Elevar os níveis de produção e produtividade do rebanho leiteiro da Bahia, com ênfase na agricultura familiar. Esta é a meta da Secretaria da Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária (Seagri), por intermédio da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola S.A. (Ebda), que vem construindo, com os agricultores familiares baianos, inseridos na cadeia produtiva do leite, estratégias para validação de tecnologias de baixo custo e eficiência comprovada.

O secretário estadual da Agricultura, Roberto Muniz, analisa que a produção do leite precisa ser competitiva, com resultados satisfatórios para os produtores, colocando no mercado produtos de qualidade e com sanidade. Segundo ele, esses são alguns dos objetivos da Câmara Setorial do Leite, criada recentemente para debater e encontrar as soluções para o setor.

A Bahia tem o terceiro rebanho leiteiro do país, mas é o sétimo em produção, por causa da baixa produtividade dos animais. Para o secretário Roberto Muniz, este é um grande desafio a ser vencido, o que passa pela melhoria genética do rebanho, oferta de mais alimentos para o gado e estabilização do preço do leite.

Entre as ações desenvolvidas, destaca-se a de melhoramento genético de raças bovinas leiteiras, como a Gir, de linhagem leiteira, trabalhada pela Ebda na Estação Experimental do Paraguaçu, em Itaberaba, a Girolando, desenvolvida na Estação Experimental de Aramari, em Aramari, e a Guzerá, na Estação Experimental Cruzeiro do Mocó, em Feira de Santana.

Mais pesquisas 

Outras iniciativas da empresa têm sido quanto a pesquisas para atender a demandas específicas, tais como adubação de pastagens, controle de formigas cortadeiras, que destroem as pastagens, e formação de reserva estratégica para suplementação alimentar dos animais nos períodos de estiagem.

Sobre a pesquisa, o presidente da empresa, Emerson Leal, informou que foi aprovado, pelo Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq), o projeto Desenvolvimento e validação de um modelo de produção orgânica de leite, para a agricultura familiar, em bases agroecológicas, resguardando a biodiversidade local, que está sendo desenvolvido pela empresa em Aramari.

“O governo do Estado, por meio da Ebda, volta a investir em pesquisa agrícola, comprovando a sua visão de desenvolvimento aliado ao conhecimento científico”, comentou o presidente.

Estações experimentais têm foco na agricultura familiar e na sustentabilidade

Segundo o veterinário da Ebda, Antônio Vicente da Silva, a empresa vem conduzindo ações visando o ajuste das Estações experimentais para atender à agricultura familiar, com enfoque na sustentabilidade. A Ebda realiza também estudos sobre a diversificação e aproveitamento dos sistemas da agricultura familiar, em termos econômicos e ambientais.

O trabalho, voltado para a produção orgânica de leite, desenvolvido na estação de Aramari, é outra vertente adotada pela empresa. Os aspectos de sanidade animal envolvem a homeopatia e a fitoterapia, áreas em que a Ebda é pioneira e domina as tecnologias.

“A empresa tem, na homeopatia e na fitoterapia, alternativas de sustentabilidade para o controle dos principais problemas sanitários dos rebanhos, com baixo custo, e que refletem de forma positiva tanto na saúde dos animais como da família dos produtores e dos consumidores, além de permitir o equilíbrio do meio ambiente”, salientou Antônio Vicente.

Segundo a zootecnista e chefe da Divisão de Gado de Leite da empresa, Isa Porto, a Estação de Aramari estará recebendo, ainda este mês, a segunda visita de um consultor do Instituto Biodinâmico Botucatu, para certificação orgânica da estação.

Rebanho estadual

De acordo com o IBGE, em 2006, a Bahia contava com 118,39 mil produtores de leite. Em 2007, a produção média, por produtor, era em torno de 22,35kg/dia, ou 8,16 mil kg/produtor/ano. O atual rebanho estadual é constituído por mais de 11 milhões de bovinos e, em relação ao número de vacas ordenhadas – 1,77 milhão de cabeças -, a Bahia ocupa o terceiro lugar, perdendo apenas para Minas Gerais e Goiás. Embora seja o sétimo estado maior produtor de leite, do País, em termos de produção, por vaca ordenhada/ano, ocupa o 23º lugar, com 546kg de leite/vaca ordenhada/ano.

