Os resultados do monitoramento do ar, realizado nos circuitos do Carnaval deste ano, são equivalentes aos de 2007, prevalecendo a presença de partículas nocivas, passíveis de inalação pelo ser humano, causando riscos à saúde.

A conclusão é da bioquímica Nelzair Vianna, coordenadora da pesquisa promovida pela Secretaria do Meio Ambiente do Estado (Sema), em parceria com a USP, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que apontou a combustão dos veículos movidos a combustível fóssil como principal fonte de emissão dos poluentes.

Segundo a pesquisadora, os dados também asseguram que a poluição é provocada em maior parte pelos trios e carros de apoio, sem descartar a hipótese de contribuição pelos caminhões e outros veículos, que auxiliam na logística e serviços do Carnaval.

“São cerca de 174 mil trabalhadores expostos, diuturnamente, a essas partículas”, destaca Vianna, além dos cerca de dois milhões de foliões (fonte PM), que freqüentam os circuitos oficiais, em períodos alternados, durante os sete dias da festa. A pesquisa em 2008 foi realizada entre a quinta-feira de Momo e a Quarta-feira de Cinzas, em 10 pontos de grande concentração, nos circuitos Barra, Campo Grande e Pelourinho.

Estima-se que o período médio de exposição de cada folião varia de 8 a 12 horas, o que equivale a respirar em São Paulo, em dias críticos de poluição atmosférica, durante 24 horas. Os picos junto aos tubos de escapamento dos trios, em áreas de concentração dos circuitos, alcançaram até 800 microgramas (1 µ = 1 milésimo de grama, por metro cúbico de ar) de partículas poluentes presentes na atmosfera.

Essas partículas, também denominadas ‘material particulado’, foram detectadas na atmosfera do Carnaval, numa média de 200 microgramas por metro cúbico de ar. A Organização Mundial de Saúde admite exposição a até 20 microgramas, em 24 horas.

Riscos

De acordo com a pesquisadora, a composição química do material particulado encontrado varia de acordo com as fontes emissoras, mas, em geral, o combustível fóssil é responsável por emitir 90 por cento do total, segundo os estudos realizados nos grandes centros urbanos.

Nas partículas detectadas, foi verificada a presença de nitratos, metais pesados e, inclusive, endotoxinas, produzidas por microorganismos. “Elas se agregam às partículas, que são compostas por materiais orgânicos e inorgânicos, o que potencializa os riscos”, afirma Nelzair.

A concentração foi avaliada com o uso do nefelômetro, equipamento a laser utilizado pelos técnicos da capital paulistana para medir instantaneamente as partículas presentes no ar.

Já o grau de toxicidade das partículas vem sendo estudado pela técnica de biomonitoramento, que utiliza a bromélia Tilandsia usneoides. Até agora foi concluído que a presença de metais pesados é evidente na composição das partículas presentes na atmosfera do Carnaval, entre eles chumbo, cádmio, zinco e manganês.

Na pesquisa deste ano foi proposta como inovação, a realização de um estudo clínico, para investigar a exposição direta das mucosas humanas ao conjunto de agentes poluentes, que, além do material particulado, inclui o NO2 (dióxido de nitrogênio). O gás, segundo a bioquímica, é um dos principais causadores de alterações respiratórias, entre elas, agravamento de sintomas de asma e enfisema pulmonar, além doenças que afetam a conjuntiva ocular.

Nelzair afirma que a investigação deste ano buscou apenas avaliar o grau de exposição da mucosa ocular à poluição do ar. “Os dados ainda estão sob avaliação da Universidade de São Paulo (USP), mas já é possível constatar a sua importância como estudo piloto, que vai adequar os parâmetros para futuras investigações. A proposta é fazer o monitoramento contínuo, primeiramente, em Salvador, de avaliação de risco para doenças crônicas”.

Além de criar parâmetros científicos, o monitoramento do ar durante os carnavais de 2007 e 2008, possibilitou os primeiros passos para se estabelecer uma avaliação de risco, frente aos poluentes atmosféricos na capital”, disse o secretário do Meio Ambiente, Juliano Matos.

A pesquisa possui três vertentes. A identificação e caracterização do risco, o gerenciamento deles e a comunicação. As três esferas interagem conforme o método criado pela agência americana ATSDR (Agency for Toxic Substances and Disease Registry – Agência de Registro de Substâncias Tóxicas e de Doenças ).

O método identifica, caracteriza, maneja e adota estratégias de comunicação para a sociedade, quanto aos riscos de exposição a substâncias tóxicas. “A iniciativa em parceria com as universidades, possibilita formar um corpo técnico preparado, para atuar no monitoramento permanente, em todo estado, com ênfase para as grandes cidades”, enfatizou Matos.