Há seis meses, quando deixou a casa dos pais, em Piritiba, e veio morar em Salvador para estudar e trabalhar, Micaele Prachedes, 18 anos, não imaginava que ingressaria no Programa Juventude Cidadã, do Ministério do Trabalho e Emprego, coordenado na Bahia pela Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte (Setre).

Freqüentando o curso há dois meses, ele conta que o primeiro módulo sobre cidadania e direitos humanos, abordou temas interessantes como direitos, deveres e como conviver com as diferenças étnicas, culturais e de sexualidade. "Não imaginava o quanto tudo isso pode ser importante para alcançar uma vaga no mercado de trabalho e, principalmente, para o nosso convívio na sociedade", revela Micaele, que soube do programa ao ir ao Centro Social Urbano do Nordeste de Amaralina, bairro onde mora.

O Juventude Cidadã é um dos cinco programas de qualificação do Governo do Estado, por meio da Setre e em parceria com outras secretarias estaduais, que atenderá até dezembro 47 mil trabalhadores em todo o estado. Os outros programas são o Plano Setorial de Qualificação (PlanSeQ) Nacional da Construção Civil e o de Tecnologia da Informação, o Plano Territorial de Qualificação Social e Profissional 2008 (PlanTeQ) e o Programa Escola de Fábrica.

A primeira etapa do Juventude Cidadã iniciou em 18 unidades escolares de Salvador, em junho, atendendo 2.440 jovens de 16 a 24 anos. As atividades acontecem no bairro onde reside o estudante que, ao se inscrever no programa, apresentou obrigatoriamente o comprovante de residência, já que não está previsto o fornecimento de vale transporte nessa primeira fase.

De acordo com a coordenadora de Projetos Especiais da Setre, Rosane Porto, a meta é atender 3.500 jovens na capital e outros sete mil jovens em 58 municípios do interior até o final do ano. Em Salvador, a secretaria tem o apoio de 13 entidades na execução do programa.

Com duração de nove meses e uma carga horária de 600 horas, o projeto desenvolve ações de formação em direitos humanos, cidadania, qualificação profissional e prestação de serviços voluntários à comunidade. Durante seis meses, período de aplicação do módulo do serviço civil comunitário, será oferecida a cada participante uma bolsa no valor de R$ 120.

No bairro do Nordeste de Amaralina, o curso é oferecido a 160 jovens e executado pela Avante-Educação e Mobilização Social. As aulas acontecem no CSU, pela manhã e, à tarde, na Escola Polivalente. Professora de inclusão digital, Vanessa D’Oliveira afirma que, além da formação pessoal, o curso amplia o conhecimento dos jovens na área de informática, focando sempre o mercado e trabalho.
Direitos

Moradora de Pau da Lima, Vanessa Santos Silva, 20 anos, confessa que, no primeiro momento, se interessou pelo Programa Juventude Cidadã por conta da bolsa-auxílio. Depois de 60 dias de aula, confessa que não tem dinheiro que pague o que tem aprendido. “Aqui, aprendi a valorizar o próximo e ter noção dos meus direitos e deveres”, afirma a jovem, que faz o curso executado pelo Pangea- Centro de Estudos Socioambientais, com mais 120 jovens na Escola Estadual Tereza Mata Pires, no Lobato.

Ela também destaca a importância do ganho de conscientização quanto aos cuidados com o meio ambiente. “Uma coisa que todo mundo fala e pouco pratica é a reciclagem. Agora sei que, além de ser ecologicamente correto, é um meio de sustento para muitas famílias. Hoje, já separo o lixo reciclável em minha casa”, orgulha-se Vanessa.

Experiência

Também participante do programa na Escola Tereza Mata Pires, Yallis Diego dos Santos vê no curso uma boa oportunidade para ingressar no mercado de trabalho. Ele aponta que o convívio com outras pessoas lhe ensinou a lidar com as diferenças. “Antes, não convivia com pessoas de outros bairros, que pensam e agem diferente. Tem sido uma ótima experiência”, relata Yallis, que mora no Lobato.

Crescimento como cidadão e o maior interesse do jovem pela formação acadêmica foram as principais conquistas apontadas pela educadora do Pangea, Sandra Cerqueira. “O projeto tem o papel de preparar esses jovens para o mercado de trabalho. Para serem bons profissionais, com visão crítica e desempenhar papel de transformadores”, acentuou.

A execução do Programa Juventude Cidadã conta com recursos do governo federal, por meio do Ministério do Trabalho e Emprego, que investe R$ 8 milhões. Em contrapartida, o Governo do Estado faz um investimento de R$ 9,5 milhões, provenientes do Fundo Estadual de Combate e Erradicação da Pobreza (Funcep).