Fabricação de conversores digitais para recepção de sinais de televisão aberta, com perspectiva de serem comercializados pela metade do preço de mercado. Produção de medicamento efervescente à base de cálcio e vitamina C, hoje importados no Brasil e de novos fármacos a partir da peçonha de animais do semiárido. Desenvolvimento de um fio de polietileno de ultra-alto peso molecular, mais leve e mais resistente, para substituir o cabo de aço na ancoragem de plataformas que vão produzir no pré-sal, e robôs programados para realizar trabalhos perigosos e em locais de difícil acesso como a exploração de petróleo no fundo do mar e o desmonte de bombas e minas.

Esses e outros projetos estão sendo apoiados pelo Programa Estadual de Incentivo à Inovação Tecnológica (Inovatec). Trata-se de um Fundo instituído pelo Governo do Estado em 2005 e regulamentado em 2007, com o objetivo de promover o desenvolvimento da economia baiana, por meio de investimentos nas áreas de ciência, tecnologia e inovação.

Sob a coordenação da Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti), o programa dispõe de R$ 15 milhões anuais para investimentos no setor de inovação. Os recursos estão disponíveis, mas cabe aos empresários apresentarem propostas que agreguem soluções efetivamente inovadoras voltadas a alavancar o desenvolvimento sustentável da Bahia.

“O programa necessita de bons projetos que fomentem a base tecnológica do estado e sirvam como arcabouço para o Parque Tecnológico. Já sentimos resultados muito positivos como a motivação do empresariado. Isso é percebido a cada reunião do conselho com a quantidade de propostas, cada vez maior”, destaca o presidente da Secretaria Executiva do Inovatec, Robério Ronald.

Na última reunião do Conselho Deliberativo do Inovatec, no início de dezembro passado, foram aprovados cinco projetos com alto potencial inovador, em um investimento de R$ 10 milhões que contemplam áreas diversas do conhecimento e podem gerar muitos recursos e patentes para a Bahia.

Para o Instituto Federal Tecnológico da Bahia (Ifba, antigo Cefet), por exemplo, serão liberados R$ 1,4 milhão destinado à implantar o laboratório de dispositivos orientados por treinamento, parte do Polo de Robótica Emergente da Bahia. Já a Natulab Laboratórios, de Santo Antônio de Jesus, no Recôncavo baiano, obteve, aproximadamente, R$ 450 mil para a produção de um medicamento efervescente à base de cálcio e vitamina C, um novo produto para o Brasil.

Atualmente, este tipo de medicamento é comercializado no país por uma empresa multinacional que o importa da França. Segundo o diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Natulab, Olavo Souza Rodrigues, a média de tempo para que um novo medicamento cumpra as etapas de ensaios e testes até chegar à Agência Nacional de Vigilância Sanitário (Anvisa) é de 18 a 24 meses. Rodrigues observa que a intenção é oferecer um produto mais barato do que o atual.

Para ele, o apoio do Inovatec e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado (Fapesb), que mantém um programa de bolsas para pesquisas com a Natulab, é fundamental para um setor que exige muito investimento em pesquisa e desenvolvimento como a indústria farmacêutica, sobretudo para aquelas distantes dos grandes centros industriais. Hoje, a Natulab produz similares, genéricos e fitoterápicos.

Meta é patentear medicamentos

Instalada em Ilhéus, no sul do estado, a empresa Nortcom teve aprovado cerca de R$ 1 milhão para buscar tecnologia que reduza à metade o custo de conversores para a TV digital. A Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs) receberá do Inovatec R$ 1 milhão, para iniciar um ambicioso projeto de pesquisa do potencial das moléculas do veneno de animais do semiárido baiano.

“Essa verba permitirá a execução da primeira etapa do projeto, que é a aquisição de equipamentos próprios. Uma vez assegurados os recursos necessários, nossa meta é patentear novos medicamentos à base de peçonha de animais vertebrados e invertebrados, dentro de dois a três anos. O Inovatec representa o primeiro grande impulso de todo esse projeto que, em menor escala, já vem sendo desenvolvido há duas décadas”, afirma a professora Ilka Biondi, coordenadora do Laboratório de Animais Peçonhentos e Hespetologia da Uefs.

O maior projeto contemplado este ano pelo Inovatec foi apresentado pela empresa Ideom. São quase R$ 6,3 milhões para desenvolver, no Polo Petroquímico de Camaçari , o Fio de Utec, em busca de uma solução única no mundo para um fio de polietileno de ultra-alto peso molecular. Esse fio reúne as propriedades ideais destinadas à fabricação de cabos para ancoragem de plataformas de produção de petróleo na camada pré-sal.

Programa já liberou R$ 13 milhões para dez projetos

Em 2008, o Inovatec aprovou R$ 13,1 milhões, contemplando dez projetos. A maior parte da verba – R$ 7,4 milhões – está sendo destinada à implantação do Parque Tecnológico, em fase de construção na avenida Paralela, em Salvador. A Universidade do Estado da Bahia (Uneb) ficou com R$ 500 mil para atualizar sua base tecnológica.

