcio Meirelles. Para ele, os pontos de cultura vão ser tão importantes como as conferências regionais e a conferência estadual realizadas no ano passado. “A capilaridade da cultura começa a ter corpo e a ser real”, avaliou.

Segundo o secretário, com o ingresso do Estado como mediador do convênio, o governo federal começa a exercitar o Pacto Federativo. “Somos uma espécie de modelo e as idéias e ações surgidas aqui poderão ser levadas a outros estados”, observou.

Nos próximos três anos, vão ser investidos anualmente R$ 9 milhões nos pontos de cultura, sendo R$ 6 milhões do governo federal e uma contrapartida de R$ 3 milhões do governo estadual. Cada Ponto de Cultura vai receber R$ 60 mil por ano, em 12 parcelas de R$ 5 mil. “A idéia é fomentar o desenvolvimento das organizações que já existem, e não criar novos centros culturais. Claro que outras virão depois, mas nesse primeiro momento queremos fomentar as que já existem”, disse Meirelles.

Depois da RMS, o território com maior número de pontos de cultura é o do Sisal, com ações nas áreas de culturas populares, audiovisual, artes visuais e teatro nos municípios de Araci, Valente, Retirolândia e Monte Santo.

No interior, há também pontos de cultura em Irecê, São Gabriel, Bom Jesus da Lapa, Ibotirama, Lençóis, Ilhéus, Teixeira de Freitas, Eunápolis, Angical, Ipirá, Feira de Santana, Vitória da Conquista e Cachoeira.