Uma cirurgia inédita pelo Sistema Único de Saúde (SUS), que ocorreu nesta segunda-feira (13), na Unidade de Queimados, no Hospital de Cruz das Almas, marca a evolução do tratamento de lesões causadas por queimaduras de segundo e terceiro grau na Bahia. A primeira paciente a se submeter à cirurgia matriz de regeneração dérmica foi uma garota de 11 anos, que foi atingida no tórax e nas costas, em 2005, pela água quente do radiador do automóvel da família.

O procedimento, implantado pelo Governo da Bahia, por meio da Secretaria da Saúde (Sesab), em parceria com a Prefeitura de Cruz das Almas, consiste na retirada das cicatrizes da queimadura para inserção de pele sintética, que mais se aproxima da pele humana. Daqui a 20 dias, a garota será submetida a uma nova cirurgia de enxertia para recomposição área afetada pelo acidente.

Para o pai da menina, Kleber Machado, a cirurgia permitirá uma adolescência menos dolorosa para a filha. “O que mais quero é ver minha filha feliz e com auto-estima. Sei que essas cicatrizes se não retiradas podem gerar algum tipo de preconceito contra ela, no futuro”, afirma Machado, que acompanhou de perto a intervenção cirúrgica.

De acordo com cirurgião plástico Carlos Briglia, responsável pela intervenção e também Coordenador da Unidade Queimados de Cruz das Almas e do Centro de Tratamento de Queimados (CTQ) do Hospital Geral do Estado, em Salvador, a pele artificial, que é composta por colágeno de tendão bovino e silicone, estimula a recomposição da pele da própria paciente. O custo da cirurgia, segundo ele, é em torno de R$ 200 mil.

“É o material mais avançado na medicina, na atualidade, para tratar queimaduras. O procedimento que realizamos em Cruz das Almas é o mesmo realizado nos Estados Unidos”, afirma Briglia. A intervenção é indicada para crianças e adultos que tiveram queimaduras mais avançadas, a ponto de comprometer partes do corpo.

Referência

Cruz das Almas, a 146 quilômetros de Salvador, é o município que registra o maior número de queimados no estado. De acordo com o secretário municipal de Saúde, Raul Molina, isso ocorre por causa da localização de Cruz das Almas, que, segundo ele, é considerada uma área vermelha. “No entorno da cidade há um grande número de fábricas de fogos de artifício. Por esse motivo, foi instalada uma unidade avançada do Centro de Tratamento de Queimados do Hospital Geral do Estado aqui no município”, declara Molina.

O período de maior ocorrência de queimados registrado no Hospital de Cruz das Almas é entre junho e setembro, por causa dos festejos juninos. A cidade é famosa por ter, tradicionalmente, uma guerra de espadas durante o São João. A unidade de Queimados de Cruz das Almas possui 18 leitos, sendo cinco pediátricos, e utiliza os mesmos critérios técnicos do CTQ do HGE, atendendo aos casos de maior complexidade referenciados por outras unidades que atendem casos de urgência e emergência.