A primeira etapa do campus de Juazeiro da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) foi oficialmente inaugurada ontem. Mais de R$ 34 milhões foram investidos na construção dos prédios, que possuem salas de aula, laboratórios, almoxarifado, instituto de pesquisa e centro de convivência.

Na segunda etapa, o local deve ganhar uma biblioteca e um complexo multi-eventos, ampliando sua área de 12 mil metros quadrados para 30 mil. A Univasf possui ainda mais dois campi – em Petrolina (PE) e em São Raimundo Nonato (PI) – também inaugurados durante uma solenidade com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e dos governadores Jaques Wagner, da Bahia, e Eduardo Campos, de Pernambuco.

Até o ano passado, os três campi funcionavam provisoriamente em outros espaços. As aulas, em Juazeiro, por exemplo, eram ministradas num local doado pela prefeitura da cidade. A Univasf, na cidade baiana, conta com 100 professores e aproximadamente mil alunos, distribuídos entre os cursos de engenharia elétrica, civil, mecânica, ambiental, de produção e de computação. A previsão é de que mais dois cursos (artes e ciências sociais) sejam criados no ano que vem, de acordo com o prefeito universitário da Univasf, Luiz Eduardo Marangoni.

Na solenidade de inauguração, em Petrolina, o presidente Lula falou sobre a meta de expandir a educação superior para todo o território nacional. "Não queremos formar doutores e pesquisadores apenas nas regiões metropolitanas dos estados. Queremos formar profissionais nas mais diversas áreas para trabalhar aqui e oferecer os melhores serviços para o sertão nordestino", disse. Também foi anunciado que o próximo campus da Univasf será construído no município baiano de Senhor do Bonfim, com a oferta do curso de ciências da natureza.

Integração

Criada em 2002 para atender ao semi-árido, a Univasf iniciou suas atividades acadêmicas em 2004 e oferece mais de 10 cursos nos campi dos três estados, entre eles, medicina, psicologia, administração, enfermagem e engenharia. Nesses quatro anos de funcionamento, cerca de R$ 80 milhões já foram investidos na compra de equipamentos, na constituição de um acervo bibliográfico e em obras de construção. Até o final da implantação, os investimentos totais na Univasf serão de aproximadamente R$ 94 milhões. A universidade conta hoje com três mil alunos e deve atender a um total de mais de quatro mil a partir de 2010.

"Essa universidade e o Velho Chico são duas obras que se complementam. A Univasf certamente vai pôr ainda mais em evidência o papel do São Francisco como o rio da integração nacional", comentou o governador Jaques Wagner, durante a solenidade, que contou ainda com a presença da ministra da Casa Civil da Presidência, Dilma Roussef.

O reitor da Univasf, José Weber Freire Macedo, explicou que a obra foi construída com muita dificuldade. "Em 2004, a universidade praticamente só existia no papel. Hoje ela é a maior universidade do sertão e eu espero que os filhos dessa terra não saiam daqui quando se formarem", destacou.

O presidente Lula e os governadores também visitaram, em Petrolina, o Hospital de Urgências e Traumas, que contou com R$ 29,3 milhões, do governo federal, para a sua implantação. O hospital, que começa a funcionar no dia 23 deste mês, tem a meta de atender a região do Vale do Médio São Francisco, formada por 55 municípios dos estados da Bahia e de Pernambuco – cerca de 1,8 milhão de pessoas ao todo, com a oferta de serviços nas áreas de neurocirurgia, ortopedia, terapia intensiva e tratamento de queimados. A idéia é que o hospital também atue como uma unidade de ensino da Univasf.

História de superação

Durante o evento, o presidente Lula leu o trecho de uma reportagem que falava sobre o estudante baiano Gilney Costa Santos, 19 anos, aluno do curso de psicologia da Univasf, no campus de Petrolina. Natural da cidade de Mutuípe, o jovem sempre estudou em escola pública e tinha dificuldade para pagar o cursinho pré-vestibular, ministrado em Santo Antônio de Jesus. O dinheiro do bolsa-escola custeou uma parte do valor, enquanto o restante do dinheiro veio por meio de amigos, que se solidarizaram com Gilney.

Com muito esforço, o rapaz conseguiu entrar na universidade e foi aprovado na Univasf. Mas como ele viria estudar em Petrolina sem dinheiro? Mais uma vez, ele contou com a solidariedade de professores e amigos para conseguir viajar e fazer a matrícula.

Sua permanência na cidade para fazer o curso foi possível graças ao projeto Conexões de Saberes, desenvolvido pelo Ministério da Educação (MEC), que lhe dá uma bolsa mensal de R$ 300. "Se não fosse esse projeto, eu certamente não estaria aqui. Hoje, eu agradeço ao governo e a todos que me ajudaram. Posso agora levantar a bandeira do povo negro da Bahia", disse Gilney, cuja história emocionou o presidente Lula.