Manusear uma Píton Bola de 1,2 metro, espécie de cobra carnívora originária da Ásia, não assusta Ana Cecília Lopes, a mais nova estagiária do Parque Zoobotânico Getúlio Vargas, administrado pela Secretaria do Meio Ambiente (Sema). A estudante de medicina veterinária em Maceió, capital alagoana, escolheu o Jardim Zoológico de Salvador, entre quatro zôos brasileiros, para passar 15 dias de suas férias, praticando o conhecimento adquirido em sala de aula.

De acordo com Vinícius Dantas, coordenador do núcleo de animais silvestres, Ana Cecília é a 7ª universitária, entre alunos do último ano de biologia e veterinária, vindos de outros estados para estagiar no parque. “O mais interessante é que o zôo é procurado pelos estudantes, não precisamos nem convidá-los”, festeja. Segundo Dantas, esse é um indicador de que a instituição está se tornando uma referência no país. A parceria também acontece com instituições baianas.

Nos dois primeiros dias, Ana Cecília já teve “vivências inesquecíveis”. “Participei da necropsia de um cabritinho, ajudei na contenção de um macaco-prego e coloquei uma sonda para alimentar um papagaio”, conta entusiasmada. Em Maceió não há zoológicos, apenas criadouros conservacionistas geridos pelo Ibama. “Estou maravilhada com o trabalho feito nos recintos daqui”, afirmou. “Pretendo voltar para passar mais tempo”, planeja.

Estudos e pesquisas sobre comportamento, saúde e nutrição de animais silvestres, além de informações sobre função e funcionamento do zôo, são algumas das experiências vividas pelos universitários. “A nossa proposta é abrir espaço para ampliar o conhecimento”, explica Dantas, para quem a troca de dados técnicos e a capacitação, com orientação de um profissional, são fundamentais para o desenvolvimento acadêmico.

Ao final do estágio supervisionado, que pode ser curricular, o estudante deve fazer um relatório sobre sua passagem no parque. A alagoana pretende, anotar diariamente suas dúvidas, aprendizado, pontos positivos e pontos negativos, garantindo o máximo aproveitamento do estágio. ”Cada dia é um aprendizado”, afirma.

Êxito

O Parque Zoobotânico é procurado por alunos que buscam subsidiar monografias de conclusão de curso e trabalhos científicos diversos. Mas quem realmente ganha são a fauna e a flora do estado, através dos resultados que esses estudos trazem. São trabalhos sobre botânica, primatas, educação ambiental, animais herbívoros, herpetologia (estudo de répteis e anfíbios) e ornitologia (estudo de aves).

“Um bom exemplo é a pesquisa realizada no zôo para aprofundar estudos sobre a Toxoplasmose, doença causada por um protozoário hospedeiro de felinos, que atinge os seres humanos”, informa Dantas. Direcionada à prevenção de doenças e conhecimento clínico do plantel, a pesquisa foi realizada por uma estudante de engenharia ambiental das Faculdades de Tecnologia e Ciência (FTC).

Os estudos permitiram ainda a construção da árvore genealógica do grupo de macaco-prego-do-peito-amarelo (Cebus xanthosternos), que vive no zôo, e conhecer a taxa de crescimento do veado Sambar (Cevus unicolor). A educação ambiental é contemplada pelo esclarecimento do papel do zoológico de Salvador, no reconhecimento das espécies brasileiras ameaçadas de extinção, além da análise do comportamento dos visitantes em relação aos animais. Estudos sobre tráfico de animais silvestres também foram realizados.

Desde o ano passado, 60 estudos de relevância já foram desenvolvidos por estagiários do zôo, com a orientação da equipe do parque. Atualmente são 24 em atividade, dentre eles dois veterinários, três biólogos, dois agrônomos, um museólogo e uma arquiteta.