A descapitalização dos produtores, a dispersão das propriedades por todo o território baiano, a baixa produção de leite/produtor/dia e a insuficiência de técnicos capacitados em bovinocultura de leite e pastagens são fatores que, segundo o agrônomo e especialista em bovinocultura de leite, Cândido Nunes, influenciam diretamente na produtividade dos agricultores familiares de leite.

“Esta realidade levou a Ebda a estabelecer uma estratégia específica para modificar este quadro e inserir a agricultura familiar no negócio Leite, com competitividade, refletindo diretamente no quadro atual, em relação aos outros estados da federação”, enfatizou Cândido.

Ebda investe em capacitação de técnicos e agricultores familiares

Para o diretor de Pecuária da Ebda, Osvaldo Alves de Sant’Anna, não se faz assistência técnica sem conhecimento sobre o que se quer repassar e socializar com os agricultores. A partir dessa premissa, o diretor informou que a Ebda iniciou a capacitação de seus técnicos para que possam levar, aos agricultores familiares, conhecimentos específicos para que promovam as mudanças necessárias em seus sistemas de produção, possibilitando a exploração racional, tanto das pastagens como dos rebanhos, visando uma atividade econômica e ecologicamente sustentável.

“Só em 2008, a empresa assistiu 3.219 agricultores familiares inseridos na cadeia produtiva do leite, objetivando a elevação dos índices de produtividade, como forma, inclusive, de mostrar o potencial da pequena propriedade, a partir da utilização de técnicas/tecnologias apropriadas”, explicou o diretor.

Dentre os agricultores assistidos, 187 foram orientados, de forma intensiva, em tecnologias que contribuem para a elevação dos índices de produção/produtividade, tais como implantação, subdivisão, manejo e utilização de pastagens, de forma intensiva, implantação, manejo e utilização de forrageiras para formação de reserva estratégica, visando a suplementação alimentar dos animais nos períodos de escassez de pastagens, uso de cerca elétrica na subdivisão das pastagens, coleta de amostras de solo para análise laboratorial, para correção/adubação, em casos necessários e nutrição mineral do rebanho, dentre outras tecnologias. Os demais agricultores assistidos também foram orientados com outros métodos de extensão, tendo os mesmos objetivos.

Regiões de Teixeira de Freitas e Itabuna se destacam no aumento da produtividade

Os coordenadores do programa, Isa Porto, Cândido Nunes e Antônio Vicente Dias destacaram como resultados mais expressivos, alcançados em 2008, os das regiões de Teixeira de Freitas e Itabuna, onde houve um incremento médio de 60% na produção de leite nas propriedades assistidas intensivamente, existindo casos de mais de 100% de incremento.

Já em Eunápolis, destaca-se o trabalho desenvolvido no assentamento PA Maravilha, onde, na fazenda Aimoré, com a intensificação do uso das pastagens, 18 vacas em lactação passaram a produção de 80 para 200 quilos de leite/dia.

Outra experiência exitosa está na fazenda Boa Esperança, que, com o manejo das pastagens, aumentou a produção leiteira, de 23 vacas, de 130 para 187 quilos. Outros pequenos produtores obtiveram bons resultados na produção e produtividade de leite de suas fazendas, como na Granja União, onde, com 18 vacas em produção, os resultados passaram de 110 para 160 quilos de leite/dia, e ainda no lote Boa Esperança, do assentamento PA Produzir, que, com apenas cinco vacas em lactação, passou de 14 para 40 quilos de leite/dia, trabalhando com manejo intensivo em pequenas pastagens.

Assistência 

Para Isa Porto, no caso da bovinocultura de leite, que é muito pulverizada e quase que, na sua totalidade, explorada por agricultores familiares – 80% dos produtores de leite do estado -, é fundamental uma assistência técnica sistemática e eficiente.

“A atividade leiteira, na Bahia, é um desafio que só será vencido a médio e longo prazos, com investimentos tecnológicos, humanos e financeiros e muita determinação dos órgãos competentes e dos técnicos responsáveis, visando tornar o estado autossuficiente em lácteos”. Para Isa, os resultados já alcançados dão o respaldo necessário para que se continue com este trabalho que elevará os níveis de produção e produtividade do rebanho leiteiro baiano.