A Universidade de Santa Cruz (Uesc) levou a mesma quantia para implantar o Laboratório de Pesquisa e Inovação de Materiais Avançados, enquanto a Universidade do Sudoeste da Bahia (Uesb) mereceu igual recurso para instalar o Laboratório de Desenvolvimento de Software, em Jequié e Vitória da Conquista.

Ainda no setor das universidades, a Uefs foi beneficiada com R$ 447,1 mil para viabilizar sua colônia de robôs autônomos e a Uneb contou com outros R$ 179,2 mil para o Laboratório de Pesquisas em Nanomateriais.

Também no Polo Petroquímico de Camaçari, a Quantas Biotecnologia foi contemplada com R$ 447 mil, recursos que vão ajudar a desenvolver um projeto que visa a geração de um produto inovador – o biopolímero hidrossolúvel goma xantana. A goma xantana é um polissacarídeo obtido pela fermentação da bactéria Xanthomonas e empregado na indústria farmacêutica e alimentícia como estabilizante, espessante e emulsificante.

Atualmente, o Brasil importa toda a goma xantana que consome, mesmo assim produzida à base da glicose do milho. Já a Portugal Telecom Inovação Brasil foi beneficiada com R$ 500 mil para um projeto na área de Tecnologia da Informação e Comunicação (pesquisa e desenvolvimento de softwares) a ser instalado no Parque Tecnológico da Bahia.

Inovatec aportou recursos para Escola de Ciências

Graças ao Programa Estadual de Incentivo à Inovação Tecnológica (Inovatec), o projeto de implantação em Serrinha, no Território do Portal do Sertão, do Centro de Educação Científica do Semi-Árido – nos moldes do Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra (IINN-ELS), no Rio Grande do Norte – já começou a sair do papel.

O Programa aportou, para a Associação Alberto Santos Dumont de Apoio à Pesquisa (Assdap), recursos no valor de R$ 1,5 milhão para a instalação do Centro, que tem o apoio do médico paulista Miguel Nicolelis, um dos mais renomados cientistas da atualidade, coordenador do laboratório de neurociências da Universidade de Duke, nos Estados Unidos e diretor do IINN-ELS.

O objetivo do Centro é incentivar as atividades de pesquisa e desenvolvimento e a produção e disseminação do conhecimento científico e tecnológico. Em audiência com o secretário estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação, Eduardo Ramos, a diretora de Projetos e Ações Sociais da Aasdap, Dora Maria de Almeida Prado Montenegro, disse que o Centro implantará oficinas e laboratórios de Ciência e Tecnologia, Ciência e Meio Ambiente, Ciência e Robótica e Ciência e Arte.

Ele vai atender a 400 alunos (200 no turno da manhã e 200 no turno da tarde) da 6ª à 8ª série, num período mínimo de dois anos, no Colégio Estadual André Negreiros. Atualmente desativado, o prédio teve a permissão de uso concedida pela Secretaria Estadual de Administração (Saeb).

Uefs terá Colônia de Robôs

Assessor de Relações Institucionais da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), o professor Washington Franca Rocha detalhou o projetos da instituição apoiado pelo Inovatec. Segundo ele, a colônia de robôs desenvolve o mesmo princípio da sociedade das formigas, ao permitir que um equipamento assuma a tarefa do outro, em caso de falha ou pane em um dos engenhos eletrônicos.

Essas máquinas podem ser empregadas na indústria do petróleo, em camadas inacessíveis ao homem, no manuseio de materiais perigosos, como em desastre ecológico e até no desmonte de bombas, dentre outras atividades.

Os kits para a confecção dos robôs serão importados, mas a programação e o desenvolvimento serão feitos por uma equipe de professores do Departamento de Computação Gráfica da Uefs, dentre eles, especialistas em controle e automação, sistema inteligente e sistema de energia.

O projeto piloto pretende disponibilizar dois robôs programados para o trabalho em qualquer superfície. Para o projeto da colônia de robôs, o Inovatec disponibilizou R$ 437,1 mil.

Fundo potencializa produção científica e tecnológica

Instituído pela Lei nº 9.833, regulamentada em 2007 pelo Governo do Estado, o Inovatec prevê um investimento de R$ 15 milhões anuais, que serão aplicados em projetos de empresas e instituições que tenham potencial inovador. O principal foco é o investimento em máquinas, equipamentos e instrumentos que potencializem a produção científica e tecnológico. Este é um dos instrumentos que servirá para alavancar o Parque Tecnológico de Salvador, mas vai muito além na ampliação da base tecnológica do estado.

A maior parte dos recursos provém do Fundo de Investimento Econômico e Social da Bahia (Fies), mas pode haver investimentos da Desenbahia e outros parceiros poderão se integrar ao programa. O objetivo do Inovatec é o desenvolvimento científico e tecnológico com bases sustentáveis, a partir da inovação.

Apoiar ações inovadoras facilita o surgimento de produtos e processos que contribuem na geração de emprego e renda e no aumento da arrecadação, formando um círculo virtuoso. Os empreendedores que tenham interesse em participar encontram todas as ferramentas para a submissão na internet, pelo site www.secti.ba.gov.br – no link Inovatec.