Estimular o gosto pela leitura e pelo aprendizado, de um jeito diferente. Foi em busca disso que Daniele da Silva entrou na Jornada Ampliada do Peti – Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, quando tinha 13 anos. Hoje, aos 20, ela é monitora do Programa e transmite o que aprendeu a outras crianças.

“Falta oportunidade de lazer, de um aprendizado diferente para as crianças e eu encontrei no Peti a chance de aprender de uma forma mais lúdica e divertida, por isso entrei com 13 anos. Hoje eu troco experiências com meus alunos e aprendo muito com eles também”, declarou Daniele.

Assim como Daniele, cerca de 2.600 monitores em todo a Bahia fazem parte do Peti, um programa do governo federal através do Ministério do Desenvolvimento e Combate à Fome (MDS), que pretende eliminar o trabalho infantil do país. O Brasil é o primeiro país a adotar uma política específica contra a mão-de-obra infantil. Na Bahia o programa é executado há 11 anos em parceria entre o MDS, a Secretaria de Desenvolvimento Social e Combate à Pobreza (Sedes) e entidades sociais.

Além das 88 horas de formação, os monitores se reúnem periodicamente em Feira de Santana para um treinamento feito pelo Movimento de Organização Comunitária – MOC, uma instituição fundada em 1967, que trabalha com diversos projetos sociais na região do semi-árido. Nesse treinamento, os monitores escolhem um tema e traçam estratégias de ensino e definem assuntos para serem discutidas em sala de aula.

Depois da escola regular, crianças de 5 a 16 anos vão para a Jornada Ampliada, onde adquirem o gosto pela leitura, consciência crítica e valores éticos de forma lúdica e divertida. O diferencial da jornada é a metodologia, na qual os alunos aprendem a partir da realidade em que vivem.

“Nós trabalhamos com a educação contextualizada, o que quer dizer que as crianças aprendem a partir da realidade que elas conhecem e assim se identificam com o que estão estudando”, garantiu a coordenadora de Educação do MOC, Vera Carneiro. Vera disse ainda que essa metodologia faz com que os alunos consigam vislumbrar um futuro na região onde vivem, evitando assim, o êxodo rural.

Segundo a Sedes, o Estado é responsável pelo suporte técnico dos monitores e coordenadores regionais do programa, além de repassar recursos aos municípios. Já as instituições sociais têm a responsabilidade de fiscalizar o trabalho realizado no programa, além de direcionar ações de combate ao trabalho infantil na sociedade civil organizada.

“O Peti é um programa realizado em parceria entre os governos federal, estadual e dos municípios, além da sociedade civil. A perspectiva é que a gente consiga obter cada vez ajuda dessas entidades sociais organizadas para reduzir de forma considerável o trabalho infantil”, garantiu a coordenadora de Projetos Sociais Especiais da Sedes, Irani Lessa.

Através do Sispeti, um sistema que controla o cadastro das crianças no programa, 96.592 crianças estão identificadas como em estado de trabalho no Estado. Destas, 93 mil já estão em atividade no Peti. Segundo Irani, a partir deste mês começa a Caravana Estadual de Erradicação do Trabalho Infantil, com visitas aos 26 territórios baianos. A caravana deve durar cerca de seis meses e vai realizar reuniões com as entidades envolvidos no Peti, com o objetivo de fazer o monitoramento das ações do programa. A meta reduzir o trabalho infantil na Bahia em pelo menos 30%.

A expectativa é que, assim como outras ações de proteção social às crianças e adolescentes, o Peti seja transformado em política pública com ações continuadas a serem executadas regularmente por meio do Sistema Único da Assistência Social.