A Lavagem do Bonfim, primeira grande festa do verão de Salvador antes do Carnaval, mostrou, mais uma vez, ser o palco do sincretismo religioso e da diversidade da cultura baiana. Gente da terra, turistas, crianças e idosos curtiram a festa, cada um do seu jeito, enquanto os ambulantes aproveitavam para vender suas mercadorias. A estimativa é de que 1 milhão de pessoas participaram da festividade.

Logo cedo, às 7h30, mais de dois mil atletas deram a largada da Corrida Sagrada, maratona com o mesmo percurso do cortejo, da Conceição da Praia à Colina Sagrada, num total de oito quilômetros. “Sempre faço essa corrida. Para mim, acaba sendo uma mistura de esporte e religiosidade. É muito gratificante completar essa prova”, disse Angelina Nascimento, 43 anos, cadeirante e atleta.

O governador Jaques Wagner chegou à Conceição da Praia por volta das 9h. “Esta é uma grande festa popular e religiosa, onde baianos e turistas se unem pela paz”, declarou. Depois ele seguiu, junto com a primeira-dama Fátima Mendonça, secretários e outras autoridades estaduais, rumo à Colina Sagrada. No Largo de Roma, o governador fez uma parada para visitar e cumprimentar os pacientes do Hospital Santo Antônio, das Obras Sociais Irmã Dulce (Osid).

Para garantir a segurança durante o evento, o governo mobilizou um efetivo de 2.533 PMs na Operação Lavagem do Bonfim 2009, divididos em 317 patrulhas. Para regular o fluxo de veículos e pedestres e realizar abordagens preventivas para detectar armas e drogas, por exemplo, a Polícia Militar montou oito barreiras em vias que davam acesso ao trajeto da lavagem. Além disso, batalhões especializados reforçaram o esquema de segurança, como o Esquadrão de Motociclistas Águia.

Quem também aproveitou a concentração e o cortejo foram os vendedores ambulantes. Chapéus, camisas, óculos escuros, uma infinidade de lembranças da Bahia, e, é claro, as fitas do Senhor do Bonfim estavam à disposição dos fregueses, ao preço de R$ 1 a dúzia.

“Aqui no carrinho, tenho um pouco de tudo: figa, bolsinhas, prendedores de cabelo e, lógico, fitas do Senhor do Bonfim”, destacou o ambulante Renato Carlos da Silva, com seu ‘carrinho de café’ sonorizado e adaptado para a venda de souvenirs.

A diversidade cultural da festa podia ser atestada pelos grupos participantes. Além das tradicionais baianas, a Marujada, do município de Curaçá, grupos de percussão e de sopro, Filhos de Gandhy e até o ‘limoupalha’ (uma espécie de limousine com a carroceria de palha) compunham o cortejo.

Espontaneidade e alegria

A enfermeira Ana Helfer, natural do Pará e pela primeira vez participando da festa, afirmou que a Lavagem do Bonfim possui muitas semelhanças com o Círio de Nazaré, realizado na cidade de Belém no segundo domingo de outubro.

“As manifestações de fé e de religiosidade são muito parecidas, mas aqui a espontaneidade e a alegria das pessoas contagiam. São expressões bem brasileiras, autênticas. Gostei muito da festa e vou trazer amigos para cá no próximo ano”, disse a enfermeira.